A violência contra a população negra só cresce no Brasil. Segundo os dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2024, as mortes violentas intencionais têm entre as vítimas 78% de pessoas negras. E todas as formas de mortes registradas (homicídio doloso, latrocínio, lesão corporal seguida de morte e morte por intervenção policial) têm na maioria de vítimas pessoas negras.
Cabe destacar que o menor percentual de vítimas negras é em casos de latrocínio (60,9%); os maiores percentuais são de morte decorrente de intervenção policial (82,7%), mais de 20% de diferença. A maioria das mortes nos casos de homicídio doloso e mortes decorrentes de intervenção policial acontecem inclusive na faixa etária de 18 a 24 anos, já o latrocínio predomina nas mortes a partir dos 60 anos. Destacamos ainda que o principal instrumento utilizado nessas ações foram armas de fogo.
Outro dado importante é que das 10 cidades mais perigosas, 6 estão na Bahia, o estado brasileiro com a maior proporção de população negra no país.
Com todos esses elementos podemos reafirmar mais uma vez que a violência contra a população negra no país só cresce e que o capitalismo e o racismo, articulados organicamente, têm um papel fundamental nessa escalada de violência.
A taxa de desemprego entre os jovens continua sendo a mais alta, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. No 2º tri de 2024, entre jovens de 14 a 17 anos 28,2% estavam desempregados, entre 18 a 24 anos eram 14,3% desempregados. Entre a população negra a taxa de desemprego chega a 16,3%, podemos comparar com a da população branca que é de 5,5%.
Assim, mostramos como negros e negras, até como força de trabalho para ser explorada no capitalismo, são descartadas e de modo mais violento possível, criminalizada, abandonada nas periferias e subúrbios sem políticas públicas.
O racismo contra essa parcela importante da população brasileira é usado de várias formas perversas por esse sistema de opressão e exploração, ainda mais nesse momento atual em que a extrema-direita cresce e se consolida pelo país como vimos nas eleições municipais.
Com suas falas mentirosas iludindo a classe trabalhadora, com um discurso violento ou com soluções simples para as dificuldades de se viver no capitalismo a extrema-direita proporciona mais ódio entre trabalhadores.
Extrema-direita racista
Os setores de direita e de extrema-direita seguem tão fortalecidos que pessoas como o senador Magno Malta (PL-ES) se sentem confortáveis em pronunciar falas como: “Cadê os defensores da causa animal, que não defendem os macacos?” quando se referiu ao jogador de futebol Vini Jr. que luta contra a violência racista que sofre na Espanha.
Uma pessoa pública como esse senador, se sente à vontade para proferir tal crime sem medo de punição é porque esses racistas estão no poder e, mesmo com Lula na presidência e tendo criado o Ministério da Igualdade Racial, houve poucas ações efetivas para enfrentar a violência que esse sistema promove contra o povo negro.
Precisamos articular toda a luta contra o racismo com a luta contra esse sistema capitalista, que produz mais exploração e morte de pessoas negras. Pôr um fim a essa estrutura, sem ilusões de que por dentro do sistema podemos mudar, pois só se muda o discurso e a prática violenta se mantém contribuindo para o crescimento da extrema-direita que promove ainda mais violência e exploração da população negra.
Se liga
O “Dia da consciência negra” é uma conquista do movimento popular negro do Brasil e é dia de lembrar os heróis do povo brasileiro, os memos que a mídia quer esconder.
No dia 20 de novembro de 1695 era assassinado Zumbi, liderança do Quilombo dos Palmares (hoje no estado de Alagoas). Mais de cem anos de resistência ao sistema escravista. Depois de muitas tentativas, finalmente as tropas financiadas pelos latifundiários e escravagistas, conseguiram invadir e destruir o maior símbolo de resistência negra do Brasil.
Também lembramos Dandara dos Palmares, companheira de vida e de luta de Zumbi. Foi uma grande guerreira negra na defesa de Quilombo dos Palmares e da liberdade para todos os seres humanos.
Se passaram mais de 300 anos, mas o exemplo de Zumbi e Dandara continua vivo e nos lembrando que só teremos um mundo justo e igualitário com luta e organização.
Os Quilombos eram formas de luta e resistência contra a escravidão no Brasil e seguia uma tradição dos povos de África. Como diz Kabengele Munanga (“Origem e histórico do quilombo na África”, USP) “O quilombo é seguramente uma palavra originária dos povos de línguas bantu (kilombo, aportuguesado: quilombo). Sua presença e seu significado no Brasil têm a ver com alguns ramos desses povos bantu cujos membros foram trazidos e escravizados nesta terra”.