Que greve foi esta?
A principal reivindicação dessa greve foi preservar a vida. Exigimos ficar em casa enquanto a empresa não recuasse no aumento do número de efetivo não essencial para o momento.
Temos trabalhado com cerca de 900 trabalhadores durante a pandemia e garantimos gasolina, diesel e gás de cozinha para a população e hospitais.
Porém, a gerência não negociou com o Sindicato e colocou mais 2200 trabalhadores na planta. Em pouco tempo, os casos de Covid se multiplicaram e já passam de 200 infectados, 3 entubados e 2 mortes. Isto, enquanto faltam leitos e remédios para intubação no país.
Uma greve durante a pandemia
Foi uma greve bem difícil em termos organizativos. Além de um ano sem luta, com o distanciamento das aglomerações dos movimentos, o que houve de diferente foi o contato virtual com os trabalhadores.
O trabalhador não vendo seus colegas no piquete, na tenda de greve e em atos, às vezes, ficava na dúvida se estava sozinho (dificultando seu entendimento como classe e como coletivo em luta). Mesmo assim, a maioria dos grevistas de outros tempos ficou em casa. Setores em que o Sindicato conseguiu organizar grupos de wathsapp tiveram boa adesão. O próprio Seminário de Greve foi virtual, diferente de toda a nossa prática, mas, necessário para a finalidade do momento.
A gerência bolsonarista espalhou muita Fake News e tentou jogar os trabalhadores contra o Sindicato, mas não iludiu a maioria. Também usou de métodos antidemocráticos e se apoiou na pandemia: por exemplo, chamou uma dezena de viaturas para impedir que os ônibus de trabalhadores parassem antes de entrar na empresa (nosso histórico é de os ônibus pararem no piquete). Essa medida também não teve sucesso, pois a orientação do Sindicato era de que os trabalhadores ficassem em casa, nem piquete haveria. Era preservar a vida. E os ônibus chegaram vazios. A gerência também fez outras manobras como em outras greves ao enviar cartas para as casas de grevistas, assediar, mover seus Cargos de Confiança, prender trabalhadores dentro de suas instalações como “reféns”, reunir com os trabalhadores para tentar influenciar e dizer que o Sindicato não queria negociar, etc.
Trabalhadores suspendem e de cabeça erguida
Com 5 horas de greve a empresa chamou para negociar. Apresentou uma outra proposta bem distinta das reuniões anteriores, em que dizia “não ter gestão sobre o número excessivos de trabalhadores na planta”. Na mesa de negociação, durante a greve, se comprometeu: Reduzir em 70% o efetivo nesta última semana do mês e não iniciar Paradas de Manutenção (que aumentam o efetivo) no mês de abril. Antes de iniciar Novas Paradas de manutenção, que não serão em paralelo nos setores, deverá informar ao Sindicato. Não elevar a Jornada de Trabalho normal durante as paradas (prática usual).
O Sindicato chamou uma assembleia virtual e suspendemos a greve com 24 horas de movimento. Os trabalhadores entenderam que a nossa pauta não foi totalmente atendida, mas demos um passo importante na luta pela vida e por nossas reivindicações. A greve foi suspensa, mas pode retornar caso haja problemas com o andamento cotidiano.
O principal resultado é o sentimento entre nós, trabalhadores, de que é possível lutar e, inclusive, avançar contra a pandemia.
O histórico antes da greve
O Sindipetro MG entendeu no início do ano que era necessário retomar a luta, preparar junto com os trabalhadores uma posição nesse cenário onde os combustíveis disparam e o governo Bolsonaro/Guedes tenta entregar as Refinarias. Assim, foi feita a assembleia com os trabalhadores, aprovados os 11 itens de Pauta e a greve por tempo indeterminado. Dentre os pontos haviam a COVID-19 e as Paradas de Manutenção.
Quando a empresa chamou para negociar, atendeu apenas 2 pontos da Pauta e se comprometeu a negociar os outros 9 itens. A greve teve sua primeira suspensão no cenário em que o próprio presidente da Petrobrás estava sendo trocado e existia certa incerteza nos dobramentos de insatisfação da população com o aumento do preço dos combustíveis.
Semanas se passaram e mesmo com diversos ofícios do Sindicato, a empresa não reuniu para discutir a Pauta. E quando se reuniu não discutiu os pontos de COVID, efetivo e paradas alegando falta de tempo.
O Sindicato fez diversas denúncias em órgãos externos como Vigilância Sanitária, Ministério Público, parlamentares da Assembleia Legislativa, prefeitura, etc.
Com os trabalhadores adoecendo a greve foi chamada com os 11 itens já aprovados da Pauta, mas o centro da luta era a preservação da vida.
Lições
Vivemos um cenário de pandemia, acentuou o distanciamento dos sindicatos com os trabalhadores e ao mesmo tempo aumentaram as contaminações e mortes por COVID, problemas psicológicos, crises nas famílias confinadas, preços de combustíveis e alimentos, hospitais estão lotados.
Nós trabalhadores devemos criar grupos virtuais entre os sócios e dirigentes sindicais, por empresa, por setor e da melhor forma necessária para tentarmos reestabelecer a comunicação. Com esse movimento poderemos tornar possível que as Centrais Sindicais organizem de fato uma Greve Nacional Sanitária.
Sabemos que parte das lideranças das Centrais já abandonou essa iniciativa de imediato e seu plano passou a ser as eleições 2022. Mas, a vida não pode esperar.
As direções sindicais de esquerda devem organizar a classe nessa conjuntura mesmo com as todas dificuldades. O plano de fundo para aprovação e organização da greve de Petroleiros de MG é a luta contra a privatização da Regap e vamos seguir.
A produção de combustíveis do estado é feita na Regap e os preços poderiam ser bem menores se o governo não quisesse vender a empresa e deixar atrativa para um possível comprador internacional.
Os trabalhadores aprovamos greve nessa difícil conjuntura do início de ano por uma leitura de que se ficarmos parados, além de sermos acometidos pela Covid, seremos vendidos como foi a BR e sem qualquer resistência.
Temos novamente como lição, nesse urgente momento, a necessidade da unidade de diversos setores da classe contra a privatização e venda de Refinarias para combater os preços de gás de cozinha, gasolina, diesel, poder garantir a produção para hospitais e contribuir para estancar a morte.