É hora de entender os motivos da direita e da extrema-direita se fortalecerem e o significado do resultado para as correntes de esquerda anticapitalista.
Poucos votos e rebaixamento programático da esquerda anticapitalista
A situação está bem complicada para a esquerda anticapitalista. Juntados todos os votos da UP, PCB e PSTU não passam de poucas dezenas de milhares. Candidaturas de luta, mas com pouca ou nenhuma inserção junto à classe trabalhadora.
Considerando as candidaturas de correntes de esquerda do PSOL, a soma dos votos passa de cem mil, quantitativamente superior, mas também demonstram pouca inserção e ainda com um programa político rebaixado politicamente.
Enfim, de um lado a inexpressividade eleitoral e de outro o eleitoralismo, quando a razão de ser de uma corrente política é eleger parlamentares, pois se não (re)eleger significa perder cargos e aparatos.
Quanto ao PSOL, o partido se incorporou mais ao petismo, se coligando com o PT em vários municípios e com o rebaixamento programático, abrindo mão de propostas históricas do movimento. Em São Paulo, por exemplo, Boulos defendeu mais armas para a GCM (acusada de vários abusos) que nem é força policial.
E para ficar pior, a maioria das organizações/partidos anticapitalistas sequer se dão conta do problema e ainda caem numa autoproclamação e uma certa arrogância.
E a unidade da esquerda anticapitalista?
Avaliamos que a conjuntura está bastante desfavorável para a classe trabalhadora e, obviamente, para a esquerda anticapitalista.
Há uma unidade da burguesia e, se não bastasse, o governo Lula está bastante alinhado com esses setores de direita e de extrema-direita que saíram fortalecidos do processo eleitoral. Seria lógico que o “nosso lado” entendesse essa situação e trabalhasse para construir uma unidade em torno de alguns eixos político-programáticos. Seria, mas não é o que ocorre.
Emancipação Socialista e outras organizações vêm defendendo a unidade da Esquerda Anticapitalista, unificando os vários setores e demonstrar aos trabalhadores uma alternativa antissistema. A ideia não vingou, principalmente pelos partidos que têm a legenda reconhecida pela justiça eleitoral não toparem.
O resultado eleitoral demonstrou que um setor da classe trabalhadora nutre ilusões na extrema direita e outro se ilude com a “esquerda institucional”. E, nós da esquerda anticapitalista, ficamos à margem.
Por esses desafios é imperioso a necessidade da unidade da esquerda anticapitalista continua mais atual do que nunca. Há muitas lutas a serem travadas. Isolados, com nossas fragilidades, não vamos a lugar nenhum.
Por que tantas dificuldades para a unidade? O que superar?
Com a crise no marxismo, portanto, das correntes marxistas, sabemos que existem muitas diferenças políticas e teóricas. No entanto, sabemos que existem muitos acordos e para avançarmos na unidade precisamos abandonar algumas posturas como a autoproclamação, o hegemonismo, a arrogância e também o oportunismo.
As eleições representam um momento da unidade dos revolucionários (e nem é o mas importante), pois ela deve ser construída cotidianamente e principalmente para as lutas (não só nas lutas), ou seja, deve ser permanente. As formas dessa unidade podem ser por Frentes, Comitês, etc.
Muitas organizações/partidos e opõe a unidade com a construção de cada corrente. É o contrário, pois impulsionando um movimento mais amplo, com mais ativistas e mais diálogo com a classe trabalhadora, todas as correntes se fortalecem. Ou seja, são processos que se complementam e fortalecem a consciência de classe, os movimentos e a construção de correntes revolucionárias.
A unidade exige esforço de todos, deve ser feita com debates, as correntes apresentarem propostas, mas é preciso “concessões”, ou seja, precisam abrir mão de algo para chegarmos em propostas consensuais.
Essa unidade deve ser construída com as experiências concretas na luta de classes e, assim, seguimos firmando a confiança para os próximos períodos de combate à extrema-direita. Essa unidade não será construída com a prática reprovável de disputa por militantes de outras forças, mas também não se dará com o “bater o pé” nas próprias posições que, em muitas vezes, dificulta e sabota o processo de unidade.
Essas são algumas questões que defendemos nesse momento de urgência da construção de um movimento político e de luta da classe trabalhadora, que comportem correntes, organizações e diferentes posições políticas capazes de enfrentarem as políticas de ajustes (e o aumento da exploração) dos governos em todos os níveis e também o sistema capitalista como um todo.
A esquerda anticapitalista é a única força antissistema de fato. Mas, precisar demonstrar isso à classe trabalhadora.