Desemprego, empregos com salários menores e poucos direitos trabalhistas, famílias endividadas, população em situação de rua aos milhares, falta de moradia, etc. são expressões da atual crise do capital, que, por ser estrutural, não deixa margens para concessões econômicas para a classe trabalhadora.
E isso nem tem muito que ver com quem governa. Quem entra, não é para resolver a crise, mas gerenciá-la. Todos vão prometer, mas vão esbarrar nesses limites, pois é uma crise do próprio sistema, ocorre em todos os países (com desigualdades e mediações) e em todas as esferas. Assim, os governos, sem romperem com o capital, não têm margem de manobra.
É nesse contexto que Lula governará o país nos próximos quatro anos. As promessas de pleno emprego, da “picanha e da cerveja”, do fim do desmatamento, etc. vão se deparar com os limites impostos por essa crise, ou seja, não deve ocorrer mudanças profundas. No máximo um pequeno aumento real do salário-mínimo (o salário-mínimo do DIEESE é de R$ 6.388,00), manutenção dos benefícios sociais, algum nível de formalização de emprego, mas nada que mude a vida do povo definitivamente. São, em essência, paliativos.
Recessão global e fim do boom das commodities
As promessas de Lula baseadas no modelo “neodesenvolvimentista” exigem uma condição econômica que não existe no Brasil e nem no mundo. Todos os organismos internacionais apontam para uma recessão global em 2023, com retração econômica em 1/3 dos países e a economia da China, Estados Unidos e países da União Europeia, principais mercados para as exportações brasileiras, ficarão estagnados (combinados com altas taxas de inflação).
Como a economia brasileira é dependente das exportações de commodities, com esse cenário as limitações serão ainda maiores. Lembremos que o boom das commodities nos anos 2000 foi fundamental para financiar a ampliação do crédito e das políticas públicas impulsionadas pelos primeiros mandatos de Lula e do PT.
Nesse momento, e mesmo com a alta dos preços das commodities nos últimos anos, as possibilidades de repetir o ciclo anterior são bem menores, entre várias razões, pela alta do preço do dólar que faz com que se gaste mais com as importações por conta da desindustrialização brasileira.
Nos organizar é a saída
Além dos problemas acima, e como dissemos nos outros textos, a extrema-direita vai ser uma ameaça permanente, criando instabilidade a todo momento. A força da oposição de direita no Congresso Nacional também vai ser um elemento de pressão, obrigando Lula a permanente negociação. Também podemos destacar um Poder Judiciário arredio a Lula e ao PT.
Diante desse quadro, os vários setores da burguesia e da burocracia estatal certamente vão se articular para continuar com seus privilégios.
Cabe a nós trabalhadores e trabalhadoras nos organizarmos para lutar por nossos direitos. A revogação das reformas trabalhista e previdenciária, o fim do trabalho precário, aumento das verbas para a educação e saúde públicas, etc., só virão com nossa luta e organização.