A luta estudantil na UFRJ tem sido construída contra as instâncias da instituição que não dialogam com o corpo discente. Atualmente, estudantes frequentam os campi com medo pela infraestrutura prejudicada, resultado do descaso e falta de manutenção.
Ao longo de 10 anos, a verba destinada à instituição tem sido cortada. Nos últimos anos no governo do genocida Jair Messias Bolsonaro, porém, os cortes chegaram a uma situação extremamente crítica. No governo atual de Lula-Alkimin a prática de cortar verba da educação permanece. Persiste o sentimento de incerteza quanto ao futuro da universidade. Além disso, a situação estrutural dos prédios da UFRJ compromete a produção de ciência do país.
Ao encararem essa realidade, alunos do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) iniciaram no segundo semestre do ano passado um processo de luta por reformas estrutural e elétrica urgentes, visto que o prédio tem o risco iminente de pegar fogo, assim como aconteceu com o Museu Nacional localizado na Quinta da Boa Vista onde funcionava a Pós-graduação de Antropologia.
Estudantes se organizam
Após o prédio ficar sem luz em alguns andares, mais de uma vez no ano e com o quadro de energia sando faíscas, os estudantes sentiram a necessidade de se manifestarem exigindo condições adequadas para estudarem. Entre os meses de outubro a dezembro foram realizadas diversas assembleias, entre elas 2 comunitárias com todos os setores atuantes no prédio. Com a omissão da direção e da reitoria foi decidida, em assembleia, a radicalização na luta e ocupação do gabinete da direção.
A atual direção do IFCS- IH tem falado do desejo de somar na luta, mas até agora se omitiu e mentiu para os estudantes. Em uma reunião da instância superior da Universidade que controla a verba dos campi, foi revelado que a UFRJ devolveu mais de 30 mil reais de verba não utilizada, o que causou revolta nos estudantes e professores presentes, afinal no IFCS-IH falta até mesmo assento nos vasos sanitários.
Sabemos que 30 mil reais é pouco, pois só a reforma é estimada em R$12 milhões pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Entretanto, era possível realizar várias melhorias com a verba devolvida. Além disso, o IFCS-IH é dividido com outro o Instituto de História, que também devolveu verba, o que totalizou 70 mil reais. Após pressão da luta estudantil, a direção disse que pediria essa verba devolvida e seria destinada para a instalação de placas de segurança, em casos de incêndio, pelo prédio, porém, até hoje, essa promessa não foi cumprida. Os estudantes continuam questionando “Para onde foram os 70 mil?”.
A precariedade da UFRJ se revela em todos os campi. Ter o teto ameaçando cair tornou-se uma situação rotineira no CCS (Centro de Ciências da Saúde), por exemplo. Com todos esses eventos, a reitoria permanece omissa e age apenas quando há mobilização estudantil.
Reitoria só enrola
No IFCS, após a ocupação ser iniciada e ser mantida por 1 mês, a reitoria realizou duas visitas ao campus com a proposta de dialogar com os estudantes. A primeira ida da reitoria, em 24/10/23, foi uma farsa, uma visita midiática que produziu ótimas fotos e promessas, mas nenhum avanço efetivo e garantia de melhoria na estrutura do prédio.
A segunda visita da reitoria ao campus foi no período de recesso. Memo assim, os estudantes da ocupação estavam presentes em peso para pressionar a assinatura de um termo de compromisso da atual gestão da reitoria para agilizar o processo burocrático de destinar parte da verba anual para as reformas necessárias no campus.
A luta estudantil do ano passado não se resumiu apenas a reivindicações sobre as reformas que o prédio necessita. Há também o apoio aos trabalhadores terceirizados da limpeza (empresa Construir) que atrasa salários afetando a qualidade de vida e o acesso a alimentação dos trabalhadores e exigindo a quebra de contrato entre a UFRJ e essa empresa com urgência.
Mesmo nas férias, os estudantes não cessaram as mobilizações: foram às ruas para disputar a emenda parlamentar do deputado federal Glauber Braga (PSOL) 1,5 milhão de verba e conseguiram. O dinheiro será destinado às obras das reformas estruturais que o IFCS precisa. Em suma, nota-se que a ação e a luta dos estudantes ajudaram mais para as reformas do que os esforços da direção do IFCS-IH e da reitoria.
Luta que segue
As reformas elétrica e estrutural não se iniciaram, porém, a luta estudantil não acabou com o fim da ocupação no gabinete da direção e as mobilizações não irão cessar até produzir ciência nesse país com dignidade, sem o risco de perder a vida. No ano de 2024 a radicalização permanecerá guiando as ações políticas dos estudantes que prezam e acreditam que só a pressão funciona e gera resultados. A luta estudantil vale a pena quando construída em um ambiente de coletividade que se baseia nas necessidades da base.
Os estudantes realizarão a primeira assembleia do ano no início das aulas, para discutir as promessas não cumpridas pelos órgãos da UFRJ. Não irão conseguir parar os estudantes até todos os pedidos serem atendidos. Haverá luta organizada e radical SIM!