O Brasil é um países onde a categoria do magistério é uma das mais desvalorizadas, em todos os sentidos. Principalmente quando pleiteia seus direitos.
Todas as categorias de trabalhadores/as fazem greve. Mas, a única cujo profissional é chamado de “vagabundo” é a de Professor, pois, aos olhos da sociedade, não podemos deixar de dar as aulas. Opa! Aulas? Que aulas? Ser professor, hoje, equivale a ser um cuidador de crianças. E a escola acabou por tornar-se um depósito de seres humanos.
Somos a categoria que ensina para que os cidadãos façam da sociedade um espaço melhor e, em troca, tratam-nos como serviçais, idiotas manipuláveis, fazendo do espaço escolar uma troca de favores, um toma-lá-dá-cá, num jogo político que nos rebaixa.
Somos tão desrespeitados que até querem confiscar a nossa autonomia pedagógica! Querem nos dizer como dar nossas aulas, que conteúdos os estudantes devem receber, como se fosse possível mensurar, limitar o conhecimento!
Querem nos tirar o que temos de mais gratificante, o que nos impulsiona a continuar nesta luta, diariamente: observar o desenvolvimento pleno de um ser humano, muitas vezes chegando a superar todas as expectativas, ultrapassando todos os obstáculos impostos por uma sociedade tão desigual e discriminadora.
A verdade é que a escola, como instrumento ideológico, é uma ameaça à classe dominante. Por isso, sempre foi alvo a ser atacado pelo Estado repressor em vários estágios da civilização.
“Penso; logo, existo” disse Descartes. Eis o grande problema para aqueles que querem nos limitar. Pensar, refletir, inferir, argumentar, refutar e tantas outras atividades mentais são realizadas nas escolas, nos colégios, nos centros de pesquisa, nas universidades.
E isto é ameaçador porque, ainda que muitos de nós não tenham essa consciência, ou queiram furtar-se à responsabilidade de reconhecê-la, somos a única profissão que está diretamente vinculada ao desenvolvimento cognitivo do ser humano e, dessa forma, sim, temos o poder de mudar o mundo.
O grande pedagogo Paulo Freire, nosso patrono de hoje e de sempre, já dizia: “A Educação transforma pessoas; pessoas transformam o mundo”.
Por isso, o movimento do Escola Sem [?] Partido – mais um instrumento que as mentes ignóbeis inventaram para tolher a relação intrínseca educador-educando – está, hoje, questionando a autonomia pedagógica, tentando limitá-la ou, mesmo, eliminá-la através de vários meios de repressão, tal como o patrulhamento ideológico imposto aos professores.
Mas não só a estes.
Na verdade, o principal alvo desse ataque não são os professores, não. São as crianças, os adolescentes e, mais especificamente, os jovens dos colégios estaduais que, durante os anos de 2015 e 2016, ocuparam as escolas e denunciaram o abandono em que a Educação se encontrava!
Há tantos vídeos e fotografias desse verdadeiro levante estudantil para provar não só que este abandono é um fato até hoje, mas também as violências perpetradas pelo Estado Policial que rege, hoje, a nossa sociedade, as múltiplas violações direitos a que esses estudantes, maioria filhos da classe trabalhadora, tão explorada, são constantemente submetidos.
Enquanto educadores, os professores têm duas importantes tarefas atualmente:
- impedir que o direito ao estudo, ao desenvolvimento do conhecimento (porque cada indivíduo traz uma história de aprendizado própria, não sendo, portanto, uma folha de papel em branco, como muitos querem induzi-lo a se entender dessa forma) seja controlado por uma ideologia escravizadora e autoritária, imposta pelo Estado;
- contribuir para proporcionar o salto de consciência de classe aos tantos educadores que, com os olhos vendados pela ilusão da sociedade consumista em que vivem, ainda não se deram conta de que fazem parte da classe trabalhadora e precisam lutar para conquistar e manter seus direitos.
No entanto, para que tão importantes tarefas tenham êxito, é necessário que estejamos unidos, focados, comprometidos em reconduzir a Educação para o seu verdadeiro objetivo: o de proporcionar, aos filhos da classe trabalhadora, aos que nos sucederão, um ensino de liberdade para pensar, fazer e ser o que quiserem, tornando-se sujeitos da própria existência.