Divulgamos abaixo a seguinte nota aprovada pelo MFSR (Movimento pela Frente Socialista Revolucionária) sobre o golpe militar de 1964.
O 31 de março (para alguns 1° de abril) completam, hoje, 60 anos do golpe empresarial-militar no Brasil, quando inaugura um dos períodos mais tenebrosos e sangrentos da nossa História. Isto porque foram milhares de desaparecidos, mortos, torturados, perseguidos e demitidos por suas convicções políticas; quando os Partidos de Oposição – principalmente os Operários e os Sindicatos, foram colocados na ilegalidade ou sofreram intervenções brutais do regime militar. Como consequência, tiveram o fim do direito à organização e mobilização sindical, o que acarretou um período dos mais violentos arrochos salariais para a classe operária, em que a corrupção reinava sem que ninguém pudesse denunciar.
Entretanto, os militares não agiram sozinhos. Contaram com o apoio dos países imperialistas, outras ditaduras americanas, com empresas multinacionais e empresários brasileiro financiando os centros de detenções e torturas clandestina; da mesmo forma os empresários dos meios de comunicação, como a Rede Globo, Silvio Santos e o Grupo Bandeirantes, contribuíram com propagandas a favor dos militares, com divulgações de mentiras contra militantes dos movimentos populares, estudantis, sindicais e organizações de esquerda, para a massa da população.
Depois de muitos anos de lutas (de múltiplas formas) conseguiu-se derrotar, em parte, a ditadura a partir das lutas estudantis e operárias, que culminou na campanha pelas “Diretas Já!”, a qual reuniuram milhares de pessoas, constituindo um dos maiores Movimentos Populares da nossa História.
Foi sem dúvida uma importante vitória da classe trabalhadora brasileira; mas, por outro lado, as direções do movimento das “Diretas Já!” (Brizola, Ulisses Guimarães, Lula, Jair Meneguelli, entre outros) aceitaram apenas um acordo com os militares – com a Anistia -, garantindo a impunidade aos golpistas e torturadores, quando o impuseram à toda a sociedade brasileira.
Esquecer o passado? Não Lula, não concordamos!!!
Durante o último governo de Bolsonaro e os militares, comemoraram o 31 de março como um “ato heróico” aos militares e de apoio às torturas e torturadores, numa demonstração de que “o espírito macabro de 64” continua às soltas.
De nosso lado, lembramos o 31 de março como um marco de resistência do povo brasileiro, para manter viva a História de Lutas; e, que ainda é preciso punir os golpistas, os torturadores, as empresas, assim como o Estado brasileiro capitalista, que precisa ser também responsabilizado. Por isto lutamos para manter viva a Memória desse acontecimento, para que nunca mais volte a ocorrer.
Mas, os Lula – conciliador com os golpistas e traindo a memória de mortos e vivos que lutaram contra a ditadura – proibiu a realização do ato que relembraria a perseguição e a resistência, que seria realizado no Museu da República, com o argumento de não “remoer o passado”. Segundo Lula, essa proibição é para não tensionar a relação com as Forças Armadas. Aliás, foi essa mesma orientação política que levou ao esvaziamento dos Atos pela prisão de Bolsonaro e seus cúmplices. Esse ato político de Lula é, na prática, uma colaboração com os que apoiaram o golpe e trabalham para o esquecimento desse período da nossa História; também, é uma colaboração com os que deram o golpe, e, na surdina das Associações e Clubes Militares, vão se embebedar, brindando ao que ofensivamente chamam de “Revolução de 64”. Não! Não é possível esquecer e perdoar a tudo o que fizeram com o nosso povo.
Pois, relembrar o 31 de março é um momento para refletir, recordar e homenagear as vítimas do terrorismo do regime ditatorial e incentivar as novas gerações, que não viveram diretamente as brutalidades da ditadura, a conheceram o papel opressor das Forças Armadas na sociedade capitalista, com consequências da atual política de tortura, encarceramento em massa e extermínio perpetradas pela polícia militar de São Paulo, assim como em vários outros estados do país, inclusive os governados pelo PT, como é o caso emblemático da Bahia.
Isto porque olhar para o passado é transformá-lo em uma força viva na formação do presente, para que se possa alimentar as lutas políticas de hoje, para que golpes – como o de 1964 e o frustrado de 8 de Janeiro de 2023 -, não se repitam nem como farsa, muito menos como tragédia.
Continuar a luta, enfrentar a extrema-direita e ser contra a rendição política de Lula e a esquerda liberal
Essa democracia burguesa do pós-ditadura, que se constituiu, carrega muito da trágica ditadura; como vemos, por exemplo, o papel que desempenha a Polícia Militar, que assassina os jovens nas periferias, os ativistas perseguidos (e demitidos) nas empresas; com a proibição de greves, a imposição do arrocho salarial, a retirada de direitos dos trabalhadores e até com a espionagem policial nos movimentos sociais e populares.
Não fazemos um sinal de igual do nosso momento histórico com a ditadura militar passada, mas não temos ilusões de que essa democracia burguesa possa garantir a liberdade que tanto almejamos. Porque a conquista da liberdade democrática exige muita luta e organização contra as heranças institucionais, ideológicas e políticas vivas do regime ditatorial, nesse regime democrático burguês atual e, principalmente, neste momento de enfrentamento a extrema-direita bolsonarista e suas variantes, com seus métodos protofascistas.
Por conseguinte, nossas formas de luta e organização da classe trabalhadora se fará contra a rendição política de Lula, assim como a essa esquerda liberal, para que possamos mobilizar a Classe Trabalhadora para o avanço concreto das nossas lutas políticas.
Brasil, 31 de março de 2024
Movimento pela Frente Socialista Revolucionário