A mídia brasileira assumiu uma posição deliberadamente pró-Estados Unidos e OTAN. Isso não é novidade e revela bem como a burguesia brasileira trata os conflitos.
A Rússia está fazendo o mesmo que os Estados Unidos fizeram no Vietnã, Iraque, Afeganistão, etc. ou o que está fazendo Israel nos territórios palestinos. São invasores que defendem “liberdade”, mas, os que resistem são considerados terroristas. Também silencia sobre os Estados Unidos serem a maior ameaça atômica, terem 800 bases militares espalhadas pelo mundo (76 na América Latina) e possuírem mais de 200 mil soldados em outros países.
A OTAN (Inglaterra, Estados Unidos, França, etc.) mente ao pregar a paz. Essas potências militares já invadiram dezenas de países, mataram milhões de pessoas, financiaram golpes militares e torturas. A paz que pregam é a “paz dos cemitérios”. Assim, segue sem nenhuma crítica da mídia burguesa à OTAN ou Israel.
Putin não merece nenhuma defesa. É um governo reacionário e ditador, num Estado policial que persegue opositores, intensifica a opressão e exploração sobre a classe trabalhadora, reprime e prende pessoas LGBT+ e manifestações. Estamos contra essa guerra e contra essas invasões, necessárias para a crise estrutural em que o capital se encontra.
Também não merece defesa a presença dos Estados Unidos e a expansão da OTAN, verdadeiros desejos do governo ucraniano. Estados Unidos não estão interessados na independência ucraniana, mas em manter sua influência na Europa e seu fortalecimento em outras partes do mundo. Provocaram e incentivaram essa invasão para sustentar e ampliar o seu lucrativo e ameaçador aparato de guerra.
Somos contra a invasão e também não defendemos o governo ucraniano de Zelenski (ex-comediante de TV, eleito com discurso contra política e corrupção). Nesse momento, busca estabelecer bases militares da OTAN em território ucraniano, ou seja, não está lutando por independência. E é um governo apoiado por grupos nacionalistas de extrema-direita (alguns, inclusive, nazistas), oriundos das manifestações de 2014 na praça Maidan, e que certamente buscam fortalecer esses tipos de grupos em outros territórios.
Unidade da classe trabalhadora pelo fim da guerra! Fora Rússia da Ucrânia! Pela dissolução da OTAN, máquina de guerra, inimiga dos povos!
Nessa guerra só estão interesses capitalistas
Em toda disputa militar há informações com mentiras, manobras, etc., que apresentam ditos “defensores de interesses do povo, mas, não são. Nessa guerra está em disputa também a intensificação da exploração da classe trabalhadora ucraniana, maior vítima nesse momento já com centenas de mortes, do desemprego, da precarização da vida e da fome entre os povos nos demais territórios.
Dizem defender a “vontade do povo”, mas não houve consulta popular para decidir sobre a entrada da Ucrânia na OTAN. Pelo contrário, pesquisas apontam que a maioria da população é contra. Em 2007 eram 20%. Em 2017, com a indignação pela Rússia ter anexado a Criméia, aproximadamente 40% apoiavam a entrada. É provável que a partir dessa invasão tenha aumentado esse apoio.
As guerras interessam as burguesias porque são extremamente lucrativas de várias formas. Segundo a ONU, em 2021, foram utilizados mais de U$ 2 trilhões com armamentos. Com cada bombardeio surge a necessidade de produzir mais armas, o que também aumenta os lucros.
A burguesia ucraniana não garantirá uma Ucrânia livre e independente. O governo de Zelensky sempre expressou ser mais próximo dos Estados Unidos e da União Europeia. Portanto, enfrenta os russos não para garantir independência e sim para garantir aos países imperialistas a intensificação de expropriação das riquezas produzidas pela classe trabalhadora ucraniana.
Dessa forma, a verdadeira independência do povo ucraniano somente é possível com a unidade da classe trabalhadora da Ucrânia e da Europa como sujeitos do processo revolucionário, com o apoio e as lutas de demais manifestantes nos demais continentes.
Os revolucionários e a autodeterminação dos povos
A luta dos povos por independência nacional é uma das questões mais complexas da luta de classes e objeto de muitos debates. Para ajudar a pensar sobre a recente “questão ucraniana” vamos expor, sucintamente, parte desse debate.
Autodeterminação é o direito dos povos se separarem ou se declararem independentes de um Estado opressor e se constituírem como Nação independente. É histórica a luta e a conquista do direito dos povos se autodeterminarem dos Estados opressores.
No início do século XX esse tema foi muito polêmico no movimento socialista. Por exemplo, Rosa Luxemburgo era contra e Lênin a favor. Como a Rússia czarista dominava vários povos a questão da independência nacional foi uma das primeiras preocupações da Revolução Russa.
Durante o processo revolucionário prevaleceu a posição de que o Estado soviético não poderia impor aos povos antes dominados pelo império czarista (Geórgia, Ucrânia, Polônia, etc.) que fizessem parte da República Soviética. Para os Sovietes a República Soviética Russa deveria ser “na base de uma união livre de nações, como uma federação de repúblicas nacionais soviéticas”. (Terceiro Congresso dos Sovietes).
Para os bolcheviques a expansão da Revolução era uma questão fundamental, mas sabiam que revoluções não se impunham de fora para dentro, pois era uma tarefa a ser realizada pela própria classe.
Em 1918, lançam a “Declaração dos Direitos do Povo Trabalhador e Explorado” apelando para a formação de uma Federação de Repúblicas Soviéticas, em uma aliança livre e voluntária entre os povos. Um chamado aos povos oprimidos pelo czarismo a se somarem à Revolução, formando a federação e mantendo a autonomia de cada nacionalidade e assim fortalecendo a Revolução e o poder soviético. Isso representava também uma alternativa para outros povos dominados pelo imperialismo como as diversas nacionalidades africanas.
Seguir esse exemplo nos dias de hoje, com a construção de uma Federação Socialista de Países da América Latina a partir de necessidades fundamentais da classe trabalhadora, permitiria aos povos do continente aproveitar coletivamente sua produção de alimentos, energia, água, petróleo, parque industrial, etc., ou seja, toda a riqueza produzida. E, ao mesmo tempo, permitiria respeitar de fato a autonomia territorial e cultural de cada país e com a plena autonomia.
Como parte dessa política os bolcheviques assinaram tratados com a Polônia, Lituânia, Estônia, Ucrânia, Letônia, dentre outros. Garantiram a independência desses países e perdoaram as dívidas que tinham com o regime czarista opressor.
Mas, também tiveram erros como a invasão da Geórgia, defendida ardorosamente por Stálin. Lênin inicialmente apoiou e pouco antes de morrer mudou de posição com pesadas críticas à política de Stálin.
Com a contrarrevolução stalinista, o princípio revolucionário de não “imposição do socialismo” pela invasão do Exército Vermelho foi rompido em 1939 quando, sob ordens de Stálin, a ex-URSS ocupa territorialmente a Lituânia, Estônia e Letônia. Uma ação contrarrevolucionária que serviu para alimentar o ódio contra o socialismo, bem diferente dos bolcheviques que eram contra a invasão, mas corretamente apoiavam movimentos revolucionários nesses países eles desenvolverem os processos revolucionários.
Atualmente há muitos povos que lutam pelo direito democrático de se constituírem como Estado independente (Curdos contra Irã, Síria, Turquia e Iraque; palestinos contra o Estado racista de Israel; catalães e bascos contra Madrid, etc.). Emancipação Socialista apoia esses povos em sua luta contra as nações opressoras e também luta pela união livre e voluntária de todos os povos contra o capitalismo e pela Revolução Mundial.
As burguesias não garantem a independência nacional, pois são dependentes economicamente do imperialismo e por isso se associam a ele para, juntos, atacarem a classe trabalhadora de cada país.
Só o socialismo pode garantir a liberdade plena para os povos do mundo
Nós, Emancipação Socialista, apoiamos as lutas e a unidade da classe trabalhadora por todo o mundo contra seus governos capitalistas; contra as invasões, guerras e nações opressoras que impõem a fome e o extermínio! Defendemos a união livre e voluntária de todos os povos por uma sociedade socialista! Por uma revolução mundial para o fim o sistema opressor e explorador!
Um brevíssimo resumo histórico da Ucrânia
Não é a primeira vez que a Ucrânia é invadida pela Rússia. O império czarista e Stálin já tinham imposto a fome (Holodomor, por exemplo), o extermínio de milhões e controlado pela força o povo ucraniano. E novamente está no epicentro das disputas econômicas e geopolíticas entre potências militares. Seguem alguns apontamentos para compreendermos a história ucraniana.
Originada a partir da expansão viking, é marcada por períodos de crescimento econômico e cultural (no século XII, Kiev foi o maior centro do Leste Europeu) com invasões e anexações (mongóis, poloneses e império russo e stalinismo).
É o primeiro Estado eslavo (séc. XIV) e com curtos períodos de Estado independente. No século XIX uma parte ficou sob domínio da “Grande Rússia” absolutista e a outra foi dominada pelo Império Austro-húngaro.
Com a Revolução Russa ressurgiu a possibilidade da independência, pois os bolcheviques defendiam o direito à autodeterminação dos povos.
Com a dissolução do império czarista, a burguesia contrarrevolucionária e grupos nacionalistas ligados à Alemanha formaram a “Rada Central” para assumir o controle político da região e impedir a classe operária e os camponeses de avançarem com a Revolução. Foram derrotados por forças anarquistas makhovistas e pelo Exército Vermelho (numa Frente Única, com muitas divergências).
A incorporação da Ucrânia na “União das Repúblicas Soviéticas” não fez desaparecer as contradições, mas foram mediadas pelos bolcheviques com o tempo. A ascensão da ditadura stalinista fez ressurgir os conflitos e impôs a burocrática “coletivização forçada das fazendas” –os Kolkhoses (fazendas coletivas) no lugar dos kulaks (pequenos camponeses) – até com o confisco da produção de alimentos para priorizar a industrialização do país. Os pequenos camponeses resistiram, mas a produção agrária desestabilizou e o resultado foi a fome em toda URSS, pois a Ucrânia era a principal produtora agrícola. Foram milhões de mortes.
No pós-guerra
Foi ocupada por forças nazistas que, inclusive, teve apoio de parte da população (explicado pelo ódio que tinham de toda política opressora de Stálin. Stepan Bandera, por exemplo, homenageado pelos grupos nazistas Pravy Sektor e o Azov Battalion, foi uma liderança nacionalista que apoiou a invasão na ilusão de ter a independência. Depois, traído pelos nazistas, se opôs e foi enviado para um Campo de Concentração. E os nazistas mataram mais de 5 milhões de pessoas.
Os soviéticos expulsam os nazistas em 1944. Com a reconstrução, o Leste do país recebeu investimentos e se tornou o segundo parque industrial mais importante da antiga URSS. A influência russa (moradores se consideravam “etnicamente russos”) está muito relacionado a essa questão. As províncias de Luhansk e Donetsk (região de Donbass) que se declararam independentes são do Leste da Ucrânia. E nessa atual guerra foram as portas para forças militares russas entraram em território ucraniano.
Com a dissolução da União Soviética, em 1991 se declarou independente e formou a CEI (Comunidade de Estados Independentes) com a Rússia e Belarus. Em 1994 repassou as armas atômicas para a Rússia.
Muitos historiadores argumentam que a Ucrânia não tem identidade nacional e dão como exemplo o povo brasileiro (com o Eu sou brasileiro!). Há regiões que se sentem russos (língua, tradições, etc.) como a Criméia ao Sul e Donbass ao Leste. Outras, como a capital Kiev, têm sentimento nacionalista mais fortes, ou seja, a identidade nacional é desigual e varia de região para região.
Historicamente os nacionalistas ucranianos sempre tiveram posições reacionárias e contribuem para o fortalecimento da extrema direta pelo mundo como o apoio aos alemães na I e II Guerras e agora aos Estados Unidos.