O 4º Congresso da Central Sindical e Popular – CSP Conlutas, realizado entre os dias 3 e 6 de outubro, poderia ser um marco na construção e fortalecimento dessa central sindical, mas, como tem ocorrido em outras centrais, a força política majoritária preferiu se esforçar mais na consolidação de sua hegemonia e menos em uma política de unidade da esquerda anticapitalista para impulsionar a classe trabalhadora na luta contra o governo, os ataques aos direitos e toda a ofensiva da direita e da burguesia.
Faltou um plano de lutas
A conjuntura exige unidade e fortes ações políticas para reverter os ataques aos nossos direitos. Bolsonaro e Paulo Guedes já preparam novas medidas como a Reforma Administrativa para diminuir os serviços públicos e acabar com a estabilidade do funcionalismo; a Reforma Tributária para aumentar os impostos para os pobres e diminuir para os ricos.
E ainda tem o desemprego, as privatizações, a precarização do trabalho e o aumento da miséria, dentre outros. Situação que coloca para os movimentos sociais, de luta e anticapitalistas, principalmente a CSP Conlutas, a obrigação de organizar a resistência junto com a classe trabalhadora. Mas, o Congresso não avançou nesse ponto.
Faltou uma campanha nacional em defesa da Petrobrás 100% pública
Também saímos do Congresso sem um plano e uma orientação precisa para que as entidades de base e a classe trabalhadora de conjunto sustentem a luta contra as privatizações, em especial em defesa da Petrobrás que está sendo entregue ao capital privado.
Essa tarefa não é somente de Petroleiros, é de todas as entidades de luta e da classe trabalhadora tanto para derrotar os planos de Bolsonaro/Guedes de privatização quanto para construir, fortalecer e apoiar a greve de Petroleiros. O resultado dessa luta é tão importante que influenciará na correlação de forças e no enfrentamento entre trabalhadores, burguesia e governo.
Ainda há tempo para reparar esse erro e levar essa campanha às ruas.
Encontro Nacional de Base: não esperar a burocracia sindical
Defendemos no Congresso a necessidade de realização de um Encontro Nacional da Classe Trabalhadora, além do Congresso da CSP, como forma de tentar envolver mais categorias, desempregados, por conta própria e também tentar recompor e unificar forças de esquerda anticapitalista do movimento sindical.
Um Encontro preparado a partir dos locais de trabalho, estudo e moradia, ou seja, pela base e não pelas cúpulas, a fim de nos organizarmos, classe trabalhadora, para conseguirmos barrar os ataques desse governo.
Mas, a direção majoritária optou por votar e priorizar um acordo com as cúpulas das centrais pelegas quando diz que “Se as cúpulas das maiores centrais e de diversas organizações (…) tivessem o compromisso de realmente defender os direitos e impedir os ataques do governo, seria o caso de realizar unitariamente um Encontro Nacional de Base de toda a classe trabalhadora e setores populares para organizar a luta”.
É ilusão achar que CUT, CTB ou Força Sindical vão organizar a base das categorias, pois já são parte da gestão do capital e estão perdidas para a luta de classes.
Cabe à Central construir esse Encontro e tentar organizar com as Intersindicais e a Unidade Classista, que estão no campo da esquerda anticapitalista. É urgente avançarmos na organização para enfrentarmos a situação em que a classe trabalhadora de conjunto se encontra.
A democracia operária entre o discurso e a prática
A CSP Conlutas tem por princípio a democracia interna, mecanismo para garantir a expressão de todas as posições políticas e para evitar monopólio da Central por uma força política. A ideia é não repetir o processo de burocratização da CUT. Nesse aspecto o Congresso também retrocedeu. Apenas dois elementos:
– A insistência de realização de burocráticos painéis, introduzidos no movimento pela CUT já burocratizada, em que os palestrantes monopolizam o debate e demais participantes ficam na condição de passividade, cabendo-lhes só escutar. Para garantir esses painéis é tirado tempo de funcionamento dos Grupos de Trabalho, espaços para as bases das categorias levarem suas demandas.
Nesse Congresso essa questão ficou pior porque a “mesa de conjuntura” tinha, por imposição da direção majoritária, apenas duas pessoas, o que boicotava a participação de demais forças políticas.
– A defesa de propostas em Plenárias sofreu ainda mais com a falta de democracia. Era necessário que as propostas tivessem ao menos 10% de votos nos Grupos de Trabalho para irem ao plenário. Mas, com o objetivo de impor a aprovação de suas propostas, a direção majoritária impôs um funcionamento em que votações de propostas semelhantes ocorressem em oposição uma com a outra. Também objetivava manter fragmentadas as propostas de minorias, impedir que se unificassem e até o debate real. Consideramos como manobras essa forma de conduzir o Congresso, ataque à democracia interna, realizadas para assegurar o controle pela direção majoritária.
Uma central em crise
Esse foi o menor e o mais despolitizado Congresso da CSP Conlutas. O número de delegados não se explica somente pelas dificuldades financeiras dos sindicatos, há um aprofundamento da crise política da Central. Muitos sindicatos optaram por não participar por não verem importância em fortalecê-la.
É um problema que a direção majoritária, com uma postura auto proclamatória, nem reconheça a existência da crise. É necessário recompor a unidade da Central.
– A Central perdeu influência política. Há risco de desfiliação, por força de oposições cutistas, em entidades como o SINASEFE e ANDES. Ocorreu a filiação de novas entidades, mas com base de representação muito pequena.
– Não conseguiu liderar mobilizações significativas e mesmo na luta contra a Reforma Previdenciária não teve forças para impulsionar uma luta independente das direções pelegas;
– A unidade entre as correntes políticas na Central está fragilizada. São diferenças políticas, mas a corrente majoritária busca mais a ruptura do que a necessária e urgente unidade;
– Há atos burocráticos como manobras nos estados/entidades para se tornar maioria, por exemplo, e pouco se avança na ida à base das categorias. Evidente que as correntes minoritárias também têm responsabilidades quando se abstêm da luta política e do combate a esses métodos;
– Por fim, insistimos na ausência de uma política para as massas de trabalhadores, para categorias como a de Petroleiros e na falta de deliberações e calendários para um Encontro Nacional de Trabalhadores.
Unidade “com todos” para lutar. E a unidade da esquerda anticapitalista?
Considerando todos esses elementos pensamos que o Congresso deu um passo atrás em várias questões, principalmente em relação à unidade da esquerda, ponto fundamental na atual conjuntura. O apelo à CUT e demais centrais sindicais pelegas é ilusão e serve para atrasar a luta. Nós defendemos a constituição de uma Frente de Esquerda Anticapitalista na luta contra a crise e todos os ataques aos direitos da classe trabalhadora. É hora de andarmos com as próprias pernas.