Quando a gente fala de aumento da inflação significa que a situação das famílias mais pobres está piorando. E reacende o alerta da extrema pobreza num país que é um dos maiores produtores de alimentos do mundo, líder na exportação de commodities e modelo de agronegócio.
O aumento generalizado do preço médio de produtos e serviços e a famigerada inflação têm sido notícias recorrentes nos telejornais no momento. Há meses o preço do feijão, arroz, gasolina, gás de cozinha, aluguel e energia elétrica vêm crescendo e causando impactos imediatos na vida dos mais pobres.
Apesar de o preço em si parecer igual para todos, o impacto dos aumentos varia para cada família, isto é, depende dos produtos que consumem e quanto do orçamento esses itens representam. As famílias mais pobres gastam cerca de 30% de seu orçamento com alimentos, enquanto os mais ricos gastam menos de 10% nessa categoria.
Segundo o IBGE, a inflação dos alimentos está em alta e já aumentou mais do que o dobro no mês de agosto. O que significa mais gente de barriga vazia.
E, de acordo com o mercado financeiro, Boletim Focus, divulgado semanalmente pelo Banco Central, a inflação não dará trégua em 2021 e deverá “respingar” no ano que vem. Ou seja, o poder de compra do salário seguirá baixo.
A cesta básica esvazia com a inflação
Assim, os produtos da cesta básica estão com preços em alta na maioria das capitais, já chegando nos 30%. Mas, de acordo com o Dieese o salário-mínimo necessário para cobrir esses gastos é de R$ 5.518,79, cinco vezes o valor oficial.
Em levantamento feito pelo Procon-SP e Dieese foi apontado que o valor dos alimentos que compõem a cesta básica é de R$ 1.060 em São Paulo. Esse valor se aproxima do salário-mínimo no país, atualmente em R$ 1.100.
O custo médio da cesta básica, em tendência de alta, aumentou no mês passado em 15 das 17 capitais. No acumulado do ano, os preços subiram em 14. Em 12 meses, o preço da cesta subiu em todas com os aumentos em cerca de 30%.
Para mais arrocho ainda tem a crise hídrica e o aumento na conta de luz, com o governo dizendo evitar um possível racionamento de energia. Em muitas cidades já está em vigor a bandeira vermelha patamar 2. E os R$ 6,24 por 100 kWh consumidos passaram a custar R$ 9,49 em julho. Podendo chegar a R$ 11,50 ainda em agosto, um aumento de 80%. Essa tentativa de frear o consumo, no entanto, amplia os lucros dos empresários do setor energético e eleva ainda mais a inflação.
Para a produção de frango da granja ao mercado, por exemplo, há o consumo de muita energia. E, certamente, esse aumento será repassado para quem ainda pode ter alimento no prato.
No entanto, a energia elétrica tem um custo fixo para grandes indústrias e usto é repassado ao consumidor final. Produtos agrícolas como o processo de produção de leite, derivados de proteína animal e outros, além de itens do varejo que usam intensivamente iluminação, refrigeração e aquecimento têm a energia como um fator fundamental.
A inflação de preços dos produtos sofre com a alta na conta de luz e soma-se à política de aumento de preços dos combustíveis que vêm sendo adotada por esse governo, juntas contribuem para o aumento de preços dos alimentos, da fome e da miséria.
No governo Temer, a Petrobrás alterou a política de preços de combustíveis para seguir a paridade com o mercado internacional e aumentar o lucro do capital financeiro no país.
Os preços de venda dos combustíveis passaram a seguir o valor do petróleo no mercado internacional e a variação cambial. Dessa forma, a cotação mais elevada da commoditie e/ou a desvalorização do real contribuem com a alta de preços no Brasil.
Com o avanço das privatizações de refinarias provocado pelo governo Bolsonaro e com a continuação das políticas de Temer, a gasolina já teve aumento de 51% em 2021. E a probabilidade é a mesma para os combustíveis em geral.
Quem perde e quem ganha com os lucros
O aumento desenfreado desses preços desencadeia o aumento dos custos da produção de bens e serviços, pois a distribuição de produtos é feita predominantemente por caminhões e veículos a diesel ou gasolina.
Junto com a inflação, o desemprego é um dos problemas com impacto mais direto na vida das pessoas. O índice crescente de desempregados chegou aos 14,7% no trimestre encerrado em abril, em patamar recorde, segundo o IBGE. São 14,8, milhões de pessoas desempregadas.
Em consequência disso temos o aumentou da fome que não só está visível nos indicadores como nas ruas, demonstrando as mazela do capital. Embora, dita superada com políticas assistencialistas, anos atrás, a forme retornou à centralidade dos problemas do país. Mais de metade da população brasileira sofre com algum grau de “insegurança alimentar” e pelo menos 15% convivem com a falta diária e constante de ter o que comer.
O Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, realizado pela Rede Penssan, indica que 19 milhões de brasileiros passaram fome e mais de metade dos domicílios no país enfrentou algum grau de “insegurança alimentar”. A sondagem estima que 55,2% dos lares brasileiros, cerca de 116,8 milhões de pessoas, conviveram com algum grau de “insegurança alimentar” no final de 2020.
Bem diferente é a situação dos produtores do agronegócio que têm lucrado muito, se aproveitado da desvalorização da moeda e da alta do dólar para exportar cada vez mais. Isso provoca uma redução da oferta no mercado interno e, consequentemente, contribui para a alta de preços.
Bancos, como Bradesco e Santander, também se beneficiam com a alta da taxa de juros e pelos contratos serem indexados à inflação, têm-se expansão da margem de lucros com a subida de preços.
E as empresas do setor de varejo alimentício, como o grupo Pão de Açúcar e Carrefour, repassam também a alta de preços para o consumidor final, assim mantêm suas altas taxas de lucro.
Têm sido assim, enquanto os mais pobres penam com o aumento generalizado dos preços, do desemprego, da fome, etc. o empresariado e os governos se mantêm na expectativa da continuidade de alta da inflação com o povo calado. Calados não vamos ficar!