A posse de Trump marca um novo momento na política mundial. Como prometido, ele avança a perseguição e prisão aos imigrantes, impõe desregulamentação climática, demissão de funcionários públicos e ameaça com o aumento de tarifas sobre algumas importações, o chamado protecionismo, tema desse texto.
Trump impôs aumento de tarifas contra México e Canadá (suspensas após acordo sobre as fronteiras) e China. Em relação ao aço e alumínio ele espera atingir todos os países. O argumento é fortalecer a indústria local e fazer os Estados Unidos ser grande novamente, objetivo que acirra a disputa comercial.
Essa política de aumentar os impostos para restringir a entrada de mercadorias e produtos de outros países é uma ruptura com um modelo de décadas, no qual, no geral, as taxas seguiam um patamar que não representavam um obstáculo para o comércio e nem desestabilizavam as relações comerciais. A formação do mercado comum europeu era a melhor representação da liberdade comercial do pós-guerra.
O livre-comércio
Nenhum país do mundo produz tudo que precisa e por isso ocorrem as trocas (muitas vezes com vantagens para os países ricos) entre os países. Como no capitalismo tudo visa lucro, a depender de como são realizadas as trocas, um país pode ficar dependente do outro. No caso da América Latina, vendendo basicamente matéria-prima e recebendo produtos industrializados dos Estados Unidos, há uma relação de dependência que as maiores vantagens ficam com os estadunidenses.
É a partir das relações capitalistas que nós socialistas pensamos sobre esse assunto. Por isso Marx e Engels quando trataram desses temas concluíram que o bem estar dos trabalhadores não virá nem das tarifas protecionistas e nem do livre-comércio, pois as poucas vantagens que podem obter sempre serão menores do que o lucro obtido pelos capitalistas.
Mesmo com essa observação precisamos entender a lógica de um e de outro e como servem para a exploração sobre dos trabalhadores.
Em alguns aspectos é possível considerar, dentro da lógica capitalista, que o livre comércio apresente mais vantagens para o trabalhador, pois com mais liberdade comercial, de uma maneira geral, o preço das mercadorias reduz e, dessa forma, o trabalhador tem mais acesso a bens necessários para a sua sobrevivência. Por exemplo, mais alimentos sendo produzidos e comercializados, o preço fica mais acessível.
Mas, como estamos no capitalismo, logo vem as contradições. Como a força de trabalho também é uma mercadoria, com a queda do preço das mercadorias necessárias para a reprodução biológica, o valor da força de trabalho também reduz, então há uma tendência à redução salarial neste sentido.
A outra possibilidade é o incremento no comércio fazer aumentar a produção e o salário, algo importante para o trabalhador, uma vez que “capital parado leva ao retrocesso da indústria”, causando crise e consequentemente, como sempre, o “trabalhador sucumbiria antes que o capitalista” (Marx)
Mas não é simples assim, pois a transferência de parte do lucro para os trabalhadores não é automático e, nesse meio, o aumento da produção leva à concentração de capital e a ampliação da classe trabalhadora e com isso há mais trabalhador que empregos, e consequentemente joga o salário para baixo. Também depende do nível da luta dos trabalhadores e da correlação de forças.
Como é fácil perceber, a vantagens são pequenas e logo desaparecem, se limitando a alguns momentos de crescimento econômico que o livre-comércio permite.
O protecionismo
Definimos protecionismo como o conjunto de medidas de um governo para privilegiar a produção do país, dificultando e até impedindo importações de determinados produtos e enfraquecendo a concorrência estrangeira. Aumentando o imposto sobre o aço de outros países, no caso atual, Trump fortalece os capitalistas estadunidenses da indústria do aço. Já tivemos o protecionismo de países periféricos buscando seu desenvolvimento e proteção econômico, algo bem específico e pontual.
Por isso, Marx trata essas tarifas como uma arma econômica do Estado para proteger seus capitalistas e enfrentar o capital estrangeiro. O protecionismo pode colocar vários problemas, como crescimento mais lento, inflação mais alta, diminuição do consumo, ou seja, o padrão de vida dos trabalhadores também corre o risco de diminuir.
Trump também quer tornar os países pobres ainda mais dependentes dos Estados Unidos, obrigando-os a ceder para ter alguma chance de vender para empresas estadunidenses. Outro efeito é o aumento dos conflitos com países mais ricos, como a China. Com isso teremos mais instabilidade pela frente.
Pelo fim da exploração capitalista
Seguindo Marx, não cabe a classe trabalhadora apoiar um ou outro, pois com livre-comércio ou protecionismo, os capitalistas sempre ficarão com a riqueza e a classe trabalhadora mais pobre.
A única possibilidade de uma virada a nosso favor, é a classe trabalhadora mundial se juntar e defender seus interesses, produzir coletivamente e distribuir entre todos o que produz. E no caso do continente americano cabe à classe trabalhadora estadunidense e latino-americana deixarem de escolher qual forma vai ser explorada e lutar contra a exploração sob qualquer forma.