Passados mais de oito meses do terceiro governo de Lula (que participa ou tem o apoio do PT, PC do B, Solidariedade, PDT, Agir, Avante, MDB, REDE-PSOL, PV, União Brasil, PSD) assistimos o que já era previsto, com um vice-presidente como o ex-tucano Geraldo Alckimin e com a aliança com diversos partidos patronais: um mandato voltado para atender os interesses da banca financeira e das grandes corporações, em detrimento da classe trabalhadora, da população pobre e da juventude da periferia.
Obviamente, Lula, que tanto atacou na sua campanha as reformas da dupla nefasta Michel Temer e Jair Bolsonaro (Reforma Trabalhista e Reforma Previdenciária) não revogou as mesmas. Pelo contrário: ajudou a reeleger Arthur Lira, o mesmo que tem prometido colocar em pauta a proposta de Reforma Administrativa que destruirá o serviço público, atingindo principalmente, além do trabalhador do setor, o povo carente, que mais precisa dos serviços públicos.
Ao mesmo tempo, o governo de Frente Ampla, com o apoio do Congresso, dos governos estaduais e municipais, aprovou o Novo Arcabouço Fiscal, festejado pelos meios de comunicação e pelo mercado, pois mantém o teto de gastos públicos e garante o pagamento da dívida pública aos bancos. A previsão é que essa dívida chegue até 88,4% do PIB brasileiro ao final de 2023.
Também aprovou na Câmara dos deputados a Reforma Tributária, garantindo que os pobres continuem pagando mais impostos que os ricos.
Direções sindicais pró-Lula não mobilizam a classe trabalhadora
Com o início de ano que prometia mudanças provocadas pelo sentimento de vitória sobre o bolsonarismo (pelo resultado nas eleições de 2022 e pela derrota da tentativa golpista de 08 de janeiro), as lutas e greves voltaram a pipocar, como metroviários de MG e SP, professores no Amazonas, Piauí, Paraná, DF e Rio de Janeiro que sinalizavam um novo momento.
Infelizmente, isso não ocorreu. A grande maioria dos sindicatos e centrais sindicais optou por evitar a unidade destas lutas e assim respaldar o governo federal. Em particular, na Educação, a possibilidade de uma greve nacional do setor, foi descartada pela Confederação Nacional do Trabalhadores do Ensino (CNTE), ligada à CUT, que se limitou a chamar um dia de luta em abril.
Dentro desse quadro, a situação de defensiva da classe trabalhadora poderia ser superada, mas não foi o que ocorreu.
Ainda tem o fato de que uma parcela importante está desempregada (8% de trabalhadores), outros 25,2 milhões trabalham por conta própria e mais de 38,3 milhões de trabalhadores estão na informalidade (38,9% da população ocupada), um amplo setor que sequer tem ferramentas de luta para se organizar.
Por isso é fundamental o fortalecimento de direções sindicais independentes dos governos,
Se aliar a extrema-direita para combater a extrema-direita?
As recentes derrotas do bolsonarismo e da extrema-direita como a inelegibilidade do Bolsonaro, prisões e processos contra ex-assessores e o avanço da investigação sobre os escândalos de corrupção, são vitórias, ainda que distorcidas, dos setores do movimento de massas, entretanto, elas não podem desviar o foco dos vários problemas que enfrentamos.
O governo Lula 3 agora tenta trazer para a sua base o Partido Republicano (o mesmo partido do governador bolsonarista de São Paulo, Tarcísio Freitas), mostrando mais uma vez para e com quem governa. Registre-se: o governador paulista é o responsável por ataques contra a Educação pública e sua polícia cometeu a chacina no Guarujá com 19 mortes.
Não satisfeito, Lula procura se aproximar de outro governador bolsonarista, Claudio Castro do Rio de Janeiro, o mesmo que reprimiu e cortou os salários dos grevistas; privatizou o serviço de fornecimento e tratamento da água, encarecendo-a absurdamente e foi responsável por outra chacina de pobres, com dez mortos na favela do Vila Cruzeiro. Talvez, os governos petistas tenham naturalizado essas barbáries, pois na Bahia, estado que o PT governa há anos, em final de julho, tivemos duas chacinas, com 15 vítimas.
E sem falar na aproximação com o Centrão, inclusive cedendo vários cargos e ministérios.
O governo Lula não está em disputa: ele já tem lado e não é o nosso!!!
O PT se tornou administrador da barbárie capitalista. O PSOL embarcou nessa canoa furada e teve uma série de rupturas recentes. O PCB, aliado de primeira ocasião do PSOL, expulsou parte importante da sua direção nacional, em julho, que criticava essa aliança. E a Unidade Popular esteve na posse do petista “CONTRA O FASCISMO E PELA DEMOCRACIA!”.
Para a Emancipação Socialista a luta contra os fascistas é uma luta importante nesse momento. É preciso derrotar a extrema-direita. Mas, também não temos confiança nessa democracia falaciosa dos ricos e dos patrões, inimigos da classe trabalhadora.
Dentro de uma situação de contínuos retrocessos dos setores explorados, esperamos que tanto no congresso da CSP-Conlutas, que se aproxima, e o Dia nacional do Grito dos Excluídos, os setores da esquerda anticapitalista se unifiquem em torno de um programa e de um plano de ação, fundamentais na construção de uma alternativa, tanto ao bolsonarismo, como à Frente Ampla ou qualquer variante burguesa.