O ano de 2020 mal começou e o mundo já se estremeceu com as desavenças dos governos dos Estados Unidos e do Irã, após o assassinato do General Qasem Soleimaini em Bagdá, atingido por drones estadunidenses. O general iraniano era comandante da força de elite Al Quds da Guarda Revolucionária iraniana, com forte papel de liderança e chefe das ações do Irã no exterior, como na Síria e no Iraque e de assessoria do grupo Hezbollah no Líbano.
Esse ataque foi uma resposta à ocupação da área da embaixada estadunidense em Bagdá por membros de um grupo pró-Irã, ação que por sua vez era uma resposta ao bombardeio dos Estados Unidos contra bases militares do “Brigadas do Hezbollah” no Iraque e na Síria, grupo apoiado e financiado pelo Irã. Foram 25 mortos.
Após o assassinato de Soleimani, uma importante figura no regime dos Aiatolás, as tensões aumentaram. Desde então foram vários mísseis contra as duas bases estadunidenses no Iraque e também forças iraquianas pró-Estados Unidos, até o momento, sem deixar mortos. Para tensionar ainda mais, no mesmo dia um avião do Irã com destino à Ucrânia foi derrubado por mísseis, matando as 176 pessoas a bordo. O próprio governo iraniano reconheceu ter atingido o avião, mas, segundo ele, por erro humano.
Entre todos esses episódios, muitas ameaças e alertas de uma nova guerra na região e com repercussão mundial, a situação voltou a normalidade de guerras verbais e disputas diplomáticas. Por parte dos Estados Unidos aumentaram as sanções contra o Irã. Já o Irã retomou o programa nuclear, suspenso por um acordo multilateral envolvendo vários países da Europa e o próprio Estados Unidos.
Uma revolução abortada e traída pelos Aiatolás
Irá, uma das maiores reservas e produtores de petróleo do mundo, ao longo do século XX, foi muito controlado primeiro pelo imperialismo inglês que explorava o petróleo e retribuía apenas 16% de combustível.
A primeira movimentação contra o imperialismo foi a nacionalização do petróleo realizada pelo primeiro-ministro Mohamed Mossadeq e que teve como resposta o Golpe de Estado organizado diretamente pela CIA e com apoio dos ingleses, derrubando o primeiro governo eleito e restaurando a monarquia no país, o Xá Mohamed Reza Pahlevi. É quando os Estados Unidos passam a mandar no país e explorar a riqueza do país.
O ódio contra os Estados Unidos foi a base da Revolução Iraniana de 1979 derrubando a Monarquia e expulsando as forças estadunidenses. Uma Revolução extremamente progressista pelo seu caráter nacionalista e anti-imperialista, foi desviada para um caráter religioso por sua direção fundamentalista, fundando um Estado teocrático profundamente reacionário e onde imperam leis de controle sobre toda a população, principalmente contra mulheres e a população LGBTT.
Nem burguesia fundamentalista e nem imperialismo
Por essas questões de imediato nos declaramos como oposição ao regime dos aiatolás. Ainda que mantenham certa independência em relação aos Estados Unidos e a Israel (representante diretos dos interesses imperialistas na região), são governos capitalistas e autocráticos, sem garantias democráticas para a classe trabalhadora.
Mas, em se tratando de um ataque de um país imperialista contra a soberania do povo iraniano não podemos ter nenhuma dúvida em condenar a ação terrorista dos Estados Unidos que visa sim o Irã, mas também serve como ameaça aos povos da região que se levantam contra os seus governos, como foram as recentes manifestações dos iraquianos.
Nos colocar contra os Estados Unidos e condenar o ataque não significa nenhum alinhamento ao governo iraniano, pelo contrário, defendemos uma ação independente da classe trabalhadora contra os seus exploradores “interno” e “externo”. Essa é a tradição dos revolucionários não separar a luta contra as burguesias nacionais da luta contra o imperialismo, até mesmo porque essas burguesias não são consequentes no enfrentamento ao imperialismo.
Caracterizar países que não aceitam serem dominados como terroristas tem sido uma política dos Estados Unidos há muitos anos, como forma de justificar ações militares e bloqueios econômicos contra esses países. Cuba, Coreia do Norte e Irã são considerados como o “eixo do mal”, em outros momentos já teve Líbia, Iraque, entre outros. Assim, todas as suas ações (as mesmas que criticam) não se consideram terroristas também.
São lastimáveis os danos que os EUA já realizaram nos mais diversos países do Oriente Médio e de regiões próximas, como Iraque, Síria, Líbia, Egito, Palestina, Iêmen e um longo etecétera. Por trás estão os interesses nas enormes jazidas de petróleo nestas terras.
Por essas razões é importante desmascarar a farsa de Trump e de seus aliados (como o presidente brasileiro), denunciando-os como assassinos e exigindo que tirem suas patas da região. Ao mesmo tempo estamos ao lado da classe trabalhadora desses países em suas lutas contra as “suas burguesias”, contra a exploração e toda forma de opressão.
Nesse sentido, é importante que a classe trabalhadora brasileira, americana, iraniana e pelo mundo saiba que esse tipo de conflito e de disputa não é para reduzir a exploração e a miséria sobre esses povos, ao contrário, é a destruição de forças produtivas para os capitalistas manterem seu poderio e o sistema.
Bolsonaro: lacaio do imperialismo
No Brasil, Bolsonaro manteve o discurso arrogante e enfático (como sempre) de manter-se fiel ao imperialismo, se colocando em apoio absoluto à Trump, diferente da tradição diplomática brasileira de neutralidade nesses conflitos. Inclusive chegou a declarar o Irã como um país terrorista.
Em vários outros assuntos internacionais o governo Bolsonaro – com um Ministro das Relações Exteriores ignorado na diplomacia mundial – tem se aliado incondicionalmente aos Estados Unidos. Foi assim, por exemplo, na tentativa de golpe na Venezuela promovida pela oposição burguesa de Guaidó.
Essa é mais uma demonstração de que nenhum setor da burguesia brasileira (e seus lacaios, como Bolsonaro) seriam capazes de enfrentar o imperialismo, pois mantém com ele uma relação de subordinação econômica que também se manifesta na política. É um comportamento de todos os governos, mas reconhecemos que Bolsonaro é o mais submisso de todos, chegando a um ponto de se humilhar.
- Fora Estados Unidos do Oriente Médio!
- Retirada imediata de todas as tropas e bases militares estadunidenses da região!
- Pela autodeterminação dos povos da região!
- Contra todo regime ditatorial que massacra os povos no Oriente Médio!