Leo (RJ)
No dia 29 de maio, foi realizada a quinta e maior Greve Geral contra o governo Macri. A Greve foi para protestar contra a política econômica e inicialmente foi puxada pela CGT (Confederação Geral do Trabalho).
Com a grave crise econômica e social (desemprego, pobreza, etc.) e um movimento sindical em ascensão, o governo de Macri, claramente apoiado pelos Estados Unidos, segue fragilizado.
Neste contexto, a visita do presidente brasileiro de extrema-direita, Jair Bolsonaro, à Argentina para lhe dar apoio de nada adiantou, pois Bolsonaro foi hostilizado por manifestações dos argentinos contrários a sua presença.
Uma das principais reivindicações da Greve Geral foi cobrar medidas para amenizar o impacto da inflação (47% em 2018 e quase 15% no decorrer deste ano), além de mudanças na economia para conter os aumentos.
O governo tentou evitar a Greve, liberando mais de dois bilhões de pesos, para reforçar a assistência social aos sindicatos. Mas, isso não adiantou para segurar o ímpeto dos trabalhadores argentinos. Depois de quatro horas de reunião, a decisão dos sindicalistas foi unânime pela Greve.
Parou tudo
O país parou, praticamente, por completo, com greve em todo o sistema de transporte (ônibus, trens, aviões e barcos). Em Buenos Aires, o metrô também parou. Também fecharam bancos, escolas e o comércio, só os hospitais atenderam as emergências. Em suma, boa parte das cidades ficou deserta.
Esta Greve Geral reuniu todos os sindicalistas e movimentos sociais contra o Governo Macri e suas políticas. Com uma popularidade baixa, inclusive gerando desconfiança entre os seus pares, que já não sabem se Macri é o melhor nome da frente “Cambiemos” para as próximas eleições em Outubro. O processo de mobilização é mais um elemento para a crise política que passa o governo.
Uma grande particularidade dessa Greve, segundo Hugo Yaski (Secretário Geral da CTA, outra central sindical, ruptura com a CGT e que reúne os sindicatos Peronistas) foi que, pela primeira vez, na história do país, uma Greve Geral foi chamada e apoiada por todas as centrais de trabalhadores e movimentos sociais, o que por si só, já comprova a força da Greve.
Outro sinal de que o movimento foi bem forte foi a falta de combustível, não houve coleta de lixo, não havia dinheiro nos caixas eletrônicos e não houve distribuição de alimentos, pois os caminhoneiros argentinos também pararam. E, também, foram cancelados mais de 400 voos que sairiam do País, ou que iriam para lá. As empresas aéreas brasileiras Gol, Latam e Azul também suspenderam suas viagens.
O FMI e o arrocho salarial
É importante lembrar que, em setembro do ano passado, havia sido realizada a última Greve Geral no país. E, naquela ocasião, os trabalhadores alertaram de forma clara o governo, que então negociava um empréstimo com o FMI, que este organismo internacional, em contrapartida iria cobrar “ajustes” na economia Argentina, que iriam afetar em especial os mais pobres. Foi o que aconteceu.
Para o empréstimo de 50 bilhões de dólares, o FMI exigiu do governo medidas como uma nova Reforma da Previdência, Banco Central “independente” do poder político subordinado diretamente ao FMI; redução de impostos para os empresários e também “uma legislação trabalhista moderna”, ou seja, nova reforma trabalhista para retirar os poucos direitos trabalhistas existentes (flexibilização laboral, limites para a ação dos delegados sindicais e membros das Comissões Internas, etc.).
Como era de se esperar, o governo fechou o acordo e se propôs a impor as medidas econômicas e seguir a cartilha do FMI. Para evitar se desgastar ainda mais, algumas dessas medidas deverão ficar para depois das eleições de outubro. Qualquer semelhança com o Brasil não é mera coincidência!
O péssimo resultado desse acordo já vem aparecendo. O desemprego passou de 9% em Março e com a maioria dos empregos precarizados. A inflação já acumulado quase 55% nos últimos doze meses. Nesta situação, e com o fim dos subsídios, boa parte da população já tem dificuldades de pagar as contas mais básicas, como água, luz e gás e até mesmo de poder fazer uso do transporte público.
Crise econômica amarra as mãos de Macri
O governo Macri ainda tentou lançar um pacote de medidas para diminuir o descontentamento do povo e preservar seu nome para as eleições. Faz parte dessas medidas o retorno de planos de assistência e o congelamento de preços de uma gama de alimentos da cesta básica, mas há falta dos alimentados com preços congelados.
Macri também tentou negociar com os sindicalistas um plano de descontos para pagar compras em supermercados para os assegurados do ANSES (a previdência argentina) e algumas outras compensações para trabalhadores sindicalizados. Esta manobra, entretanto, não deu resultados e foi uma clara tentativa de enfraquecer a paralisação. Mas, os trabalhadores mantiveram a Greve e não caíram no jogo do Governo.
A dívida pública, como no Brasil, torna o país refém das políticas ditadas pelos especuladores internacionais. De mãos amarradas com o compromisso com o FMI, tem que escolher entre os programas sociais e pagar a dívida. Como todo governo liberal, fica com os banqueiros e especuladores.
Podemos assim traçar um paralelo com o Brasil já que aqui Bolsonaro segue à risca as ordens do Sistema Financeiro Internacional, aplicando cortes em assistência e redução das políticas de desenvolvimento social (vide os cortes na Educação Pública), o que ocasiona o aumento das desigualdades sociais e do desemprego. Portanto, lá como aqui (onde realizamos uma forte greve geral, ainda que inferior à dos “hermanos”), o processo de lutas não pode ser canalizado para a luta eleitoral, como quer o kirchnerismo e o lulopetismo e sim deve apontar para uma nova Greve Geral.
A crise social na argentina
O liberalismo – o mesmo de Bolsonaro e Guedes- afunda a Argentina no caos social.
- 32% dos argentinos são pobres. Em apenas um ano, 2,7 milhões de pessoas caíram para baixo da linha de pobreza;
- 51,7% de pobreza infantil (2018) ou 6,1 milhões de crianças e adolescentes;
- 13% das crianças e adolescentes enfrentaram insegurança alimentar severa, ou seja, passaram fome;
- 800 mil pessoas estão na indigência;
- O valor da aposentadoria mínima de cerca de 70% aposentados do país é de 10.400 pesos (R$ 940);
- A taxa de desemprego é de 9,1%, o maior desde 2005 e crescendo ano após ano.
- 27,2% tem emprego precário e outros 18,6% estão subempregados (temporários, programas sociais com contrapartida, etc)