Não é a primeira vez que a Ucrânia é invadida pela Rússia. O império czarista e Stálin já tinham imposto a fome (Holodomor, por exemplo), o extermínio de milhões e controlado pela força o povo ucraniano. E novamente está no epicentro das disputas econômicas e geopolíticas entre potências militares. Seguem alguns apontamentos para compreendermos a história ucraniana.
Originada a partir da expansão viking, é marcada por períodos de crescimento econômico e cultural (no século XII, Kiev foi o maior centro do Leste Europeu) com invasões e anexações (mongóis, poloneses e império russo e stalinismo).
É o primeiro Estado eslavo (séc. XIV) e com curtos períodos de Estado independente. No século XIX uma parte ficou sob domínio da “Grande Rússia” absolutista e a outra foi dominada pelo Império Austro-húngaro.
Com a Revolução Russa ressurgiu a possibilidade da independência, pois os bolcheviques defendiam o direito à autodeterminação dos povos.
Com a dissolução do império czarista, a burguesia contrarrevolucionária e grupos nacionalistas ligados à Alemanha formaram a “Rada Central” para assumir o controle político da região e impedir a classe operária e os camponeses de avançarem com a Revolução. Foram derrotados por forças anarquistas makhovistas e pelo Exército Vermelho (numa Frente Única, com muitas divergências).
A incorporação da Ucrânia na “União das Repúblicas Soviéticas” não fez desaparecer as contradições, mas foram mediadas pelos bolcheviques com o tempo. A ascensão da ditadura stalinista fez ressurgir os conflitos e impôs a burocrática “coletivização forçada das fazendas” –os Kolkhoses (fazendas coletivas) no lugar dos kulaks (pequenos camponeses) – até com o confisco da produção de alimentos para priorizar a industrialização do país. Os pequenos camponeses resistiram, mas a produção agrária desestabilizou e o resultado foi a fome em toda URSS, pois a Ucrânia era a principal produtora agrícola. Foram milhões de mortes.
Na II Guerra Mundial, foi ocupada por forças nazistas que, inclusive, teve apoio de parte da população (explicado pelo ódio que tinham de toda política opressora de Stálin. Stepan Bandera, por exemplo, homenageado pelos grupos nazistas Pravy Sektor e o Azov Battalion, foi uma liderança nacionalista que apoiou a invasão na ilusão de ter a independência. Depois, traído pelos nazistas, se opôs e foi enviado para um Campo de Concentração. E os nazistas mataram mais de 5 milhões de pessoas.
Os soviéticos expulsam os nazistas em 1944. Com a reconstrução, o Leste do país recebeu investimentos e se tornou o segundo parque industrial mais importante da antiga URSS. A influência russa (moradores se consideravam “etnicamente russos”) está muito relacionado a essa questão. As províncias de Luhansk e Donetsk (região de Donbass) que se declararam independentes são do Leste da Ucrânia. E nessa atual guerra foram as portas para forças militares russas entraram em território ucraniano.
Com a dissolução da União Soviética, em 1991 se declarou independente e formou a CEI (Comunidade de Estados Independentes) com a Rússia e Belarus. Em 1994 repassou as armas atômicas para a Rússia.
Muitos historiadores argumentam que a Ucrânia não tem identidade nacional e dão como exemplo o povo brasileiro (com o Eu sou brasileiro!). Há regiões que se sentem russos (língua, tradições, etc.) como a Criméia ao Sul e Donbass ao Leste. Outras, como a capital Kiev, têm sentimento nacionalista mais fortes, ou seja, a identidade nacional é desigual e varia de região para região.
Historicamente os nacionalistas ucranianos sempre tiveram posições reacionárias e contribuem para o fortalecimento da extrema direta pelo mundo como o apoio aos alemães na I e II Guerras e agora aos Estados Unidos.