O 41º Congresso do Associação Nacional dos Docentes do Ensino Superior – Sindicato Nacional deliberou pela desfiliação da CSP-Conlutas. Os que defenderam a desfiliação apontaram que diante da atual conjuntura política do país, em particular, “com o avanço do fascismo” (principalmente, depois de 08 de janeiro), seria um momento delicado continuar filiado à CSP-Conlutas.
Essa votação é uma expressão de um processo social mais profundo: as ilusões que os setores médios de trabalhadores e uma ampla camada de ativistas têm no governo Lula. Entretanto, sabemos que essas ilusões são frágeis. O governo de Frente Ampla de Lula, constituído pelo PT, Alckmin, Marina Silva e por Simone Tebet, não romperá com os contratos, com as grandes corporações e continuará o impagável pagamento da dívida pública aos bancos e especuladores.
Uma política que, em resumo, não resultará em concessões aos professores do ensino superior federal, nem aos servidores de conjunto e nem à classe trabalhadora mais explorada. Muito pelo contrário.
Em algum momento vai surgir o descontentamento social e a esquerda precisa se preparar não ser aproveitado pela extrema-direita ou por setores burgueses liberais que estão fora do governo.
A CSP-Conlutas não se afirmou como um polo alternativo e de combate à extrema-direita
Ao analisarmos as motivações internas de um sindicato de peso do funcionalismo federal e que era um dos principais da CSP-Conlutas tomou esta decisão, não podemos deixar de mencionar os problemas no interior desta última. Lembrando que a CONLUTAS surgiu em 2004, um racha extremamente progressivo da CUT, que se tornara central chapa branca do primeiro Lula e apoiara a nefasta II Reforma da Previdência.
No início conseguiu atrair importantes sindicatos e oposições sindicais (ainda que minoritários), mas a burocratização da CONLUTAS foi ganhando força. Já no Congresso de 2006, a sua direção majoritária, dirigida pelo PSTU, optou por construir um aparato sindical, uma nova central, sob o seu controle.
Esta burocratização se concretizou no CONCLAT de 2010, congresso para unificação com a Intersindical. A polêmica principal e que causou o racha foi sobre o nome desta Central (Central Sindical Popular ou Central Sindical Popular -CONLUTAS). Entre 30 e 40% dos delegados romperam com o Congresso. Esse debate era a aparência, pois de fundo se tratava de uma discussão aparatista e oportunista, tanto do PSTU quanto da minoria que rompeu.
Enfraquecida, justamente no momento em que crise estrutural do capital começou a bater com força no Brasil, a CSP-CONLUTAS, não conseguiu se colocar como alternativa real aos protestos populares, primeiro de 2013/14 e depois de 2015/16, que culminaram no impeachment da Dilma e estão na base do surgimento da extrema-direita de massas.
A derrota de metroviários em 2014, a ofensiva da direita e da extrema-direita, os ataques sobre a classe trabalhadora, o fortalecimento da Operação Lava-Jato; o impeachment e a ascensão de Temer, a Reforma Trabalhista de 2017, a vitória de Bolsonaro em 2018, a Reforma da Previdência, foram momentos decisivos na luta de classes nos quais a central não conseguiu avançar, pelo contrário, seguindo a política do PSTU, chegou a defender um “Fora Dilma”, mesma política da direita e dos defensores da Lava-Jato, agitando o “Fora todos!”. Assim, a CSP-CONLUTAS se mostrou mais um aparato superestrutural do que um organismo vivo. Mesmo com a importante Greve Geral de 2017 não se consolidou como alternativa.
Além disso, frente à desindustrialização e desemprego no setor fabril, a CSP-CONLUTAS, que tem como principal sindicato o de Metalúrgicos de São José dos Campos, acabou se rendendo a um sindicalismo de resultados frágeis. Nos recentes acampamentos da extrema-direita, em final de 2022, nem apareceu, quando até torcidas organizadas tiveram respostas mais contundentes.
Unidade da classe trabalhadora para enfrentar os futuros ataques do capital e a extrema-direita
Com certeza não será, como alguns propõem no ANDES-SN, se aliando às entidades sindicais burocráticas e degeneradas, como a CUT, correias de transmissão do governo e dos seus ataques. Porém, insistir na construção de novos aparatos sindicais e burocracias, se mostrou novamente uma política falida. Assim foi com a CSP-Conlutas, como também com as duas Intersindicais. Portanto, é preciso recompor, um campo de luta por fora da esfera governamental, incluindo aí a própria CSP-Conlutas, setores das Intersindicais, o PCB e os milhares de ativistas que podem se animar com um processo de base e democrático.
É necessário que este campo político prepare plenárias de base nos locais de moradia, trabalho e estudo, organizando todos os setores do movimento social, para construir a unidade e a luta pelas reivindicações, como a anulação das reformas, direitos sociais aos trabalhadores precarizados, congelamento de preços e tarifas, salário-mínimo do DIEESE, etc. Somente pela base, poderá se organizar os explorados para enfrentar não somente a extrema-direita, mas também o capital e os seus governos de turno.