Apesar de alguns dados positivos na economia – uma espécie de ‘estabilidade no caos’ – a vida continua cara para os trabalhadores e o povo que utiliza sua renda essencialmente na alimentação. A feira está cada vez mais cara e a inflação no Brasil – que não é um acidente – penaliza os mais pobres. A redução drástica na popularidade de Lula 3 pode ser explicada em boa medida por este quadro.
O que causa esta carestia? Além da típica omissão de governos durante décadas -não tomaram as medidas necessárias e duras contra especuladores- existe a lógica do sistema capitalista. Não há medidas para proteger a população da alta de preços. Pior: privatizam, entregam nossos recursos ao mercado financeiro e permitem a especulação desenfreada em alimentos e bens essenciais.
Enquanto os brasileiros sofrem com o aumento dos preços, as empresas do agronegócio exportam boa parte da produção nacional, além de manipularem estoques para lucrarem mais, e enquanto isso, o povo fica sem acesso a esses produtos. É a lógica atrasada de capitalismo periférico do agro que vale para enriquecer os grandes fazendeiros que não se importam com a situação da população.
Se houvesse uma política de controle de exportação, -atendendo primeiro as necessidades da população- esse quadro poderia ser amenizado e não deixar apenas os refugos de baixa qualidade nos supermercados brasileiros. Nessa lógica, a produção agrícola gera lucro para os exportadores e o povo não consegue nem comprar.
O caso escandaloso do café: Especulação e preços internacionais
Os preços do café arábica atingiram um recorde em fevereiro/25, chegando a US$ 4,11 por libra-peso. Os fatores climáticos importam, mas não explicam toda a história. Vejamos o caso do café: não foram apenas as plantações de café brasileiras -produzindo principalmente grãos arábica- que foram prejudicadas pelo mau tempo. Os suprimentos de robusta – de qualidade inferior – também sofreram queda na produção em função da seca e chuvas fortes no Vietnã, seu maior produtor.
O segredo do aumento do preço está na especulação. O café é a segunda commodity mais negociada do mundo em volume, depois do petróleo bruto. Como a sua popularidade está aumentando em países como a China, mesmo não sendo um alimento de primeira necessidade, a lógica capitalista (reduzindo a oferta e aumentando o preço para manter as taxas de retorno e de lucros) aparece. Em síntese, o clima não explica tudo: o café bateu recorde de preço em 50 anos principalmente pela especulação e a tendência de alta deve persistir por algum tempo. Vale destacar que algo parecido ocorreu com o azeite de oliva.
Os governos não investem no controle de estoques de alimentos
A CONAB foi enfraquecida e deixou de regular os estoques de arroz, feijão e outros alimentos básicos. Sem estoques públicos, os atravessadores controlam a oferta e fazem os preços subirem. Estes setores parasitários não são taxados e vivem livres para estocar produtos e aumentar os preços, prejudicando diretamente os mais pobres.
Além do preço dos alimentos as privatizações elevaram os preços de serviços como energia e telefonia. Se paga muito por gás de cozinha e combustíveis, mesmo o Brasil sendo um dos maiores produtores do mundo. A pressão dos preços das commodities internacionais e a lógica do sistema capitalista global explica o problema em boa medida. Importante considerar também que a logística distante e rodoviária – majoritariamente – também incide no preço final dos produtos. A concentração de determinadas mercadorias em algumas regiões leva a um longo deslocamento, elevando o custo.
Para enfrentar a alta dos preços é preciso uma outra lógica: contrariar parasitas especuladores e atravessadores, estimular a produção regional, enfrentar o agronegócio diversificando a produção e apoiando o pequeno produtor e a agricultura familiar e romper com o sistema de preços internacionais. Seriam os primeiros passos. Além disso, urge retomar estoques públicos de alimentos sobre controle dos trabalhadores para evitar a manipulação de preços e taxar empresas que estocam produtos essenciais para lucrar mais.
Também defendemos reestatizar setores como Petrobras (na prática uma empresa com lógica privada) e Eletrobrás para reduzir preços de combustíveis e energia e criar um sistema de controle sobre exportações de produtos essenciais, garantindo que o povo tenha acesso ao que é produzido no país.
É preciso sair da armadilha do mercado do agro e adotar uma política econômica anticapitalista voltada para os interesses dos trabalhadores e do povo.
- Reforma agrária e priorização do pequeno produtor/agricultura familiar!
- Controle dos estoques e congelamento dos preços dos produtos alimentícios!