Zeca do PT, deputado estadual e ex-governador do Mato Grosso do Sul, demonstrou quais são as consequências da aliança do “progressismo” e o que há de mais conservador no Brasil, os latifundiários do agronegócio. Na sessão da Assembleia Legislativa do dia 9/3, Zeca do PT disse ser “uma barbaridade o que estão fazendo com o amigo e companheiro Raul”, em referência ao fazendeiro José Raul das Neves Jr. que cultiva, irregularmente, soja em território Guarani no município de Rio Brilhante.
Ainda afirmou que “dois ônibus derramaram indígenas lá”, referindo-se à ação de retomada do Tekoha, movimento social protagonizado pelo povo Guarani-Kaiowá que possibilitou o avanço das demarcações de terras, mesmo contra a vontade dos governos.
A fala do parlamentar é um desrespeito à luta dos povos originários que, inclusive, ajudou a eleger candidatos do PT que diziam trazer um novo tempo, depois de quatro anos de intensos ataques da extrema-direita. Também o presidente Lula não aceitará “invasões” de terras e que a demarcação e reforma agrária só sairão com a compra de terras.
Ao deslegitimar a luta indígena e defender a propriedade privada acima do direito à vida, a posição do deputado e do presidente da República tem consequência direta no aumento da violência contra esses povos que sofrem há séculos o esbulho de seu território num dos estados que mais mata indígena.
A fala de que “não há estudo antropológico definindo ser terra indígena”, além de inverídica, não justifica a defesa do latifúndio. A terra dos Guarani- Kaiowá integra a Terra Indígena Brilhantepagua cuja demarcação ainda não foi finalizada, com o processo se arrastando desde 2007.
Esta fala de Zeca do PT não é isolada. Há uma contradição no discurso do governo, que se diz ao lado dos pobres, mas que governa para os grandes proprietários. Um Ministério dos Povos Indígenas pode ser apenas uma chancela para uma política de governabilidade do capital.