O padre Júlio Lancelotti é pedagogo e vigário da Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de São Paulo e pároco da Igreja de São Miguel Arcanjo, na Mooca e da Universidade São Judas Tadeu, sendo conhecido, também, nos bairros periféricos Belenzinho e Bresser por suas atividades de assistência social.
Lancelotti alia sua doutrina religiosa católica a um engajamento político no âmbito da Esquerda, denuncia a homofobia, a transfobia e o racismo como crimes e atende crianças contaminadas por HIV. Há dois anos, beijou os pés de uma transexual que acompanhava a Via Sacra do Povo da Rua. Também já pediu desculpas públicas a um jovem que foi humilhado pelo padre de sua cidade ao revelar-se homossexual. Coloca-se, portanto, contra a política de intolerância e genocídio dos grupos sociais mais precarizados.
São estes alguns dos motivos que têm levado o sacerdote a receber ameaças. No final de janeiro deste ano, ele registrou um boletim de ocorrência contra agentes da PM que o haviam ameaçado de morte.
Dias depois, em fevereiro, classificou a ameaça sofrida como ódio de alguns setores da sociedade à população da rua. Não está errado o clérigo. A ascensão ao poder, especialmente no RJ e SP, além do governo federal, de governantes e parlamentares de viés moralista, fundamentalista cristão e atrelado aos interesses mais caros ao Capital formam um bloco de concepção política reacionária incapaz de conceber inciativas de combate à miséria sequer sob os moldes que a insuficiente inspiração liberal (burguesa) consegue ao menos gestar. A aura de criminalização daqueles que são as maiores vítimas do Capitalismo paira sobre grandes centros como a cidade de São Paulo.
No dia 15 de setembro, um motoqueiro passou pelo padre e gritou “padre filho da puta que defende noia.” Logo depois, dirigiu-se a um grupo de catadores de papel, conhecidos de Lancelotti e disse: “vou voltar para queimar vocês.”
O sacerdote, além de fazer novo registro na polícia, gravou um vídeo em que deu a entender que este último incidente estaria ligado a Arthur do Val, conhecido como Mamãe Falei. Pré-candidato à prefeitura de SP pelo Patriota, ele acusa Lancelotti de ser “cafetão da miséria” e viver da submissão da população vulnerável por ele assistida.
Arthur do Val defende a descentralização das obras sociais, evidentemente considerando que elas devem ser entregues à iniciativa privada. O youtuber e político conservador já declarou à mídia que “o centro histórico não pode ser um ambiente onde você dá comida e o morador de rua pegue seu cobertor, durma na rua, e sabe-se lá onde esse cara vai fazer suas necessidades e largar o lixo daquela marmita”.
O que pessoas assim querem é o extermínio do trabalhador que sobra na cruel estrutura de classes. Porque sabem que, seguindo os ditames dos grandes empresários de quem são lacaios, mais miseráveis brotarão para prosseguir sendo o bode expiatório do Capitalismo. Dando lucro, é lógico, aos que os exploram de todos os modos.
Júlio Lancelotti se insere na tradição da Teologia da Libertação, enfraquecida nos anos 90 pelos mega eventos do movimento conservador católico da Renovação Carismática. A Teologia da Libertação, surgida nos anos 70 como releitura da fé cristã tendo em vista os problemas sociais, aliou-se aos trabalhadores na América Latina. Mas, em meados dos anos 80, seus formuladores foram condenados pela Santa Sé por ênfase no pecado institucionalizado e pelo incentivo à luta de classes em detrimento dos pecados individuais e da transcendência religiosa.
Nós da Emancipação Socialista defendemos que a dimensão política de todos os homens e mulheres deve ser preservada. Júlio Lancelotti coloca seu trabalho a serviço das maiores vítimas da opressão de classe burguesa. Tanto é que após todos esses episódios, disse ter alegria por não ser chamado de capitalista!
Todo apoio a Júlio Lancelotti!!!!!!
Ele não aceitou escolta policial e conta com a solidariedade de classe dos que lutam por uma sociedade justa.