Era fácil encontrar Tonhão. Greve de professores, manifestação do movimento popular, ocupação estudantil, piquete de greve, solidariedade a algum militante em dificuldade financeira, um sarau do movimento, enfim, onde tinha movimento e luta contra o capital lá estava Tonhão.
Vice-prefeito de Diadema na primeira gestão petista do país em 1982, recusou os gabinetes para lutar nos bairros e em sua categoria, a de professores de São Paulo.
Por conta da luta em defesa da Educação Pública foi demitido pelo governador tucano Mário Covas e proibido de exercer cargo público, mesmo sendo aprovado em inúmeros outros concursos.
A pressão do desemprego não o fez desanimar, ao contrário, parecia ter ainda mais força para mostrar o quanto essa democracia não tem nada de democrático. A presença nas lutas o fortalecia e também dava aos demais o exemplo de que a opção pela luta pelo comunismo deve seguir mesmo nos piores momentos.
Também não cedeu para a burocracia cutista. Não media palavras para lutar contra manobras e traições.
Com os seus quando era necessário também polemizava muito. Mas era honesto, sincero, carinhoso com todos. Não desrespeitava, não era arrogante. E não deixava ninguém para trás. Era, na melhor expressão da palavra, um Camarada.
Para sobreviver inaugurou a atividade de vender nas assembleias e nas atividades do movimento primeiro as fitas de VHS e depois DVD’s quando esses generalizaram. Era para sobreviver, mas alguém não ter dinheiro naquele momento não ficava sem levar o filme.
E não era qualquer filme. A arte que disponibilizava deveria, além de ajudar no seu sustento, ter alguma qualidade, ser educativa. Era criterioso. E tinha muito material que o mercado tinha excluído e ele “ressuscitava”. E falava com alegria.
Não poucas vezes a repressão policial retirava filmes e DVD’s, mas na próxima lá estava ele com aqueles títulos e outros mais.
A generosidade era gigante. Também gravava e repassava matrizes para outros militantes em dificuldades.
A descoberta da doença que ele enfrentou com a mesma valentia que enfrentava a burguesia e a repressão não o tirou da luta. Nas manifestações da classe trabalhadora – em especial a de professores- lá estava ainda mais forte. Foram anos de resistência à doença e a desumanização reinante no capitalismo.
Nos últimos dias, já bastante fragilizado, organizou mais uma manifestação em frente ao Hospital das Clínicas para denunciar os cortes de verbas dos governos Doria e Bolsonaro na saúde, o que levava a um tratamento mais barato e com muitos efeitos colaterais. Lutava pela defesa de um tratamento digno para os pacientes terminais que o sistema de saúde de São Paulo abandonou porque o governo cortou o fornecimento de medicamentos de alto custo.
Também não aceitava saídas individuais. Recusou ajuda jurídica em ações judiciais para obrigar o Estado a fornecer esses medicamentos necessário ao seu tratamento. A rua era o lugar dessa luta. E a luta só poderia ser coletiva.
Esse é Tonhão. Nos deixou nesse 8 de agosto. Estamos fragilizados, mas o seu legado, os seus exemplos, os seus sonhos servem de apoio para seguirmos na luta. E lutar contra o capitalismo e por uma sociedade sem classes sociais é a nossa melhor homenagem a esse guerreiro da humanidade.
Tonhão
Um camarada
de luta e de lutas
que não queria ser
e por isso era mais
do povo, radical
duro
e suave como a brisa da primavera.
Foi – se
mas será eterno
na História.
(Massaru, 08/08/2019)