“É imperdoável nossa atitude de indiferença diante de uma das tarefas essenciais da classe trabalhadora. É inexplicável e injustificável que o vital problema sexual seja relegado, hipocritamente, ao arquivo das questões puramente privadas. Por que negamos a este problema o auxílio da energia e da atenção da coletividade? As relações entre os sexos e a elaboração de um código sexual que regulamente estas relações aparecem na história da humanidade, de maneira invariável, como um dos fatores da luta social. Nada mais certo do que a influência fundamental e decisiva das relações sexuais de um grupo social e determinado no resultado da luta dessa classe com outra, de interesses opostos.” (Alexandra Kollontai, 1911)
Há mais de um século, a revolucionária Alexandra Kollontai já indicava que uma das tarefas essenciais de nossa classe social é a atenção e auxílio às relações entre os sexos, na luta das classes sociais opostas.
E o sistema capitalista para aumentar a exploração tem, de fato, adquirido um caráter mais violento e doloroso sobre a mulher da classe trabalhadora com a intensificação da opressão (do patriarcado, do machismo, do racismo, do preconceito, da constante retirada de direitos, das desigualdades sociais, etc.) com o respaldo da burguesia de conjunto, sua extrema-direita e, consequentemente, da mulher burguesa.
Para sustentar esse tipo de sociedade violenta, de tempos em tempos, essa burguesia reprime ainda mais e de variadas formas o sexo feminino, as relações sociais e sexuais da classe trabalhadora.
No Brasil e no mundo, para a parcela da população explorada, têm sido ditados o aumento do conservadorismo, da necessidade de religião, uma hipócrita moral sexual, etc. que reproduzem sem limites, no cotidiano, a perversidade de uma vida sem sentido.
Enquanto isso, uma parcela da sociedade tem seguido indiferente, outra tem criado poucas e não aplicáveis leis, incentivado saídas individuais, impulsionado participações ditas democráticas que remediam e tentam controlar a consciência, a organização, as revoltas e as lutas contra o poder do Estado, da propriedade privada e do homem.
A indiferença diante da violência
Com isso, a situação das mulheres que vivem de seu próprio trabalho, são ou não negras, são ou não transsexuais (procuram emprego, dependem de Saúde e Educação públicas, tenham ou não filho para criar etc.), sob as imposições do capitalismo, é de sofrimento e resistência contra esses mais diversos tipos de violências e contra os mais cruéis resultados das ações da classe que vive de nos explorar (empresárias/os, grandes comerciantes, agronegócio, seus vários políticos etc.).
No dia a dia, a maioria de mulheres que precisa trabalhar para sobreviver, no Brasil, enfrenta miséria, fome, demais violências extremadas e o aumento do feminicídio.
Poderíamos demonstrar os dados sobre a intensificação dessas mais variadas formas de violência, mas trazemos os dados do aumento do número de feminicídios notificados de mulheres da classe trabalhadora:
Houve um aumento de 5% nos casos de feminicídio em 2022 e 2,6% de homicídios, em comparação com 2021. São 1,4 mil mulheres mortas apenas pelo fato de serem mulheres; uma é morta a cada 6 horas, em média.
Em dados divulgados em 2022, as mulheres negras foram as principais vítimas de feminicídio. Representaram 67% dos casos notificados em 2020.
Em 2022 foram assassinadas 130 mulheres trans e travestis. E 76% das vítimas eram negras.
Dessa forma, podemos entender que as desigualdades sociais são ainda mais violentas nas desigualdades de gênero e de raça.
As Leis do Feminicídio e Maria da Penha não são efetivas e nem aplicadas para pôr fim às desigualdades. Os diversos governos dizem reconhecer a gravidade, mas não há os urgentes enfrentamentos para mudar essa realidade.
Durante o governo Bolsonaro, o aumento de feminicídios contou com um corte de 90% das verbas públicas contra a violência doméstica e com a “flexibilização” do acesso à arma de fogo (o mais utilizado instrumento para esses assassinatos.
O governo Lula iniciou seu mandato com o Ministério das Mulheres colocando como um eixo a retomada da Casa da Mulher Brasileira nas capitais. No entanto, num país com mais de 5500 municípios e apenas 7 Casas. Outro eixo apresentado é o fim da desigualdade salarial, enquanto mantém um salário-mínimo de R$ 1302,00 com o valor de uma cesta básica necessária em R$ 6641,00.
Contudo, essa parcela de homens da classe trabalhadora segue matando, mantendo a dependência financeira e exigindo propriedade do corpo e da mente, o que parece ser relegado até pelos movimentos sociais.
Salvar a própria vida ou garantir seu autossustento é quase impossível para grande parcela das mulheres da classe trabalhadora, a depender das políticas públicas necessárias que não são garantidas historicamente no Brasil por seus governos.