A imprensa brasileira se refere às lutas na França só sobre a “violência dos manifestantes” e a polícia reagindo. É a velha forma de esconder a realidade: a luta mais importante da classe trabalhadora francesa nas últimas décadas.
São 11 datas que milhares saem às ruas. A última foi na quinta, dia 06 de abril. Segundo o governo foram 570 mil pessoas se manifestando. Já os sindicatos, dizem ser mais de dois milhões. Como Macron só sabe mentir… A central sindical CGT falou em “mais de 370 aglomerações previstas. Em Paris foram 400.000, mais 170.000 em Marselha e 50.000 em Nantes e outros tantos bloqueios de estradas e rotatórias por várias cidades do país.
Vários vídeos circulam pela internet com manifestantes ocupando o escritório da BlackRock, que é a maior empresa de ativos do mundo. O toldo do tradicional restaurante La Rotonde, um local favorito de Macron, também foi incendiado. O aeroporto Charles de Gaulle também foi bloqueado.
E a juventude tem sido um polo importante. Os setores precarizados e estudantes são parte importante dessa luta.
E também teve solidariedade internacionalista: trabalhadores belgas bloquearam um depósito de petróleo que deveria abastecer postos de gasolina franceses. A TotalEnergies tem tentado abastecer o mercado francês a partir da Bélgica. Daí a importância dessa ação de trabalhadores belgas.
O objetivo é derrubar a reforma da previdência, mas tem outras pautas
É de fato uma mobilização que alcançou os vários setores da população, estudantes e, o mais importante, setores operários, como os petroleiros, todos que vão sofrer as consequências da reforma.
Todo esse movimento deixou o governo encurralado, com baixíssima popularidade e até mesmo partidos de direita duvidando de sua capacidade de governar. Mas, ele segue resistindo e batendo o pé para manter a reforma que foi imposta de forma antidemocrática pela cláusula 49.3 da Constituição.
Com toda essa força do movimento, Macron se apegou a uma feroz repressão contra o movimento. Já são milhares de prisões e violência policial nas ruas.
Lembremos que esse movimento começou em janeiro em resposta à decisão de Macron de impor mais dois anos à idade para as pessoas reivindicarem a aposentaria e é uma luta que segue, mas agora há outros pontos, como as questões democráticas, a violência da polícia, a organização do movimento social e também questões táticas e estratégicas.
Para onde ir?
Mesmo com essa impopularidade de Macron, a divisão nos partidos de direita e a forte mobilização, pelo menos por enquanto, a reforma da previdência continua valendo. Macron e a burguesia francesa sabem se o movimento for vitorioso, as coisas não vão parar. Por isso resiste!
Um debate que um setor dos ativistas levanta é a necessidade de uma greve geral por tempo indeterminado. Inda que muito importante, essa forma de luta não tem conseguido fazer Macron recuar. Por isso é preciso avançar nos métodos de luta.
A disposição de luta, as novas formas de organização que estão sendo construídas e experimentadas, a solidariedade entre trabalhadores de categorias diferentes coloca a possibilidade de construir essa greve geral. Ou seja, é uma possibilidade concreta.
Mas, como aqui no Brasil, na França há uma forte burocracia sindical que sempre apela para a conciliação com o governo e os patrões. Dessa vez se iludem com o Conselho Constitucional que se reunirá no dia 14 de abril para decidir se a Reforma previdenciária foi aprovada de maneira legal.
O Conselho Constitucional também deve decidir se deve permitir um referendo sobre a reforma. Esse referendo exige o apoio formal de 185 deputados (já está garantido) e mais 10% dos eleitores (4,87 milhões de pessoas) num prazo de nove meses.
Essa é uma tática que serve para dividir o movimento e para tirar o povo da rua, dando mais tempo para Macron se rearticular e derrotar o movimento.
A próxima mobilização é na quinta-feira, 13 de abril um dia antes do conselho se reunir. Dias de luta, são muito importantes, mas têm se mostrado insuficientes. Por isso, necessidade de uma Greve Geral por tempo indeterminado, única forma de o governo, os patrões e o Poder Judiciário recuarem.