Derrotar o golpe da extrema-direita no Peru!
Reflexos dessa crise estrutural do Capital, é o que está ocorrendo no Peru. Em 7 de dezembro, o presidente eleito em julho de 2021, Pedro Castillo, tentou dissolver o Congresso, após um terceiro pedido de impeachment, apresentado pelos parlamentares. Ao estilo do que foi feito, sem sucesso, na Venezuela, em 2002 e, com sucesso na Bolívia, em 2018, Castillo acabou afastado da presidência e preso pelo parlamento peruano e acabou assumindo um “governo interino” chefiado pela sua vice-presidente, Diana Boluarte.
Em seguida, Boluarte tentou comandar uma manobra para antecipar as eleições presidenciais para dezembro de 2023. Apesar de ser majoritária no congresso, esta proposta de emenda constitucional não atingiu os 2/3 necessários para que passasse a vigorar, muito em função dos protestos de ruas e bloqueios de estradas, que já deixaram 20 mortos no país, contra o golpe parlamentar.
Na verdade, o que se assiste no país andino é uma colossal crise entre as frações da classe burguesa dominante do Peru. Castillo, um professor e dirigente grevista da sua categoria, foi eleito por pequena margem de votos, derrotando a candidata de extrema-direita, Keiko Fujimori. Entretanto, em meio a situação polarizada, Castillo, contrariando a sua plataforma de governo, tentou governar para os ricos, buscando agradar o sistema financeiro e o Mercado.
Essa estratégia não deu certo: o Peru apresentou os índices mais baixos de crescimento no Cone Sul e o presidente viu seus índices de aprovação despencarem, após dois pedidos de impeachment apresentados contra ele, em apenas um ano e meio de governo, o que pavimentou o terceiro pedido, que Castillo respondeu de maneira irresponsável.
Contudo, a manobra e o golpe de direita no Parlamento (e a de setores burgueses que esta instituição representa) têm que ser derrotados e Castillo tem que ser reconduzido ao cargo, pelos protestos de massas que têm sacudido o Peru nos últimos dias. Mas, ao mesmo, isso não significa que o movimento de massas deva depositar alguma confiança no presidente por ora desposto. Somente os trabalhadores e a população pobre organizada poderá derrotar a extrema direita e superar as vacilações de Pedro Castillo, assim construindo a alternativa da classe trabalhadora.
No Brasil, Lula tenta reorganizar as forças políticas para gestar o capital
Mesmo antes da posse, Lula já é a principal figura no cenário político brasileiro, iniciou as nomeações de seus ministros de forma espetaculizada, quase um show de talentos de domingo à tarde na TV.
Para os cargos estratégicos, colocou petistas de confianças como Fernando Haddad (Fazenda) e Rui Costa (Casa Civil), mas também colocou figuras próximas como Flávio Dino do PSB (Justiça). Foi criticado pela falta de representatividade, e vemos somente uma mulher negra, Margareth Menezes (Cultura) e rumores de que Nísia Trindade pode assumir o Ministério da Saúde.
Para além disso, fica a situação dos aliados que Lula tenta estabelecer, desde partidos que estão sempre com ele como o PCdoB até a partidos do Centrão que até então eram aliados de Bolsonaro e se aproximam do petista para o “bem da governança” (ou seja, manter a exploração capitalista). O próprio Lula já declarou “que não há tempo para vingança” e mostra aceno para a Câmara presidia por Arthur Lira (Progressistas) e ao senado que tem a frente Rodrigo Pacheco (DEM).
Enquanto isso, Bolsonaro faz poucas aparições públicas e se cala para manter acesa a fúria de seus seguidores fanáticos que continuam se organizando pelo país em frente aos quartéis, ocupando vias públicas e promovem agitações como as que ocorreram na diplomação de Lula em Brasília, com queima de carros e ônibus e agitações em vários locais com a permissividade das polícias como nunca ocorreu em atos da esquerda…
Não temos ilusão de que Lula vai governar pela classe trabalhadora, pelo contrário, vai possibilitar acesso aos serviços públicos cada vez mais com privatização e ataques aos nossos direitos para tentar conciliar com a burguesia que tenta manter suas altas taxas de lucros mesmo diante dessa crise estrutural do capital.
Ainda é necessário defender a punição de todos os governantes bolsonaristas que assaltaram o Brasil nos últimos quatro anos e que fizeram e fazem declarações golpistas!