Karl Kautsky foi um dos fundadores da ideologia social-democrata (no século XIX socialistas e comunistas se consideravam assim) e uma das mais importantes figuras da história do marxismo. E após a morte de Engels, se tornou um dos mais influentes teóricos do socialismo.
No entanto, no cenário da 1ª Guerra Mundial (1914-1918), pelo seu apoio à entrada da Alemanha no conflito, suas posições crescentemente reformistas e antirrevolucionárias, foi descrito como um “renegado” por Lênin no famoso “A Revolução Proletária e o Renegado Kautsky”, de 1918. Refletia concepções políticas que demonstravam a falência da II Internacional naquele momento.
Mas, qual é a relação desse episódio com a prefeitura atual de Belém (PA)? Longe de compararmos trajetórias de lideranças da esquerda que merecem a pecha de ‘renegados’, apenas destacamos esse exemplo e suas práticas na gestão municipal.
Edmilson Rodrigues é o atual prefeito de Belém, renegado por boa parte da esquerda e da população, seu currículo político inclui mandatos desde 1980 de Deputado Estadual, Federal e Prefeito, sendo filiado inicialmente ao PT e desde o início deste século ao PSOL.
No levantamento do Instituto Paraná Pesquisas, em março, 76% dos belenenses desaprovam sua 3ª gestão municipal e cerca de 56% não votaria para a reeleição.
Naturalmente, não devemos nos basear apenas em pesquisas para avaliar uma gestão ou qualquer evento político, mas chama atenção que a prefeitura tem sido longamente pautada por parte dos militantes do PSOL, indignados e estupefatos pelas práticas patronais e autoritárias do prefeito ‘cabano’.
Opção da gestão Psolista
A opção tem sido atacar os serviços públicos e a organização dos trabalhadores, o que embaraça até parte da militância do partido preocupada com os respingos nos processos eleitorais de todo o Brasil. Como parte da reação, a vereadora Sílvia Letícia (PSOL) apresentou a pré-candidatura e atua no sindicato de educadores municipais (SINTEP), por isso responde a um processo de expulsão do partido encaminhada ao Comitê de Ética.
Edmilson e sua corrente política Primavera Socialista parecem se considerar acima da crítica e confirmaram seu nome para a reeleição. Uma administração de “Frente Ampla” inclui arrocho aos servidores municipais, acordos com o empresariado guloso pelos recursos públicos, prejuízo à população de baixa renda, etc.
Em abril, os servidores municipais fizeram uma greve por reajuste salarial digno e valorização da categoria. A exigência, pasmem, era muito básica: o piso salarial do magistério e da enfermagem estabelecidos por lei federal e um salário-mínimo para os demais servidores.
Truculento e sem diálogo
Além de não atender os servidores, não cumpriu promessas. Parece que a mesma granada de Paulo Guedes está no bolso dos trabalhadores de Belém e, pior, ao ser cobrado, chegou ao absurdo de chamar o povo que o elegeu de “fascistas ou bolsonaristas”, um argumento patético e desrespeitoso com os servidores.
A Saúde pública está um desastre com salários atrasados, greves de médicos e falta de insumos, no entanto, é seguida por parcerias gordas com as Organizações Sociais (OS) que pagam mal os profissionais, diminuem os atendimentos à população, buscam lucros com dinheiro público e transformam a Saúde em mercadoria.
Os ônibus seguem precários na capital paraense e a coleta de lixo segue como um problema histórico.
Em vez de diálogo e autocrítica, a gestão criminaliza quem luta. Na greve, a prefeitura fez um B.O. policial acusando os lutadores de depredação e “cárcere privado”. Ainda, pediram um Mandado da justiça burguesa para reintegração de posse do prédio da Secretaria de Administração. Os manifestantes, na verdade, ocupavam o espaço pacificamente visando a negociação, mas foram retirados a força.
Fracassada Frente Ampla
O fracassado Edmilson e a prefeitura de Frente Ampla (PT, PSOL, PCdoB, PV e PDT) agem assim diante de problemas sociais e sindicais. Esse péssimo exemplo não deve ser seguido por trabalhadores, “cabanos” e juventude pobre. O seu alto índice de rejeição se explica a partir dessas péssimas práticas e nas truculências espelhadas nas gestões tradicionais da burguesia. Não adianta criar agora uma “personagem” durante a campanha para prefeitura.
A responsabilidade pela decadência da gestão não é de fascistas, ou Belém está tomada por hordas da extrema-direita nas ruas influenciando o ser, o viver e o dia a dia do povo da cidade que elegeu Lula nos dois turnos em 2022? Ao contrário do alardeado, as péssimas escolhas desde a Frente Ampla pavimentam a volta da direita/extrema-direita ao poder. Historicamente, temos essas insuficiências na luta da dita esquerda ou centro que contribuem para vitórias dos reacionários mundo afora e para o retrocesso político.
Esperamos que o fracasso de Edmilson, do PSOL e da Frente Ampla seja mais um péssimo exemplo a não ser seguido. Os socialistas devem lutar por uma prefeitura dos trabalhadores que possa fazer as rupturas necessárias e governar com o povo mobilizado por suas justas reivindicações. Esta é a base para transformar as nossas cidades e derrotar os setores da extrema-direita.