Para o dia 03/03/2023 está marcada a assinatura do Contrato de Concessão do Metrô de Belo Horizonte, o que poderá ser a primeira privatização do atual mandato de Lula. E sabemos que a mobilidade urbana é um dos principais problemas das grandes cidades do país.
Temos um preço elevado das passagens de ônibus, que em Belo Horizonte sobem “costumeiramente” acima da inflação. Em 2022 e 2023 as passagens aumentou em torno de 3% ao ano e acima da inflação acumulada. Além de termos uma demora elevada nos trajetos e na espera em pontos, chama a atenção de qualquer pessoa, que não esteja hipnotizada pelo ritmo das cidades, a degradante forma de como os trabalhadores são abarrotados dentro dos ônibus, lembrando os navios negreiros.
O Metrô é uma alternativa rápida e que teve um preço acessível até 2019. Daí a tarifa aumentou 150% em dois anos, medida chave para preparar a privatização e tirar o apoio da população ao transporte público, por um lado. E, por outro, deixando atrativo para algum possível comprador.
Outro elemento muito importante para jogar a população contra seu patrimônio é a falta de investimentos ao longo dos anos, os últimos em ampliação são de 2002. Os governos do PT nada fizeram nesse período, nas duas campanhas de Dilma houve a promessa de ampliação, mas o projeto ficou só no papel. Então, Bolsonaro e Zema defenderam que a privatização traria ampliação. E a campanha liberal conseguiu convencer parte da população que a privatização é a ampliação.
Na verdade, até mesmo a ampliação, caso a venda se efetive, será feita com recursos públicos. O grupo Comporte (dono de várias empresas de ônibus), que venceu o leilão por apenas R$ 25 milhões (valor inferior ao preço de dois vagões), receberá R$ 3,2 bilhões só de recursos públicos – sendo R$ 2,8 bilhões da União e R$ 440 milhões do estado de Minas Gerais. Esse absurdo incentivou a campanha “Metrô a Preço de Banana”. Dado que a estrutura do Metrô, apesar de muito aquém da necessidade, envolve 28,1 Km de via, 19 estações, 2 oficinas, 35 trens, etc.
Os partidários do governador privatista Zema saíram em defesa do negócio com o discurso de que não é venda, é uma concessão de “apenas” 30 anos. Mas, logo foi desmascarado com a simples comparação: seria o mesmo que você ter um imóvel de R$ 500 mil, não ter outro para morar, o alugar por R$ 17 por 30 anos e ainda dar R$ 200 mil para o locatário construir um quarto.
Diferente de outras privatizações, nessa do Metrô, o ministro Guedes do governo Bolsonaro assinou uma Resolução (206 de 13/12/21) proibindo a transferência dos trabalhadores concursados da CBTU. Assim, os trabalhadores metroviários poderão ficar sem qualquer proteção legal ou manutenção de seus direitos, no caso de se efetivar essa doação do Metrô.
Os trabalhadores Metroviários têm lutado desde 2021 contra a venda. Foram ações na Justiça, campanha nas mídias de esquerda, abaixo-assinados com inúmeras organizações, 4 greves com parada total e parcial dos trens (sendo uma a maior da história da categoria, 42 dias), panfletagens junto à população, adesivos, camisetas, entrega de bananas (simbolizando o preço), passeatas, articulação com parlamentares de esquerda, etc. Porém, o inimigo tem agido e avançado com campanha em emissoras de TVs, Justiça multando sindicato e proibindo greves, jornais de direita fazendo campanha pela venda e, inclusive, com o apoio do Ministro do PT Rui Costa.
O conjunto do movimento sindical e de esquerda se mantêm no corporativismo e não têm dado a devida importância para essa bandeira de luta. E mesmo quando tiveram a oportunidade de falar com Lula, não houve sequer uma denúncia pública.
Zema, no discurso, tem atacado o governo Lula e tem tido resposta de ministros petistas. E na prática, Lula vai abraçar Zema e entregar o Metrô ou vai ficar ao lado dos Metroviários e trabalhadores que precisam de transporte barato e rápido?
Ao longo da história, governos de Frente Popular buscam fazer acordos com os inimigos pisando nos operários que os ajudaram a eleger, daí quando precisam dos operários para se defender da extrema-direita, não têm apoio social. Quem pararia os trens contra a extrema-direita, Zema ou os Metroviários? Como o PT manterá apoio popular, investindo e ampliando o Metrô, inclusive colocando nomes históricos nas novas estações, ou entregando dinheiro na mão da iniciativa privada?
Ainda há tempo para a esquerda dar a devida importância à forma como mineiros e mineiras são transportados e pressionar o governo Lula contra a sua primeira privatização este ano! Contra a Venda do Metrô! Ampliação das linhas pelo governo e trabalhadores já!