São várias vacinas pelo mundo que estão em fase de testes avançados. Mais de 200 pesquisas estão em andamento, sendo que 11 estão na fase final de testes, inclusive algumas produzindo, como é o caso da Pfizer (em parceria com empresa de biotecnologia alemã BioNTech) e já disponibilizada para a população no Reino Unido.
A corrida por quem oferece primeiro e em maior quantidade também está relacionada ao tamanho do negócio. São mais de 7 bilhões de pessoas no mundo e a aposta inicial é que sejam necessárias 2 doses, ou seja, um mercado de 14 bilhões de doses. A que promete ser a mais barata é a Sputnik V (desenvolvida pela Rússia) custará U$10 por dose, ou seja, considerando que atendesse toda a população mundial seriam U$ 280 bilhões de dólares (1 trilhão e quatrocentos bilhões de reais). Segundo a empresa Moderna (vacina mRNA-1273) a sua vacina custará entre 25 e 37 dólares cada dose.
Todas as empresas querem uma fatia desse grande bolo.
Há ainda o elemento de preservação. Afinal, já são centenas de milhares de mortes (em 12/ 12 eram 1.604.516, metade nas Américas). A questão de classe social também deve ser considerada, pois a COVID-19 não é uma “doença de pobre” como a dengue e a chikungunha que proliferam mais em áreas sem saneamento básico e onde as moradias são precárias. O avanço rápido e descontrolado forçou muitos governos a medidas inimagináveis há alguns meses. Procurando salvar a própria pele (burgueses também podem se contaminar e morrer…) foram “forçados” a deslocar capital para desenvolver medicamentos contra o coronavírus.
Outra questão de fundo é a existência de tecnologia “escondida pelos laboratórios” e também o conhecimento para avançar nas pesquisas sobre outras doenças. Situação que coloca questões políticas e morais, como exigir dos laboratórios que tornem público todo esse conhecimento, pois se trata da preservação da Vida.
Por que não há tantas pesquisas com outras doenças?
Nesse caso concreto, a velocidade do desenvolvimento (ou a possibilidade) da vacina em tão pouco tempo pode ser explicado pela certeza do lucro. É o que motiva uma empresa. Salvar vidas, bem-estar humano só contam se acompanhados de lucro. É a lógica do Capitalismo.
Ao terem como prioridade o lucro, as pesquisas são direcionadas para curar ou controlar a doença, o que for mais lucrativo. Doenças graves e mortais, mas que atingem apenas uma parte da população deixam de ser rentáveis se houver a cura e por isso suas pesquisas são direcionadas apenas para o controle das mesmas.
Há muitas doenças como a asma, anemia falciforme, câncer, lúpus, obesidade, etc. que atingem milhões de pessoas, mas até hoje e com anos de pesquisas não se chegou à cura. Por que?
As pesquisas sobre o HIV existem há 25 anos. E até hoje não há uma cura, mas há medicamentos caros que conseguem controlar a AIDS. É o possível das pesquisas ou não interessa às farmacêuticas encontrarem a cura? Se curasse ou impedisse a contaminação, essa fonte de lucro acabaria ou seria reduzida.
A acusação feita aos conglomerados farmacêuticos a respeito dessa questão não é só “coisa de comunista”. O biólogo molecular Richard J. Roberts (prêmio Nobel de 1993) é um crítico de como essas indústrias agem. “Se só pensarem em lucros, deixam de se preocupar com servir os seres humanos. Eu verifiquei a forma como, em alguns casos, os investigadores dependentes de fundos privados descobriram medicamentos muito eficazes que teriam acabado completamente com uma doença. Mas as empresas farmacêuticas muitas vezes não estão tão interessadas em curar as pessoas como em tirar-lhes dinheiro e, por isso, a investigação, de repente, é desviada para a descoberta de medicamentos que não curam totalmente, mas que tornam crônica a doença e fazem sentir uma melhoria que desaparece quando se deixa de tomar a medicação”.
Só essa informação já deveria ser suficiente, pois ele é um profundo conhecedor do assunto. Mas, há outras “provas” do que falamos.
A Revista Época, do grupo Globo, em publicação de 2017 sobre os reais custos das indústrias farmacêuticas para desenvolver novas drogas contra o câncer e baseando-se em um estudo científico, diz que “as dez empresas analisadas investiram, no total, US$ 7,2 bilhões com pesquisa e desenvolvimento para lançar dez novas drogas. Já lucraram, em média, durante quatro anos, US$ 67 bilhões, quase dez vezes”.
E quando chegam a uma droga eficaz há a seleção de quem terá acesso. As indústrias Novartis e a Kite Pharma avançaram em um tratamento da leucemia – terapia gênica – com 73% de eficácia na remissão da doença, inclusive em pacientes graves. Isso foi considerado um salto, mas com preço proibitivo: em 2017 custava US$ 475 mil dólares (pelo câmbio atual, aproximadamente 2 milhões de reais).
Recursos públicos, apropriação privada?
Alguns alegam que é justo terem o lucro, pois investiram dinheiro na pesquisa. Primeiro, existe a questão ética, do significado da vida nessa sociedade. O dinheiro não pode ser mais importante que a Vida.
Segundo, a maior parte das pesquisas no mundo são financiadas com dinheiro público. Nos países ricos, as pesquisas são financiadas principalmente com recursos públicos, mesmo nas universidades que cobram mensalidades. Nos Estados Unidos, 60% dos recursos das pesquisas vêm do Estado; na Europa, 77% delas recebem financiamento público, conforme o Jornal USP.
No caso das pesquisas relacionadas a COVID-19, governos dos EUA, Alemanha, Reino Unido, Noruega e a Comissão Europeia gastaram mais de 19 bilhões de dólares nas pesquisas, desenvolvimento, fabricação e distribuição das vacinas contra a doença. Em 13 de outubro, o Banco Mundial aprovou créditos de 12 bilhões de dólares em financiamento dessas pesquisas.
Então, por que, se o dinheiro é público, o lucro deve ficar com as empresas?
Por isso que os marxistas dizem que a propriedade privada dos meios de produção é um entrave ao desenvolvimento humano. Mesmo havendo medicamentos que aliviam a dor e o sofrimento de milhões de pessoas (podendo até curá-las), as indústrias estão protegidas por patentes que impedem outros laboratórios de fabricarem o mesmo medicamento.
É preciso quebrar todas as patentes! Esta é a única maneira de garantir o acesso dos doentes a esses medicamentos, preservando assim a Vida.
Com a quebra das patentes o custo da produção cai. Fábricas poderão ser instaladas em vários países, garantindo a produção de vacinas suficientes para a população mundial. Não é uma proposta absurda, pois há tecnologia e bastante força de trabalho para isso. O limite é, como dissemos, o controle privado de algo que deve ser público e de acesso universal.
No entanto, o que estamos vendo é que os países ricos já estão garantindo a vacinação. Nos países pobres deve haver outra forma de exclusão: os ricos comprando a vacina enquanto os pobres convivem com o risco de morte.