Novamente os bairros de periferia não têm nada a comemorar no Dia Nacional da Consciência Negra, especialmente quando focamos as várias formas de violência contra a população negra do país.
O histórico de violência é longo e a cada momento isso se demonstra, às vezes de forma menos visível e às vezes de forma evidente que, de forma tão cruel, retira máscaras. E as formas de violência capitalista e racista são várias.
A cada vez que os patrões querem lucrar mais e criam uma crise, intensificam as formas e os métodos de violência.
Violências causadas pelo lucro e pelo exploração
Uma das formas de violência é o aumento da exploração e o desemprego (nessa sociedade de consumo que precisa de dinheiro para tudo) que corroem a vida e a própria existência. Ao observarmos o índice de desemprego entre os jovens, somente em 2019, é de 27%. Enquanto a média geral é de 11,8%. E o desemprego entre a população negra tem o índice de 14,9%.
Esse desemprego interfere diretamente no aumento da pobreza. Forma violenta para descartar não só o que tem de humano nas pessoas, mas as próprias pessoas e que se espalha pelas periferias do país.
Somente no últimos anos a pobreza passou de 25, 7% para 26,5% (rendimento médio de 420,00/mês). O número de pessoas extremamente pobres subiu de 6,6% para 7,4% (rendimento médio de 140,00/mês). E o número abaixo da linha de pobreza registrou cerca de 25,3% (rendimento médio de 89,00/mês) e desses 72,7% de negros e pardos.
Nos últimos sete anos, mais de 500 mil pessoas entraram para a situação de miséria. Enquanto isso, somente no último ano, o 1% mais rico do Brasil teve um aumento nos ganhos de 8,4% (rendimento médio de 27.774,00/mês). É muita desigualdade. É muita exploração.
Com tudo isso (e aqui ainda não estão todas as formas de violência que o capitalismo utiliza), que se intensifica cada vez mais para aumentar a exploração de quem precisa trabalhar para produzir riqueza, tanto os patrões quanto os governos tiram cada vez mais direitos, criam mais leis ou mudam as que têm para impor o que querem e aumentam a repressão para controlar qualquer tipo de ação, revolta ou manifestação da periferia (que é a maior parte da classe trabalhadora) contra as várias formas de violência.
Violência necessária com seus métodos
A repressão ou seu aumento é, então, uma outra forma de violência e que os governos precisam utilizar para reprimir, impedir manifestações, impor as suas leis e controlar tudo o que as situações de exploração, de desemprego e de miséria são capazes de fazer quando acaba a paciência da periferia (maior parte da classe trabalhadora superexplorada).
E mais do que uma forma de violência, utilizada ao longo da história, traz vários métodos e um deles é o assassinato de negros na periferia, especialmente jovens.
O Brasil é responsável por 10% das mortes no mundo, são mais de 58 mil pessoas/ano. A política de segurança pública no país está totalmente atrelada à repressão, ao extermínio e tem como inimigo o jovem negro da periferia.
Conforme dados divulgados recentemente, para cada 100 mil habitantes, 43 assassinatos são negros e 16 não negros. No último ano, 75% das vítimas de homicídio são negras e há 10 anos atrás eram de 63,3% (o assassinato de negros aumentou 10 vezes mais e de jovens negros é 3 vezes maior que de jovens brancos).
Cadê o Lucas? Um Método de Violência utilizado contra nós
O Lucas, jovem de 14 anos, residente na Grande São Paulo, desaparecido desde o dia 11/nov, faz parte dessa cruel realidade. Além de ser filho da classe trabalhadora, da periferia, é negro.
O nível de crueldade é tão intenso que, durante esse período de sumiço, a família já foi chamada para reconhecer outros dois corpos. Enquanto o terceiro aguarda ainda um laudo de DNA que poderia já ter sido realizado em horas. São 3 corpos negros, encontrados em bairros próximos, na periferia da Santo André, em poucos dias.
Encontrar quem mata na periferia pode levar a uma série de levantamentos e debates. No entanto, os dados apontados indicam que, somente no primeiro semestre de 2019 em SP, das 2.037 mortes violentas em 432 os policiais foram autores. E com denúncias do Condepe (Conselho Estadual Direitos da Pessoa Humana) de autuações com abordagens não fundadas em suspeitas.
Tem sido por isso, pelo fato de sido levado da frente de sua casa, por algumas evidências e por diversas declarações que, tanto a família quanto a comunidade, suspeitam e denunciam a violência da Polícia Militar no caso do jovem Lucas.
Isso significa que o governo do estado, João Dória, segue o mesmo caminho percorrido por governos anteriores e também pelo governo de Bolsonaro. A cada ano aumentam o desemprego e a miséria nas periferias que, além de retirar direitos e criar mais leis autoritárias, recebem a repressão e o assassinato como método de redução do “perigo de explosões sociais e de perda de paciência” dessa parcela da classe trabalhadora.
Como dissemos, o capitalismo é desigual, racista e criminoso. E sempre que governos e patrões necessitam intensificar a exploração para aumentar os lucros, aumentam a desigualdade, o racismo e os crimes. Com esses governos autoritários a situação tende a piorar.
Por isso, viver na periferia é uma forma de resistência e deve ser também o local para organizar a luta coletiva contra as várias formas de violência e, pelas nossas mãos, destruir essa sociedade que necessita de tudo isso para se manter.
Unir as lutas contra a exploração e o racismo à luta contra o extermínio da parcela jovem e negra da classe trabalhadora é a nossa saída! Viver é resistir!
Queremos saber, onde está o Lucas? Por que os seus pertences foram encontrados em local diferente de onde foi levado? Por que o policial que o levou continua trabalhando e a família continua sem informação? Exigimos punição dos envolvidos! Contra a política de segurança pública dos governos Dória e Bolsonaro. Não aceitamos políticas de extermínio da população!