Em 4 de novembro haverá eleição para a presidência dos Estados Unidos. Nesse ano, concorrem Kamala Harris (Partido Democrata e atual vice-presidente) e Donald Trump (Republicanos).
Há outros candidatos independentes, mas o sistema eleitoral é bipartidário e oscila entre esses dois partidos. Um processo (político, econômico, etc.) construído para que, com sol ou chuva, a disputa real fique entre esses partidos demonstrando que a “maior democracia do mundo” não tem nada de democrática.
Há sim diferenças políticas entre esses partidos, mas demonstram os interesses e as disputas de setores da burguesia imperialista. No entanto, como veremos mais a frente, como defensores da burguesia imperialista, as semelhanças são muitas.
Hoje, essa disputa é um reflexo dos debates no interior da burguesia mundial e assume uma posição de ataque aos direitos ou de maior restrição às liberdades democráticas, ou seja, quem aplicará o projeto mais rapidamente com ou sem mediações ou quem avançará nos ataques mesmo na atual configuração da democracia burguesa, mas também com muita repressão aos trabalhadores.
De um lado Trump, ligado a extrema-direita mundial e ao fundamentalismo religioso cristão, com uma política contra os imigrantes e de mais repressão aos trabalhadores e pobres. Defende um projeto econômico e político de aprofundamento do ajuste econômico e submissão dos países pobres aos interesses estadunidense. É parte do grupo de Milei, Bolsonaro, Le Pen, Putin, Viktor Orbán, etc., todos com algum respaldo eleitoral.
Nessa disputa, para se colocar como opção e também parecer diferente, o Partido Democrata procurou construir uma imagem progressista, de estar ao lado dos trabalhadores (Biden chegou a ir num piquete da greve dos Metalúrgicos em 2023), de defensor de negros e mulheres. A realidade é outra, não é nada disso. A disputa é como fazer basicamente as mesmas coisas de “forma diferente” e com quantos políticos e tecnocratas vão ocupar cargos no Estado.
Essa é a razão de Kamala Harris substituir Biden na disputa. Mulher, descendente de imigrantes, tida como candidata ao lado dos pobres, da democracia, dos negros e das mulheres. Assim, buscam dialogar com esses setores da população que mais sentem as consequências dos problemas sociais nos Estados Unidos.
A lógica do Partido Democrata, com esse discurso de ser um “espaço para os progressistas”, é tentar canalizar a raiva e a revolta do povo para a institucionalidade com mais promessas e, assim, paralisar o movimento e as lutas. Só para ficar em três exemplos, os governos democratas sempre atacaram e reprimiram as mobilizações da juventude e classe trabalhadora nos Estados Unidos, a invasão do Vietnã e o Golpe Militar no Brasil foram organizados e executados durante os governos de John Kennedy e Lyndon Johnson, ambos do Partido Democrata.
Uma candidata representante da burguesia imperialista
Num eventual governo, Kamala Harris terá como preocupação principal a defesa dos interesses internos e externos da burguesia dos Estados Unidos, garantindo melhores condições de lucratividade, expansão dos negócios pelo mundo, mantendo a influência sobre outros países e controlando o movimento social que poderá impor várias contradições. Essas são as razões para alguns burgueses a apoiarem, pois Trump tem a tendência de provocar mais instabilidade.
No caso dos ataques de Israel ao povo palestino, Kamala não manifestou mudanças, ou seja, mantém o apoio histórico dos Estados Unidos a esse Estado genocida com muito dinheiro e armamento. Como há um rechaço e repúdio a Israel e ao massacre de palestinos, após conversar com o criminoso Netanyahu, Harris se limitou a declarar que não ficará calada em relação ao sofrimento do povo, mas continuará apoiando Israel. Também continuará com as tropas militares em outros países, continuará com o financiamento da indústria bélica e o sistema de Saúde continuará sem atender os pobres.
Como dissemos acima, o fato de uma mulher negra ser presidente do país imperialista mais importante acontece pela primeira vez na história e certamente é uma novidade num país onde o racismo é praticado abertamente. Mas é preciso lembrar que Kamala é uma mulher burguesa e vai representar e defender a sua classe social. Kamala também não avançou em nada sobre o direito ao aborto que a Suprema Corte destruiu, nem contra o racismo (negras e negros continuam morrendo pela ação da polícia) e muito menos na defesa dos imigrantes.
O Partido Republicano
Essa lógica do bipartidarismo nos Estados Unidos é como aqueles filmes do policial bonzinho e do malzinho, mas ambos empenhados em mostrar a força do Estado. É um jeito diferente, mas o objetivo é o mesmo.
O Republicano na atualidade é dominado pelos setores mais reacionários e pelo fundamentalismo religioso. Trump é a representação política e ideológica desses setores. Representa uma linha política de aumento da exploração mais brutal da classe trabalhadora, do racismo, sexismo, homofobia, transfobia e principalmente contra os imigrantes, considerados como inimigos.
A proposta do Partido Republicano é aplicar os planos contra os trabalhadores de uma forma mais direta, sem mediações e também fomentar e impulsionar grupos de extrema-direita pelo mundo.
O candidato a vice-presidente J.D.Vance também é um expoente da extrema-direita dos Estados Unidos e busca reforçar esse caráter reacionário da candidatura Trump, que não reconhece sequer a democracia burguesa nos Estados Unidos. Podemos acrescentar também o ataque aos imigrantes, o discurso de “fazer a América grande novamente”, do protagonismo branco (uma política racista/antinegro), presentes no discurso da extrema-direita.
Nem Trump, nem Kamala. Pelas lutas da classe trabalhadora contra a extrema-direita
Entendermos a lógica do sistema eleitoral estadunidense e o papel que esses partidos cumprem é importante para não cairmos nesse “conto” de que Kamala é uma alternativa que solucionará os problemas que atingem a classe trabalhadora nos Estados Unidos.
Sabemos que uma eventual vitória de Trump fortalecerá a extrema-direita em nível mundial pelo peso político dos Estados Unidos. Mas, uma vitória de Kamala não é garantia de derrota dessa extrema-direita, pelo contrário, os Democratas mantêm relações cordiais com esses grupos e governos em nível mundial e a máquina de guerra estadunidense continuará ativa.
Somente grandes mobilizações da classe trabalhadora de forma independente poderão indicar alternativas que organizem e representem seus interesses de classe e não dos grandes empresários e banqueiros.
As recentes lutas e greves da classe trabalhadora, do movimento negro e da juventude nos Estados Unidos nos mostram essa possibilidade concreta e real de construir um amplo movimento social pela esquerda. As ocupações do movimento estudantil em apoio aos palestinos, as mobilizações de negros e negras, das mulheres pelo direito ao aborto seguro, as greves da Educação e dos Metalúrgicos são demonstrações dessas possibilidades.
Essa organização e a unidade das lutas poderão ser facilitadas pelos partidos de esquerda independentes, que congreguem o proletariado estadunidense, a juventude e os imigrantes perseguidos pelos governos e forças policiais.
Alguns setores, até mesmo de esquerda, acreditam que Kamala necessita de apoio com os argumentos do mal menor e de que é preciso derrotar a extrema-direita. Ocorre que nem Kamala é um mal menor e nem se derrota a extrema-direita por eleições. Trump perdeu em 2020, ainda continua ativo e até com chances de ganhar as eleições. Essa ideia de mal menor tem servido para a desilusão de alguns lutadores e tem favorecido setores da extrema-direita.