O processo da construção cultural no Brasil é denso e extenso, porém para entendermos a juventude que constitui os meios culturais atualmente é preciso compreender inicialmente a formação histórica do que foi (e do que é) considerado cultura e como essa estrutura trouxe reflexos socioculturais para diferentes expressões artísticas.
Essa construção não se inicia com a colonização, porém, esse fato histórico, influencia muito na nossa realidade artística, sobretudo quando se trata das nossas raízes ancestrais herdadas dos povos originários. Essa influência foi negada durante muito tempo, como um projeto da burguesia de apagar a importância cultural e a comprovação da existência desses grupos anteriormente marginalizados.
A religião, o artesanato e a preservação da memória foram os pilares para a conservação da expressão que influência na composição artística da juventude de hoje. A pluralidade existente na nossa formação cultural advém, justamente, da resistência de povos que compuseram e compõem a classe produtora dos meios de subsistência: a classe trabalhadora.
Vale ressaltar que a repressão sofrida pelos movimentos culturais, principalmente o de periferia, perdura ainda nos dias de hoje. Sendo assim, a precarização dos meios culturais também deve ser uma preocupação da classe trabalhadora, principalmente dos militantes da esquerda radical.
A expressão artística, para a juventude atual, tem sido secundarizada na sua realidade de violência e opressão, que a condiciona a buscar meios para sobrevivência. A escrita, a pintura e a arte teatral são formas de expressão que foram tomadas e voltadas para as elites, que concentram a maior parte de artistas prestigiados.
Entretanto, o sucateamento de projetos sociais, sobretudo nas favelas, dificulta que possa surgir figuras que representem e que eternizem as vivências e realidades da classe trabalhadora artística. Todas essas repressões propositais impostas pela classe dominante, que tem centrado várias formas de violência contra os jovens, são carregadas da ideologia neoliberal. Além de precarizarem os meios de trabalho, criam meios de alienação através da meritocracia, que empurram jovens periféricos a acreditarem nas propostas irreais do capitalismo.
Os meios educacionais seguem o mesmo propósito
Atualmente os meios educacionais, novamente, apresentam o resultado das investidas do sistema capitalista com a implementação do Novo Ensino Médio, que tem como fundamento tratar a mão de obra da maioria da juventude como “empreendedora”, tirando-a ainda mais dos meios culturais. Esse fato contribui para a degradação da subjetividade da classe trabalhadora, tirando o papel de sujeito artístico e, por conseguinte, de sujeito questionador e ocupante de meios de expressão, tendo em vista que o que tens é desemprego ou sua própria mão de obra.
Dessa forma, essa desumanização financiada pela burguesia, que age como ‘parasita’, afeta intimamente o trabalhador que passa a não somente se enxergar, mas também enxergar o indivíduo da mesma classe, como indiferente já que é arrancada (de si e do outro) a sensibilidade de expressão.
Infere-se, portanto, que a organização entre proletariados e proletárias, a fim de iniciar uma mobilização de massas, precisa ser tratada como prioridade para romper com as amarras que oprimem a classe trabalhadora com seus filhos e filhas em todos os aspectos de sua vivência, sobretudo culturalmente.
Sendo assim, compreender que lutar contra o comércio predatório, a propriedade privada, a mercantilização e destruição das expressões culturais é lutar a favor da renovação da subjetividade e da existência, considerando que a história parte proletários/as, homens e mulheres de carne e osso, da classe trabalhadora.