A derrota de Bolsonaro, ainda que por pequena margem, foi uma vitória importante do movimento de massas. Se ganhasse, além de mais ataques aos direitos trabalhistas e sociais, a extrema-direita sairia muito mais forte para continuar com suas provocações. Se imaginarmos a extrema-direita como um polvo, a derrota de Bolsonaro é como se cortasse um tentáculo: ela se mantém viva, mas fragilizada.
Foi uma derrota cara, pois o governo Bolsonaro despejou bilhões de reais (o mesmo dinheiro que negou durante os 3 últimos anos) nos auxílios, as várias denúncias de assédio eleitoral contra prefeitos (que ameaçavam cortar auxílio), contra patrões (ameaças de demissões e fechamento de empresas), a pressão sobre os fiéis nas igrejas lideradas pelos “mercadores da fé”, milhares de fake news, entre outros.
Não nos iludamos: a extrema-direita segue viva
É compreensível a alegria que tomou conta das ruas no dia da eleição, afinal foram quatro anos de um governo que desprezou a vida, perseguiu os povos indígenas, zombou do povo na pandemia, retirou direitos sociais e trabalhistas e fez ameaças de golpe toda semana.
Uma alegria da qual coparticipamos, mas é preciso refletir sobre as tarefas que temos pela frente. E uma delas diz respeito à força política da extrema-direita. Na nossa opinião ela segue firme, suas ideias ganharam força pelo país. Ela está conseguindo mobilizar muitas pessoas e a votação obtida por Bolsonaro, mesmo com a derrota, mostrou que a extrema-direita é uma força política expressiva e precisa ser derrotada.
Por uma frente da esquerda anticapitalista
Seguindo seu discurso, o governo Lula não enfrentará a extrema-direita nas ruas – a não ser que seu governo esteja ameaçado-, pois apostará em um governo que buscará a “reconciliação dos brasileiros”. O enfrentamento deve ocorrer essencialmente no parlamento. Os setores da burguesia que “em defesa da democracia” apoiaram Lula também não combaterão a extrema-direita porque isso poderia ser usado para chantagear o Lula e o PT.
Numa demonstração de como vão agir no próximo período, imediatamente após o resultado eleitoral, grupos bolsonaristas iniciaram a provocação golpista bloqueando rodovias pelo país. Eram vários pontos, mas poucas pessoas agindo, o que facilitaria uma reação exemplar contra esses grupos.
No entanto, mesmo o movimento social de esquerda não reagiu rapidamente. Reações efetivas e vitoriosas foram das torcidas organizadas que acompanhavam o time na rodada do brasileirão, uma ação da periferia em São Mateus no Espirito Santo e operários metalúrgicos de Angra dos Reis que desocuparam as rodovias. Foram mais consequentes do que as organizações do movimento social e mostraram que há espaço para derrotar a extrema-direita nas ruas.