A cada início de ano, tragédias ambientais ocorrem. A grande maioria delas é provocada pelas chuvas de verão e dos desabamentos e enchentes delas decorrentes. Nas primeiras duas semanas de 2024, as populações de São Paulo e Rio de Janeiro enfrentaram perdas materiais e de vidas (500 desabrigados e 4 mortos em São Paulo; e 27 mil desalojados, 927 desabrigados e 12 mortos no RJ), após as fortes chuvas.
Somente no ano passado, o Brasil somou 716 desastres hidrológicos (enxurradas, inundações e alagamentos), além de 445 desastres geológicos (erosões, deslizamentos e afundamentos), que deixaram 132 mortos, 9.263 feridos, 74.878 desabrigados e 524.863 desalojados. E nos últimos 32 anos, as tragédias provocadas por chuvas tiveram como consequências no país 4.111 óbitos.
Desastres ambientais são “naturais” e “inevitáveis”?
Esses desastres ambientais são passados como “naturais” e “inevitáveis” pelos grandes meios de comunicação e também pelos governantes, que nada fazem para evita-los. Ou até são coniventes como no caso do ocorrido em, 2019, em Brumadinho (MG), que acabou deixando 270 mortos, por responsabilidade da mineradora Vale, a mesma empresa (privatizada no governo Fernando Henrique Cardoso em 1997) que com a Samarco e a BHP, foram as responsáveis pela tragédia de Mariana (MG), em 2015, quando morreram 19 pessoas. A Vale, a Samarco e a BHP continuam impunes, em Mariana e a multa de R$ 37 bilhões para Vale, no ocorrido em Brumadinho, “ficou barato”, graças também à colaboração do Poder Judiciário mineiro.
Já outra mineradora, a Braskem, em Maceió (AL), com o objetivo da extração de sal gema, provocou a abertura de uma cratera de 300 metros de diâmetro no bairro do Mutange, em final de 2023. O acordo de indenização para a Braskem foi de somente R$ 1,7 bilhão. O governo de Alagoas pediu revisão do acordo e Justiça Federal de Alagoas negou o pedido. O colapso da mina afetou 148.400 pessoas.
No Amazonas, região historicamente com altos índices pluviométricos, a tragédia ambiental teve outro viés: uma seca, no segundo semestre do ano passado, atingiu 62 municípios e afetou mais de 637 mil pessoas. Paralelamente à seca no Norte, chuvas acima da média atingiram o sul do país. Desequilíbrios ambientais como esses, anormais, têm ocorrido em função do modelo do agronegócio (um dos setores mais dinâmicos da burguesia brasileira e que controla partes importantes do aparelho de Estado do nosso país) que é responsável pela emissão de gases do efeito estufa, com resultados drásticos no clima, o que soma ao uso de defensivos agrícolas e agrotóxicos, que aumentam o desequilíbrio ambiental.
A classe trabalhadora e a população pobre viram estatísticas nas vítimas dos “desastres naturais”
Esse quadro trágico de norte a sul do Brasil atinge em cheio somente a imensa população trabalhadora e mais pobre, que mora em locais de moradia precários. Os desastres chamados naturais atingiram 93% dos municípios, nos últimos dez anos, e mais de 4,2 milhões de pessoas tiveram que deixar a sua própria casa.
Registre-se que essa imensa massa de pessoas atingidas ou com possibilidades de ser atingidas pelas chamadas tragédias naturais e ambientais é a que já sente o massacre provocado pelos baixíssimos salários e pelo descaso do poder público (no saneamento básico, hospitais e educação públicas) e que também padece pela precarização de outros serviços prestados, como os fornecimento de energia elétrica, gás encanado, água potável e transportes, precarização essa intensificada com o processo de privatização de empresas estatais que atuavam nesses serviços.
Chama a atenção que o orçamento da União teve destinado em 2023 somente R$ 1,17 bilhão para ações contra desastres naturais e foi o menor orçamento com essa destinação, em 14 anos, segundo a Associação Contas Abertas, especialistas em orçamentos públicos. Em contrapartida, o Orçamento de 2024, proposta do governo federal e aprovado pelo Congresso federal, prevê despesas de R$ 5,5 trilhões para refinanciar a dívida pública com os banqueiros privados, estrangeiros ou brasileiros, que, em outubro do ano passado, chegou a 74,7% do PIB (Produto Interno Bruto Brasileiro).
Estes números mostram as prioridades do Estado brasileiro (Governos federal, estaduais e municipais; Congresso federal, Assembleias Legislativas estaduais e Câmaras municipais; Judiciário federal e estaduais; Forças armadas e policiais estaduais). Como ele é controlado por bancos internacionais e nacionais, grandes corporações (como a Vale, a Samarco, a BHP, a Brasken, entre outras empresas estrangeiras e brasileiras), pelo agronegócio, ele procura garantir e defender os lucros e interesses desse pequeno número de parasitas. Pessoas bilionárias que se lixam para situação de miséria e precarização da imensa maioria dos brasileiros.