Em 28 de agosto último, foi realizado o tradicional debate presidencial da Band, que, em ano de eleições presidenciais, costuma ser o primeiro debate entre os grandes meios de comunicação, mas que, de novo, como já vem acontecendo há alguns anos, só reuniu os “principais” candidatos. Desta feita, a “desculpa” para não chamar as candidaturas anticapitalistas foi a de que só participariam as candidaturas dos partidos com representação no Congresso Nacional, mesmo com algumas delas com desempenho inferior nas pesquisas, até então, à candidata do PSTU.
Talvez até por isso mesmo o debate tenha sido morno. Foi um tal de se discutir corrupção, quem é mais ou menos corrupto, ou quem é o atual, o ex, ou possa ser o futuro governo corrupto. Todos os debatedores apresentaram ideias mirabolantes para resolver os problemas dos trabalhadores como desemprego, crise econômica, fome, meio ambiente, desigualdade social e tantas outras. Promessas. Sabemos que sem romper com o capitalismo.
Ou seja, essencialmente foi um debate entre iguais. Entre candidatos e partidos que defendem a democracia burguesa, o sistema, as alianças, o pagamento da dívida, tec., incluindo o próprio Bolsonaro que chantageia com ameaças golpistas. Os demais se limitaram a defesa da “democracia dos ricos”.
Nessa democracia há partidos como o Novo (que de novo só tem o nome) que é contra o financiamento público das campanhas, mas que recebe doações de empresários e banqueiros (dinheiro este que retiraram dos trabalhadores via tarifas e cobranças de juros, etc.), sendo uma das campanhas que mais recebe recursos privados. Ou um União Brasil com a maior fatia do fundo eleitoral e ao mesmo tempo partidos como o PSTU, PCB ou UP recebem muito menos. Dois pesos e duas medidas.
Faltou quem poderia debater questões importantes
Não é um debate democrático. Assim, não é de se estranhar a ausência da candidata Vera Lúcia (PSTU), Sofia Manzano (PCB) e de Leonardo Péricles (UP), as únicas candidaturas com um viés anticapitalista. Seriam os únicos que poderiam debater questões importantes como não pagar a dívida pública –interna e externa- (já pagas várias vezes). Para ficar nesse tema, segundo dados da Auditoria Cidadã da Dívida, todos os anos, praticamente a metade do orçamento público vai para pagar essas dívidas. Dinheiro que poderia acabar com vários sociais, mas fica com os agiotas e especuladores.
Só os candidatos anticapitlistas poderiam debater sobre como o sistema eleitoral privilegia os maiores partidos e quem tem mais dinheiro, taxar as grandes fortunas para diminuir as desigualdades sociais, o controle e revogabilidade dos mandatos caso algum político eleito vote medidas contra os trabalhadores, que políticos eleitos recebam um salário igual ao de um trabalhador médio da indústria, entre outros temas que os partidos burgueses se recusam a debater.
Em resumo, foi um debate dentro da “Lei e da Ordem”, entre aqueles que defendem o regime democrático burguês, ou seja, distante do que é uma democracia operária, construída de baixo para cima.
Um debate que todos se propuseram a serem administradores das desgraças do capitalismo, e mesmo assim resolver os problemas dos trabalhadores. Impossível! O capitalismo é a causa de todos os probelmas sociais, o desemprego, a falta de hospitais e escolas, os problemas do transporte, a violência, a corrupção, etc.
Um sistema que já nasce viciado e que de democrático não tem nada, pois se baseia na lei dos mais fortes economicamente. Essas eleições não nos servem! Só a luta pelo socialismo muda a nossa vida!
Existe possibilidade de um Golpe de direita?
Com a proximidade das eleições muito tem se dito sobre a possibilidade de um golpe caso Bolsonaro não ganhe e que o resultado das eleições não será respeitado. Citam o exemplo da invasão do Capitólio nos Estados Unidos. Embora nenhuma dessas possibilidades possa ser 100% descartada, não nos parece ser o mais provável, diferentemente do que aconteceu em 1964, com a implantação da Ditadura.
Também devemos levar em consideração que a candidatura Lula/Alckmin embora não tenha apoio da burguesia de conjunto, conta com a ajuda de importantes setores da burguesia, até porque o Governo Bolsonaro foi uma “aventura” e se mostrou um verdadeiro desastre para os seus negócios. A “Carta pela democracia” foi uma demonstração da burguesia de que não apoia nenhum açõ golpista.
Bolsonaro não tem apoio popular para efetivar um golpe. Mesmo a inserção em parte das camadas populares, graças ao apoio “dos mercadores da fé” e de medidas como o auxílio de R$ 600,00 (só adotadas às vésperas das eleições) e farta utilização de “fake news”, ainda assim, não é suficiente para suas pretensões golpistas.
A burguesia opta por Golpes de Estado quando há mobilização popular questionando a exploração, há organização independente da classe trabalhadora ou, em alguns casos, quando uma candidatura que lidera as pesquisas ou o eleito tem um perfil de rompimento com a ordem capitalista e as instituições da democracia burguesa não conseguem deter o movimento. Ou seja, quando a hegemonia burguesa está em perigo. Enfim, esta não parece ser a situação do Brasil no momento.