Os anos 1960 foi muito agitado politicamente: Golpes militares, revoltas populares, lutas populares, resistência às invasões na Tchecoslováquia e no Vietnam, Maio de 68 na França, entre outros eventos.
Culturalmente também tivemos muitas manifestações pelo mundo afora, como o surgimento do chamado “acid rock” (sim, o Rock já foi rebelde..) com The Doors, Pink Floyd, Janis Joplin, Jimi Hendrix e o seu ápice com o Festival de Woodstock em 1969. No Brasil, como parte da resistência à ditadura militar, a MPB crescia com nomes como Geraldo Vandré, Chico Buarque, Caetano, Gilberto Gil, sem falar nos Mutantes, Secos e Molhados e um longo etecetera.
Podemos citar muitos outros, mas, nesse tempo de manter viva a memória do povo chileno contra o golpe de Pinochet de 1973, vamos falar do movimento, inspirado nas lutas populares da América Latina, Nueva Canción Chilena, movimento que valorizava os elementos da cultura popular, resgatando a musicalidade, a temática e a luta dos mais necessitados, tornou-se a trilha sonora do período do governo de Salvador Allende (1970-73).
Conforme disse Francisco Prandi no Jornal Brasil de Fato, “O movimento da Nueva Canción Chilena talvez tenha sido um dos mais maduros de sua época” com uma “forma de fazer canções, de pensar a cultura, refletia uma situação muito convulsiva, em que parecia ser possível tocar o céu com as mãos.”
Faziam parte desse movimento artistas como Violeta Parra, Rolando Alarcón, Patricio Manns, Víctor Jara, Ángel e Isabel Parra e os grupos Inti Illimani e Quilapayún, entre outros. Suas músicas partiam de diferentes elementos da cultura popular e dava a elas um conteúdo político, denunciando as mazelas desse mundo, mas principalmente afirmando as premissas de um mundo sem exploração.
Violeta Parra, uma das percussoras, viajou muito pelo interior chileno, conhecendo as canções populares que eram totalmente marginalizadas na “cultura dominante” da época e, aos poucos, foi dando força social e política a essas canções de natureza social. Violeta morreu antes da popularização do movimento, mas influenciou toda uma geração.
A abertura do Centro Cultural “La Peña de los Parra” em Santiago no ano de 1965 foi muito significativo, pois atraiu cantores como Víctor Jarra, Rollando Alarcón e Patricio Manns, mais tarde, todos foram expoentes populares do movimento musical. A palavra “pena” tem vários significados, como “festa”, “reunião de bar”, “grupo” ou até mesmo “gangue”, nome que expressava bem a diversidade cultural desse movimento.
Um movimento cultural popular, por óbvio, logo se integraria ao movimento social, passando a defesa das posições da Unidad Popular (coalizão de partidos de esquerda que elegeria Allende presidente em 1970).
Francisco Prandi afirma que, no período do governo Allende, o Movimento Nueva Canción passa por três fases: a primeira é a continuação do momento anterior, a da construção de ideias; o segundo período, na crise do governo, são as “canções contingentes, para ridicularizar os oponentes e denunciar sabotagens” e; a terceira, após o golpe, “quando não fazia mais sentido cantar músicas triunfalistas” é o momento da canção do exílio, música que fala da “nova realidade, da resistência à ditadura”.
Para os golpistas um movimento cultural radical como esse não poderia sobreviver e assim foi atacado com extrema violência. Victor Jarra, um dos seus principais nomes, foi brutalmente assassinado. Outros tiveram que ir para o exílio.
É um movimento histórico e que permanece na memória das lutas sociais, como foi na revolta do povo chileno de 2019, quando muitas dessas músicas eram cantadas pelo povo nas ruas, mostrando como, depois de décadas, a Nueva Canción continua nova como nunca.
Musicalmente, a argentina Mercedes Sosa, a maior expressaõ do movimento “Nuevo Cancionero” (Novo Cancioneiro) cumpriu um papel importante para manter vivo esse movimento regravando e levando o trabalho de Violeta para outros países da América Latina.
Algumas das principais músicas da Nueva Canción Chilena:
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