Nesse ano completa 200 anos da chamada Proclamação da Independência. Nesses dois séculos, as classes dominantes brasileiras e seus governos não foram capazes de construir uma Nação, de fato, independente política e economicamente. O que predomina é a sua subserviência aos países imperialistas.
Antecipa-se para impedir que o povo faça
A dita independência política do Brasil, de 1822, foi mais um daqueles processos políticos comandados pelas classes dirigentes do país, que sempre buscam se antecipar para evitar as rebeliões populares. Aliás, essa é uma das principais características da história brasileira, na qual as classes dominantes sempre conseguiram manter o controle e a “solução” nos períodos de crise. Foi assim, por exemplo, com o fim (formal) do trabalho escravo, a Proclamação da República, o fim do Estado Novo e da Ditadura cívico-militar.
A Revolução negra no Haiti e os vários processos de Independência da América espanhola também forçaram a Coroa e a oligarquia brasileira a se anteciparem e “declarar” a Independência brasileira. Além de seus interesses em ampliar o comércio com outros países, como a Inglaterra, esse ato buscou evitar que o povo brasileiro se radicalizasse e, além da Independência, derrubasse a Monarquia e o trabalho escravo.
Assim, foi realizada a transição de forma controlada e sem mudanças estruturais pois, o regime continuou monárquico, o trabalho escravo continuou como a principal fonte da acumulação de capital e a grande propriedade rural se manteve intacta. Para entendermos os limites desse processo, basta destacar que a Independência, na maioria dos países da América Latina, foi acompanhada da instauração da República.
A dependência econômica como entrave para a verdadeira Independência
Podemos dizer, ainda que de forma limitada, que o Brasil se tornou um país soberano, mas, não economicamente.
O projeto econômico (que é um conceito político) implementado pela burguesia brasileira tem como base a dependência e subordinação em relação aos países imperialistas, isto é, no mercado mundial assume uma posição de submissão aos interesses dos países desenvolvidos.
O símbolo dessa dependência é o modelo agroexportador controlado pelo pelos empresários do agronegócio que atendem parcela do mercado mundial enquanto o povo brasileiro passa fome. Também têm exportações de minérios e de petróleo que são matérias-primas fundamentais para o desenvolvimento da economia, mas a burguesia brasileira se compromete com as economias imperialistas.
A consequência disso é o Brasil se manter numa condição de subdesenvolvimento estrutural e num ciclo vicioso no qual “dependência cria mais dependência”.
Assim, essa dependência implica também em menos autonomia e mais sujeição política, ou seja, pelos interesses econômicos em jogo a burguesia nacional e seus governos não enfrentam as burguesias dos países imperialistas.
Nessa “adesão” há conflitos de interesses com as burguesias imperialistas, mas a subordinação estrutural faz a burguesia brasileira aceitar a condição de “sócia minoritária” e as imposições dos países ricos. Dessa forma, para manter ou aumentar sua lucratividade, impõe uma superexploração sobre a classe trabalhadora brasileira.
Só a classe trabalhadora pode garantir a Independência nacional
Nas relações econômicas, fonte de riquezas e interesses mais importantes, a burguesia brasileira se omitiu em construir um projeto autônomo e não é diferente no plano político.
Essa subserviência aparece, por exemplo, no alinhamento político internacional de governos brasileiros com governos imperialistas nos golpes militares, na abertura do país aos interesses internacionais, etc. Muitas vezes, até com discursos nacionalistas, abrem mão de construir uma Nação soberana e contribuem diretamente para escoar a riqueza produzida no Brasil para outros países, enquanto ficamos com as migalhas.
Nesse momento, por exemplo, podemos observar com as comemorações oficiais (governo, Forças Armadas) que essa Independência é uma farsa. O governo de Bolsonaro e com a extrema Direita batem continência para a bandeira dos Estados Unidos e não como nacionalistas, pelo contrário, como capachos (desse e demais países imperialistas).
Na luta pela Independência nacional precisamos enfrentar também a burguesia nacional e seus governos, cúmplices do imperialismo, para colocarmos toda a riqueza produzida no país a serviço da população (contra a fome e por emprego) e para rompermos com essas bases econômicas.
Somente na luta, a classe trabalhadora, urbana e rural, tem condições de enfrentar essa superexploração, realizar uma Independência de fato e, assim, construir uma Nação soberana que coloque os interesses do povo em primeiro lugar. Nessa luta, parte da luta pelo socialismo, enfrentaremos governos imperialistas e capitalistas para pôr fim em todas as suas formas de violência!