Nas últimas décadas, o Equador passou por vários ciclos políticos, de 1979 a 1996, que oscilaram entre governos eleitos e que finalizaram seus mandatos. Depois, de 1996 a 2006, passou por um novo ciclo com governos eleitos e que não conseguiram terminar os mandatos. De 2007 a 2017, Rafael Correa eleito por duas vezes manteve programas públicos sociais, alta popularidade e liderou um período de estabilidade.
Rafael Correa implementou um modelo de governo que se apoiou no boom mundial das commodities, aumentou os investimentos e serviços públicos, contou com uma nova Constituição que incorporou medidas sociais para melhorar as condições gerais de vida e de trabalho da população. E os empresários lucraram muito.
A recessão econômica de 2014/15 impôs muitas contradições a esse modelo de governo. E a polarização cresceu, sobretudo nas classes médias.
Lenín Moreno, em 2017, foi o escolhido pelo Partido Revolução Cidadã (liderado por Correa), mas na primeira oportunidade rompeu com Rafael Correa e formou um novo bloco com a burguesia e setores de direita para se sustentar politicamente até 2021. Iniciaram as perseguições políticas e processos contra as lideranças do “correísmo”, inclusive Rafael Correa que se exilou para não ser preso. E combinado com as perseguições e repressões seguiram também uma série de ataques aos direitos sociais.
O outro presidente empresário, banqueiro bilionário, Guillermo Lasso, desde 2021 até os dias atuais, tem consolidado esse bloco de poder e tem aplicado de forma mais profunda as medidas neoliberais. As consequências disso, como nos outros lugares onde o neoliberalismo avançou, são as políticas sociais em colapso com o aumento a miséria, a explosão da delinquência e do crime organizado.
As sucessivas crises políticas
Um fato importante, desde os anos 1980 e por ordem do FMI, é que foram aplicadas várias medidas neoliberais que garantiram num primeiro momento o “crescimento” capitalista, a consolidação da burguesia e permitiram a ascensão das classes médias equatorianas. Essa situação produziu uma profunda concentração de riqueza em poucas mãos e a deterioração das condições de vida da população nacional.
Mas, esse modelo tem se esgotado e a crise econômica tem empurrado muitos equatorianos para pobreza e a imigração ilegal para os Estados Unidos cresceu, a ponto de o recebimento de dólares do exterior ser a segunda maior fonte de renda do país e só perder para as exportações de petróleo.
Esse processo também produziu o enfraquecimento do Estado e, consequentemente, o empobrecimento e a deterioração das condições de vida. Cerca de 70% da população têm dificuldades de acesso à cesta básica; 63% da força de trabalho estão em condições precárias, os serviços públicos estão cada vez mais raros e são altos os níveis de corrupção pública e privada.
O movimento social vem reagindo e, na última grande rebelião em 2022, o povo tomou as ruas para exigir a redução de preços dos combustíveis e de itens da cesta básica, a revogação dos cortes no Orçamento das universidades públicas e uma consulta popular sobre projetos extrativistas em terras indígenas.
O governo Lasso não resistiu, entrou em crise, perdeu a legitimidade e a Assembleia Nacional propôs o impeachment. Para “não morrer sozinho” ativou o “muerte cruzada”, mecanismo constitucional que antecipou as eleições presidenciais e para o Congresso Nacional.
Eleições de 2023
Na eleição de 20 de agosto, Luisa González e o milionário Daniel Noboa seguiram para o segundo turno que será em 12 de outubro.
De um lado, a representante do grupo de Rafael Correa que defende o modelo desenvolvimentista com algumas políticas públicas. De outro, a continuidade e aprofundamento do modelo neoliberal representado por Daniel Noboa.
Noboa representa o velho, a continuidade do modelo neoliberal de Lasso, mas diz apostar na imagem de renovação política e da juventude que projetou no seu programa de governo e apresentou ao empresariado ao qual está ligado.
Nessa eleição está em jogo a forma que o capitalismo seguirá sendo implementado no país, isto é, como os trabalhadores e os povos indígenas do Equador enfrentarão as batalhas pela retomada de seus direitos históricos.
Guardadas as especificidades da situação política equatoriana, essa disputa é muito semelhante às que ocorreram no Chile, Colômbia, Bolívia e Brasil. Nesses processos eleitorais, um candidato de direita disputa com um que se diz de esquerda para aplicar um projeto burguês.
A cada eleição e em todos os cantos sentimos a ausência de uma força política anticapitalista que deve ser superada, que assumamos como um dos principais desafios para a mudança revolucionária da sociedade o avanço da consciência de classe, para despertarmos com peso no seio da classe trabalhadora as lutas socialistas.