O projeto de extermínio de filhos e filhas da classe trabalhadora tem sido intensificado e deixa o rastro de sangue de suas vítimas. A atuação do Estado burguês sobre jovens que precisam de seus serviços para sua subsistência é pautada na violência e no descaso, o que explicita as suas intenções para esses jovens quanto integrantes da classe proletária.
Essas violências possuem caráter repressivo de cunho eliminatório em relação aos elementos que compõem a juventude descendente ou participante da classe trabalhadora. Nesse sentido, denunciar essas formas repressivas de controle, anulação e alienação é reivindicar essencialmente que essa juventude, vítima dos planos de extermínio estatal, viva e não somente sobreviva. Nesse texto destaco uma juventude específica: a periférica.
Há muitos anos que o plano do Estado burguês é o silenciamento dos jovens periféricos, não que são empurrados a trabalhar antes mesmo de completar a maioridade. A atuação violenta que caracteriza esse projeto de extermínio dos filhos da classe trabalhadora, quando é física, acontece majoritariamente e é direcionada a favelas/complexos/comunidades atingindo mais jovens negros e periféricos. Dentre as muitas violências direcionadas aos moradores e principalmente a juventude, friso: a violência policial, o apagamento da identidade e a desvalorização dos conhecimentos culturais produzidos por esses jovens.
É preciso salientar que a violência policial é de atuação física, mas que nem todas as formas de repressão são, porém a eliminação desses corpos, de maneira material, atravessa todos os tipos de violências direcionadas à juventude periférica.
Em adição, os meios repressivos abrangem também quando se trata da subjetividade desses sujeitos, os colocam à margem do que se considera valoroso culturalmente na tentativa de anular suas possibilidades de acesso. Um dos mecanismos mais usados pelo Estado é a precarização da Educação, que se dá pela tentativa de pacificar as mentes e corpos de jovens periféricos e denotam a perversidade e a quem o Estado serve: a burguesia, que não sofre com nenhuma dessas mudanças e consequentemente com nenhuma violência estatal. O exemplo mais recente desse tipo de violência direcionada à juventude é o Novo Ensino Médio.
Bem sabemos que a Educação no sistema capitalista é um mecanismo de disseminação da ideologia dominante, para assim operar na classe trabalhadora na tentativa de transformá-la em massa de manobra. Essas opressões se intensificam pela implementação do N.E.M. (Novo Ensino Médio), que é uma mudança estrutural e em tese deveria orientar estudantes do Ensino Médio a escolherem uma área (entre humanas, biológicas, exatas) para continuar estudar futuramente. Porém, o que têm ocorrido nas escolas estaduais são as faltas de professores, itinerários formativos que não atendem as necessidades dos estudantes, redução de carga horária de matérias importantes para construção do senso crítico de estudantes, a criação de matérias como “Quem és tu, cidadão?”, “O que rola por aí?”, “Projeto de vida”, etc.
Além de precarização dos meios de subsistência dos filhos da classe trabalhadora, que influencia diretamente na sua qualidade de vida (e na sua longevidade) e na compreensão de sua realidade de exploração, percebe-se então que o projeto do Estado burguês é eliminar corpos subjugados pelo seu próprio poderio.
Esses fatos são perceptíveis pela violência policial que ocorre hoje no Rio de Janeiro diariamente nas periferias. Somente no mês de agosto foram assassinadas cerca de 14 pessoas nas operações policiais pela cidade, dentre as vítimas se encontra uma criança de 5 anos e um adolescente de 13 anos. A justificativa que a PM usa para suas atrocidades é de combate ao tráfico de drogas e, assim, segue cometendo chacinas como as que ocorreram no Jacarezinho em 2021 (com 28 jovens mortos) e na Vila Cruzeiro-Complexo da Penha em 2022 (com 23 jovens mortos). Todos esses assassinatos cometidos pelo Estado evidenciam que o seu projeto é sobretudo a eliminação, não somente do conhecimento e dos meios de acesso dos filhos da classe trabalhadora, mas a morte desses corpos.
Dessa forma, portanto, compreende-se a instalação da barbárie, do genocídio e do epistemicídio (morte na construção de conhecimento) como projetos de domínio político e ideológico sobre a juventude pobre e periférica. Essa juventude, que depende do ensino público para sua formação e que está sendo precarizado, se vê na atualidade cercada em meios aos tubarões do neoliberalismo (que querem transformar esse setor da Educação em mercadoria), mas vamos nos levantar e sair desse cerco!