Nós, Emancipação Socialista, temos afirmado que a democracia burguesa tem se tornado cada vez mais autoritária.
E se, antes, a burguesia apelava para golpes de Estado ou regimes fascistas para aumentar a repressão contra a classe trabalhadora, agora, os próprios “governos democráticos” e as instituições da democracia burguesa intensificam essa repressão.
Tanto nos países periféricos quanto nos países imperialistas a intensidade dessa repressão aumentou muito.
A repressão é uma combinação das ações cada vez mais violentas da polícia (bombas de gás, armas letais, tiros de bala de borracha na cabeça com lesões no cérebro, nos olhos, etc.), com as ações dos parlamentares que aprovam novas leis para criminalizar os movimentos sociais e as do Judiciário que busca condenar ativistas e lutadores.
Essa realidade no Brasil tem sido encontrada também em vários outros países, não só na América Latina como na Europa. E na França esse aumento da repressão contra a classe trabalhadora extrapolou nesse último período.
As violências policial e judicial
A classe trabalhadora francesa tem lutado espetacularmente contra a crise econômica e social no país. Foram passeatas dos Coletes Amarelos durante semanas e de janeiro a maio foram 13 dias Nacional de Luta Contra a Reforma da Previdência, que reuniram mais de 3,5 milhões de pessoas.
Depois, nas regiões periféricas de Paris ocorreram as manifestações contra o assassinato em 27 de junho pela polícia de Nahel Merzouk (17 anos, origem argelina, estudante do Ensino Médio).
Outro grave caso de violência policial contra mobilizações ocorreu em Marselha, quando o jovem Hedi, também de origem africana, foi espancado, atingido por bala de borracha, teve a mandíbula quebrada e perdeu parte de seu crânio. O jovem foi socorrido pelo dono de uma mercearia, enquanto os policiais o deixaram sangrando.
Mohamed Bendriss, também vítima fatal da violência policial nos protestos em Marselha, morreu após ser atingido por granadas “flash-ball”.
Em Mont-Saint-Martin, o jovem Aimene foi atingido por “bean bag” (cartucho de chumbo) e continuava em coma.
A polícia francesa cegou cinco pessoas, arrancou a mão de uma pessoa e espancou dezenas de outras.
Em quatro noites de protestos em julho, contra o assassinato de Nahel Merzouk, a polícia francesa efetuou 3.400 prisões (metade foi levada a tribunal, 95% foram consideradas culpadas e dois terços os juízes mandaram para a prisão).
Para efeito de comparação, em um ano de luta dos Coletes Amarelos ocorreram 3.204 condenações e 440 Coletes Amarelos presos.
Segundo o site Contre Attaque, em termos de danos humanos, tratamento judicial e arsenal utilizado, a repressão de junho-julho de 2023 é simplesmente sem precedentes desde a Guerra da Argélia. É muita repressão.
Macron e a polícia
Mesmo com muito desgaste, Macron conseguiu sobreviver politicamente e colocar a polícia e os tribunais para perseguirem e punirem manifestantes. Agora, tenta mostrar para a burguesia que ainda é capaz de governar a França. Segundo ele, a lição que tirou das revoltas populares é que o país precisa de “ordem, ordem, ordem” e que o “país precisa de um retorno à autoridade em todos os níveis, começando pela família”.
Esse discurso se somou à mobilização dos policiais contra a prisão de um policial que participou da morte do jovem Hedi e de outros cinco por participação no assassinato de Mohamed Bendriss.
O chefe da polícia nacional, Frédéric Veaux, chegou a dizer que “um policial não deveria estar na prisão, mesmo que tenha cometido falhas graves durante seu trabalho”. Por orientação do sindicato, centenas de policiais pediram licença médica, fazem rondas aleatórias, não reprimem pequenos delitos e patrulhas não acontecem.
Essa mobilização contou com o apoio do governo, dos chefes policiais e do Poder Judiciário pelo direito de matar manifestantes.
Para nós, classe trabalhadora, a lição mais importante dessas mobilizações é confirmação de que a democracia burguesa, aqui ou na França, nada tem de democrática, pelo contrário, é uma ditadura da burguesia e seus lacaios, contra a nossa classe.