No Brasil, já apontamos algumas vezes como vemos um aumento considerável de pessoas sem condições de garantir as refeições mínimas por dia. Mas ainda que seja um grave problema em nosso país, ele não é o único. A fome aumenta a cada dia em diversos países e não por coincidência, nos mais pobres.
A cadeia de fornecimento de alimentos, controlada por empresas multinacionais, controlam a imensa maioria da produção de alimentos e fertilizantes, bem como grande parte das terras cultiváveis.
Os sucessivos desafios enfrentados pelo capital nos últimos anos levaram essas empresas a grandes dificuldades de manter essa cadeia de produção disponível para toda a população mundial. A crise de 2008 que afetou diversos ramos do capital também afetou a indústria de alimentos que reduziu investimentos, assim como tiveram dificuldades em 2011 e 2012 com outra alta no preço dos alimentos.
Como se não bastasse a crise do próprio capital, outras diversas consequências da sanha exploratória capitalista também levaram a dificuldades nesse setor, como o aumento do preço do petróleo, o aumento de demanda de biocombustível a base de milho, o aumento nos custos de transporte, a especulação no mercado financeiro, a queda nos estoques de grãos, as mudanças climáticas que afetam diretamente o cultivo, além das medidas protecionistas que diversos países tomaram para evitar crises internas.
Posteriormente tivemos a pandemia de COVID-19 que recuou todo o mercado e a guerra na Ucrânia que impactou nas vendas de dois dos maiores exportadores de grãos do mundo (Rússia e Ucrânia representam a exportação de 30% dos grãos no mundo). A Rússia ainda é responsável pela exportação de 11% do petróleo mundial e 13% de fertilizantes. A Ucrânia exporta metade do uso mundial de óleo de girassol.
As mudanças climáticas afetam diretamente a produção de alimentos
É crescente o debate sobre a crise climática que vivemos e a superexploração do planeta para a produção de riquezas (voltadas aos capitalistas, claro).
O tão falado aquecimento global além de dificultar cada vez mais a nossa existência no planeta devido às catástrofes que ocorrem no meio ambiente como enchentes, secas, calor e incêndios florestais, ainda dificultam condições adequadas de produção de alimentos e, em certas ocasiões, prejuízos enormes nessa cadeia.
Só para citar dois exemplos, a ilha de Madagascar, entre janeiro e fevereiro desse ano, sofreu com inundações e ciclones que devastaram o país e está com o sistema de produção de alimentos quebrado até hoje. O Paquistão sofre nesse momento também com intensas chuvas que inundaram um terço do país. Até o momento, 1,1 mil pessoas morreram, sendo que 1/3 foram crianças. As autoridades locais já preveem uma escassez de alimentos no país pelos próximos meses.
A crise da fome alimentada pela crise da dívida pública
Segundo o Programa Mundial de Alimentos, a população desnutrida aumentou em 118 milhões de pessoas em 2020. As pessoas com fome aguda (que não conseguem realizar todas as refeições mínimas por dia) aumentou em 40 milhões de pessoas.
Esse fenômeno ocorre, principalmente, nos países mais pobres e com maior endividamento aos grandes bancos mundiais. A situação de super endividamento aumentou de 30% para 60% dos países de baixa renda.
Só em 2020, conforme o Banco Mundial, os países mais pobres acumularam uma dívida de 860 bilhões de dólares. O Sri Lanka (palco de lutas no último período) acumula dívida de 45 milhões de dólares, dos quais vence ainda este ano, 7 milhões de dólares, e está prestes a quebrar, como ocorreu com a Argentina e o Líbano durante a pandemia.
A farsa das medidas de solução da burguesia
Devido a esse cenário caótico que vivemos, o FMI e as grandes potências ofereceram a suspensão (sequer uma anulação) do pagamento da dívida, ainda assim foi ínfimo, somente 10,3 bilhões de dólares (nem 10% da dívida contraída em 2020…).
Outra “solução” do FMI foi de aumentar o valor de Direitos Especiais de Saque (DES), mas devido às cotas proporcionais, todo o continente africano teve acesso menor do que o banco central da Alemanha!
Os governos e bancos centrais estão ainda, aumentando as taxas de juros, o que implica mais endividamento dos países mais pobres que já possuem muita dificuldades de exportação de alimentos.
A solução para a crise é a luta da classe trabalhadora!
Mesmo que muitas entidades mundiais apontam a necessidade de medidas de maior distribuição de renda, produção controlada e não predatória e até anulação das dívidas dos estados; nada é feito.
Não há perspectiva, sob a ótica do capital de reverter essa situação, visto que não traz lucros necessários para a sustentação desse sistema.
Precisamos reverter essa situação com a organização da classe trabalhadora para garantir o não pagamento das dívidas dos países pobres e que essa renda seja revertida para a produção de alimentos e serviços básicos para a população, com produção que não destrua as reservas naturais que são fundamentais para a existência de vida no planeta.