O processo eleitoral nos 5570 municípios do país de alguma forma expressa a correlação de forças entre as classes sociais e o momento da consciência de classe da classe trabalhadora. Por isso, é preciso olhar atentamente para ver os sinais e, principalmente, para os revolucionários se prepararem para o próximo período.
A proposta desse balanço é apresentar elementos mais gerais do processo eleitoral sem detalhar e procurando identificar as tendências mais gerais da luta de classes a partir do resultados nessas eleições.
Os setores de direita e de extrema-direita cresceram
Numa “divisão” ampla entre esquerda e direita os resultados eleitorais indicam que os setores de direita ampliaram sua influência política pelo país. Os eleitos foram, em sua maioria absoluta, candidatos de partidos dos setores de direita. Ganharamm partidos como PSD, União Brasil, PL e Republicanos e MDB, conquistando prefeituras importantes como RJ, São Paulo, Curitiba, Belo Horizonte.
Mesmo em cidades onde PT ou PSOL disputa o 2° segundo turno, a maioria dos votos foi para os setores da direita e extrema-direita. Em São Paulo, por exemplo, a extrema-direita disputava com dois candidatos e, somados, chegaram a 60% dos votos. Não temos dúvida de que são votos com um conteúdo político bem conservador.
Não é possível ignorar e nem desprezar a força política e social dos setores de extrema-direita no país. Com muitas desigualdades e distorções, a atual situação é resultado de vários aspectos: desde o papel que governos apoiados por setores da “dita esquerda” cumpriram/cumprem e, sobretudo, pelo debate sobre qual saída é possível para a superar essa falta de perspectivas existente para a classe trabalhadora e os mais pobres. Ou seja, ganharam o apoio de um setor da classe trabalhadora para as suas propostas.
Na realidade há um elevado número de desempregados, os empregos gerados são com baixa remuneração (e poucos benefícios), o aumento do trabalho informal e por aplicativos fazem as pessoas trabalharem muito mais. Nas periferias a falta de Saúde e Educação de qualidade, os problemas com a violência e o transporte, falta de lazer e um longo etecétera. Mesmo com tantos problemas conseguiram influenciar e ganhar o voto das pessoas.
Os setores de direita e extrema-direita têm colado um discurso de que lutar não adianta e o progresso individual depende da pessoa saber empreender e se esforçar para alcançar a prosperidade. Com isso, reforça o individualismo, o repúdio às formas coletivas de luta e o apoio às medidas de repressão contra trabalhadores e pobres.
Foi nessa linha, por exemplo, que Marçal (PRTB) demarcou sua candidatura. Além disso, usou um discurso abertamente anticomunista, machista, homofóbico, racista para atrair parte importante de eleitores. O riquinho atraiu até mesmo eleitores nas periféricas de São Paulo.
Nesse terreno e com essa situação caótica, os setores mais reacionários cresceram e já consolidam influências políticas junto a amplos setores da classe trabalhadora.
Também devemos considerar o alto número de reeleições, prevalecendo a continuidade, muito por conta da força das emendas do Congresso e liberadas pelo governo Lula e o aumento do repasse de verbas para os municípios.
Essa é a realidade.
Os setores da “dita esquerda”
E os partidos da “dita esquerda institucional” (partidos de conciliaçõ de classe, que privilegiam as disputas e conquistas eleitorais como PT/PCdoB/PDT/PSB e PSOL, secundarizam ou freiam as lutas e mobilizações) sofreram várias derrotas já no 1º turno ou indo para o 2° turno em condições desvantajosas e, na maioria dos casos, com poucas possibilidades de reverter essa tendência.
O resultado eleitoral do PT também foi pífio e confirma uma tendência de perdas de poder político locais. Levou e segue levando à frente a política de colaboração de classes e mantém a tática da Frente Ampla se coligando ou apoiando vários partidos de direita.
Nas grandes cidades o partido elegeu apenas 6 prefeitos. Comparativamente, em 2008 foram 28 prefeitos; em 2012 tinha eleito 18 prefeitos; em 2020 foram somente 4 os eleitos pelo partido. E considerando o total de eleitos, são 252, menos da metade do que em 2012..
Na Grande São Paulo, no segundo turno perdeu em Diadema e manteve a prefeitura de Mauá. Em Santo André não chegou a 20% dos votos e em São Bernardo 23% (cidades onde já governouA esquerda anticapitalista com gestões ineficientes, com ataques às conquistas sociais e aos direitos do funcionalismo público).
Em relação ao PSOL, chama a atenção a derrota em Belém (PA), sequer indo para o 2° turno. (veja em www.emancipacaosocialista.org o artigo de 22/08/2024 sobre o ‘renegado prefeito Edmilson’). Foi uma resposta à gestão que reprimiu servidores, se alinhou aos setores mais reacionários da cidade e do estado e não cumpriu as promessas de campanha. Governou como os partidos da direita.
A maior disputa de todas nestas eleições foi a de São Paulo com o PSOL (Boulos) coligado com o PT (Marta Suplicy) contra Ricardo Nunes (MDB), apoiado por Bolsonaro e Tarcísio (dois dos principais expoentes da extrema-direita no Brasil).
Ricardo Nunes ganhou em quase todos os distritos eleitorais e por uma ampla margem de votos, até mesmo em regiões periféricos. Confirmou a dinâmica do primeiro turno e que temos sustentado nesse texto.
São muitos fatores que contribuíram para essa vitória, como a consciência da classe, os recursos financeiros, a máquina da prefeitura e de certa forma até a postura conciliatória de Boulos que focou sua campanha no “eu vou fazer”, discurso bastante limitado e nos marcos do sistema, quando seria importante discutir propostas antissistema com a classe trabalhadora.
Já o PSOL, como partido eleitoreiro e com o principal objetivo de eleger candidatos, pelo seu site, informa que o partido elegeu “as bancadas mais diversas do país. Dos 80 vereadores eleitos pelo partido para as Câmaras Municipais, são 38 mulheres, 36 negros e negras, duas indígenas e mais de uma dezena de LGBTQIA+, incluindo 5 pessoas trans.”. De fato, é importante que os setores mais oprimidos da sociedade conseguiram alguma expressão eleitoral e representa um sinal de resistência. Mas, o programa político do partido ficou abriu mão de uma campanha demarcando posições anticapitalistas.
Um discurso radical provavelmente não elegeria e talvez até teria menos votos, mas certamente contribuiria para a costrução de uma alternativa fora do sistema.
Ainda nesse campo da “dita esquerda institucional”, as campanhas do PSB e do PDT estão mais alinhadas a programas eleitoreiros e se colocam no mesmo campo de partidos da direita. Tábata Amaral (PSB/SP) defendeu um Programa de controle de contas públicas (sabemos, teto de gastos para Saúde e Educação ou Arcabouço Fiscal) e se valeu também de vários aspectos da religiosidade dos eleitores.
Nesse sentido, também podemos colocar o papel desempenhado por Lula. Em nome da governabilidade e de manter a “Frente Ampla” preferiu participar pontualmente de algumas campanhas eleitorais para as disputas locais não chegarem ao governo. Bom lembrar que o Partido Republicano, do governador/SP Tarcísio tem ministério e é parte da sustentação do governo Lula.
A esquerda anticapitalista
Nesse cenário de fortalecimento de todo tipo de reacionarismo, a esquerda anticapitalista também saiu desse processo eleitoral bastante fragilizada, não por não ter conseguido eleger vereadores, mas porque os resultados demonstraram o isolamento político e a pouca influência que exerce.
É uma contradição importante. Exatamente quando é mais necessário uma alternativa de fato (contra o sistema capitalista, a favor de lutas e mobilizações populares para manter e conquistar mais serviços públicos de qualidade, para manter direitos democráticos e para destinar os recursos públicos dos municípios para as necessidades da população) é quando estamos mais enfraquecidos e a extrema-direita demostrando forças.
Nesse sentido, no 1° turno travamos uma batalha pela independência de classe e chamamos o voto em candidatos do PSTU, inclusive com uma candidatura própria no Rio de Janeiro pela legenda do PSTU, o qual agradecemos por seguir essa tradição dos revolucionários.
Avaliamos que essas eleições municipais têm um sinal de derrota, pela vitória dos setores reacionários (direita e extrema-direita), pelo fato de a esquerda anticapitalista não ter rompido seu isolamento político e social e por não ter permitido o avanço da consciência de classe da classe trabalhadora, da juventude e dos explorados em geral, o que poderia ter contribuído para o reconhecimento da importância de nossas lutas e mobilizações.