Apresentamos o texto a seguir, um pouco longo, mas necessário para colocar novos elementos e assim permitir uma compreensão mais totalizante do processo pois, a nosso modo de ver, o que ocorre na Síria não se explica só pelos últimos acontecimentos. Pedimos o esforço para essa leitura e, se quiserem, façam os comentários e críticas, forma importante para aprofundarmos o conhecimento dessa realidade.
Passados alguns dias desde a queda do governo Bashar-al Assad e com mais informações, agora é possível tratar com mais segurança sobre o processo sírio do qual a queda de Assad é um dos elementos. Desde o levante popular de 2011, a Síria passa por instabilidades políticas com guerra civil, repressão do antigo regime contra opositores (prisões , torturas e assassinatos), crise econômica e social.
É um processo bem complexo e contraditório com a presença de forças políticas e militares dos países da região, reivindicações democráticas, milícias fundamentalistas, financiamento de grupos por parte de outros governos, além dos interesses de Israel e Estados Unidos. Há também visões bem distintas na esquerda, entre outras questões.
No momento que escrevemos esse texto, Mohammed al-Bashir – chefe da administração em Idlib, cidade que ficou sob controle do HTS (Hayat Tahrir al Sham ou, em português, Organização para a Libertação do Levante), foi posto como Primeiro-ministro até março de 2025. Se a maioria dos países não reconheceu o novo governo explicitamente, também não houve nenhuma contestação.
A importância da derrota do antigo regime de Assad: as várias contradições
Os recentes acontecimentos na Síria mexem com toda a região. Fazendo fronteira com Irã, Iraque, Turquia, Israel, Jordânia e Líbano e contando com uma base russa, a cidade de Tartus se torna o epicentro dos conflitos na região. Além disso, a Síria é caminho para transporte de gás egípcio para Europa, daí o elevado número de países interessados no desfecho.
A ditadura dos Assad já durava 50 anos com muita repressão sobre o povo sírio e também contra os curdos. Com algumas medidas de cunho nacionalista, o enfrentamento ao imperialismo era muito pontual e não servia de base para o enfrentamento ao Estado colonialista israelense. Mas, também tinha contradições, principalmente por abrigar o Hezzbolah que foi importante na defesa do regime contra o Estado Islâmico. Já em relação à França, as relações – pelo menos antes da explosão da Primavera Árabe – eram muito mais amistosas contando com o apoio dos governos Miterrand, Chirac, entre outros.
Dessa forma, não podemos concordar com setores de esquerda que veem nessa ditadura elementos progressistas. A sua queda, ainda que com muitas contradições, abre a possibilidade de novos avanços. Era uma ditadura de um governo capitalista e sua derrubada, possibilita ao povo se organizar e avançar com conquistas.
Outra contradição é que a principal força política que atuou na sua derrubada não representa nenhum interesse da classe trabalhadora, pelo contrário, é parte de um movimento político reacionário e ditatorial. As “promessas de amenização”, assim como o Taliban fez, são por conta de não existir uma correlação de forças favorável permitindo impor suas concepções.
É provável que o imperialismo reconheça o novo governo encabeçado pelo HTS, mas vai antes enfraquecer o poder bélico sírio. As centenas de bombardeios israelenses, destruindo toda a infraestrutura do país, têm por objetivo fragilizar o novo regime. De todo modo, esse novo governo não oferece riscos para o imperialismo e nem para as pretensões de Israel.
A falta de alternativa pela esquerda e formas organizativas são obstáculos para a classe trabalhadora conseguir se colocar nesse processo, mas também não podemos descartar a eventualidade de surgir um movimento independente.
Com tantos disparates, muitas coisas podem acontecer. Precisaremos acompanhar o processo e, na medida de nossas forças, ampliar a solidariedade ao povo sírio e também à luta dos palestinos que, se vitoriosa, poderá puxar os demais para a combate aos invasores e os setores reacionários.
O rápido avanço do HTS e dos demais grupos demonstrou a fragilidade do antigo regime
São vários grupos que participaram das ações que culminaram com a queda de Assad, como as Forças Democráticas Sírias, grupo curdo na Síria e que recebem o apoio dos Estados Unidos, o HTS (Hayat Tahrir al Sham, liderado por Al-Jolani que diz ter rompido com a Al Qaeda) – o maior e mais importante grupo – o Exército Livre da Síria (e outros grupos), apoiados e financiados pela Turquia (que combatem os curdos que há décadas lutam pelo Estado Curdo), além de outros menores e de caráter religioso como os drusos.
Há também pequenos grupos locais financiados por Jordânia e Arábia Saudita. Enfim, os opositores de Assad são vários e de diversos matizes políticos e ideológicos, demonstrando como Assad era odiado e como a oposição é diversa e contraditória.
A rapidez da ação militar diz respeito, principalmente, ao esfacelamento do antigo regime sírio. O rápido avanço militar do HTS, partindo de Idlib tomando Aleppo e Hama até chegarem a Damasco em poucos dias e as ações dos curdos tomando a cidade de Deir al Zor praticamente não encontraram obstáculos com os militares deixando seus postos, praticamente não houve combates.
A chegada dessas forças a Damasco e a fuga de Assad simbolizaram a queda de um regime que durava mais de meio século. Atualmente se abre um novo tempo para a Síria, agora disputada pelos interesses dos Estados Unidos, de Israel, Turquia e outras forças regionais.
O regime de Assad que foi se enfraquecendo nos últimos anos. A vitória militar contra as forças do Estado Islâmico e outros grupos da oposição síria quando retomou Aleppo em 2016 só foi possível pelo apoio russo e iraniano, do Hezbollah, de grupos islâmicos xiitas iraquianos que contavam com tropas disciplinadas, experientes e coesas ideologicamente, o que deixou de acontecer. Além do mais, as forças militares de Assad estavam despreparadas, desmotivadas e sem o convencimento para defender o regime.
Até mesmo as forças políticas que compunham o governo não se colocaram em defesa de Assad. A reunião ocorrida semanas antes, com a presença de Rússia, Turquia e sediada no Catar já discutia a transição para o novo governo. Este é um fato que afasta a ideia de que tudo foi de repente: era um plano conhecido por todos.
Os avanços e ações das forças armadas de Israel e dos Estados Unidos (apoiadas por outros imperialismos), praticamente destruindo a estrutura aérea do país (com exceção dos aeroportos com presença russa) era parte do plano traçado. Os russos, atolados na invasão e guerra contra a Ucrânia, não tinham capacidade para bancar esses conflitos. Assim, o regime de Assad não possuía mais utilidade para nenhum dos atores envolvidos.
A crise social e econômica foi outro – e talvez o principal e mais importante- elemento que desagregou o regime e o fez perder apoio popular. Mais de 90% da população vive na pobreza e metade em situação de insegurança alimentar, 650 mil crianças em condições de nanismo, desemprego, entre outros muitos problemas.
É a soma desses elementos que explica a queda do antigo regime e de Assad.
As contradições da Primavera Árabe, a crise e a longa instabilidade
A crise do regime sírio começa com as mobilizações no contexto da “Primavera Árabe” de 2011 – um importante e progressivo movimento de massas e talvez o mais importante desse século – mobilizações que foram derrubando ditadura atrás de ditadura na região. As que permaneceram, como a síria, se debilitaram e tiveram de conviver com fortes movimentos de oposição, inclusive armados.
Importante e progressivo, mas, para nós de Emancipação Socialista, esse processo não representou uma Revolução antissistema ou uma Revolução Socialista. Uma força política e social, mas com a ausência de uma consciência socialista e antissistema foi um elemento chave (aliás como em todas as outras recentes rebeliões populares) para que o processo retroagisse.
O que ocorreu no Egito é bem simbólico. As gigantescas manifestações derrubaram a ditadura de Mubarak que já durava trinta anos e conquistaram liberdades democráticas importantes. Com as eleições, chega ao poder a Irmandade Muçulmana (um grupo islâmico fundamentalista baseado na Sharia, uma interpretação reacionária das leis islâmicas), mas depois vem o golpe militar de 2013, instaurando uma nova ditadura sobre o país. Em outros países, como na Síria, grupos fundamentalistas islâmicos se colocaram à frente do processo político, desmobilizando as massas e se apoderando do governo.
No caso especifico da Síria, as mobilizações da Primavera Árabe têm início em 2011 com o sequestro pela polícia de adolescentes que escreverem “O povo quer derrubar o regime” na parede de sua escola.
Assad respondeu a essas mobilizações com forte repressão, inclusive bombardeando cidades em que a oposição era forte. Reforçou o aparato repressivo, perseguiu e prendeu dissidentes.
Diante de alternativas pela esquerda e à medida que a Síria mergulhava na guerra civil, os grupos islâmicos armados cresciam e multiplicavam sua influência e empurraram o caráter das mobilizações para a resistência armada e para longe das mobilizações de massa.
A instabilidade se instalou no país e na região como um todo. Uma região com imensas riquezas petrolíferas dividida em Estados artificiais (os chamados Estados sem nação, frutos da intervenção imperialista colonialista), o domínio e ocupação pelo imperialismo de vários países, a presença de multinacionais com forte aparato miliciano, Conflitos políticos e militares de toda ordem tornam a região bastante instável politicamente.
De outro lado a falta de um proletariado ativo politicamente e de uma alternativa pela esquerda, combinadas com a derrota dos movimentos nacionalistas progressistas, abriram espaço para o crescimento político de grupos islâmicos fundamentalistas e de caráter reacionário que se radicalizaram contra as várias formas de colonialismo.
Não vemos nesse processo elementos indicando estabilidade política na Síria, pois são muitos interesses político-econômicos locais e externos e como não há uma força que consiga “governar por cima”, a tendência é de a instabilidade continuar com bastante força.
O governo de Assad não era socialista ou anti-imperialista
Uma parte do ativismo de esquerda apoiava o governo Assad considerando-o de esquerda e de um suposto anti-imperialismo, mas os fatos demonstram o contrário.
O baathismo (origem remota do partido de Assad) era uma corrente nacionalista que se formou na Síria na década de 1940 e era parte do pan-arabismo, movimento político com um programa político progressista, inclusive defendendo bandeiras socialistas (sem serem, de fato, socialistas). Também defendiam um Estado secular com a separação de Estado e religião.
A luta contra a colonização europeia e a expulsão do imperialismo francês da Síria em 1946 tornou essa corrente muito popular na Síria e no Iraque, porém, mais tarde, se separam, ficando os sírios mais próximos da ex-União Soviética.
Entre muitas disputas, em 1963 há outro golpe militar liderado por membros do Partido Ba´ath adotando medidas como a reforma agrária, o desenvolvimento industrial, nacionalização, entre outras. O governo vai se enfraquecendo e a perda das Colinas de Golan para Israel em 1967 acirra as disputas internas e o desgaste do governo.
Em 1970 há mais um golpe, agora liderado por Hafez al-Assad (pai de Bashar al-Assad) com tom nacionalista e prometendo a retomada das Colinas. É um governo sob liderança do partido Ba’ath que se apoia nos militares, adota medidas centralizadoras e passa a reprimir as manifestações populares.
Hafez al-Assad chegou a receber treinamento militar na União Soviética, tem uma retórica nacionalista e anti-imperialista, ampliou a nacionalização de algumas indústrias, fez concessões econômicas, mas nunca promoveu lutas anti-imperialistas concretas na região. Pelo contrário, sempre manteve um tom conciliador.
A questão religiosa também é um elemento conflituoso na Síria. Os Assad eram alauitas, minoria religiosa no país, mas detinham o poder. Nos anos 1980 grupos sunitas – como a Irmandade Muçulmana – são declarados ilegais e passam a serem perseguidos. Em 1982 há um levante em Hama, cidade de maioria sunita, onde vários oficiais do exército sírio]ao assassinados e declaram Hama livre. A resposta do governo é um massacre que, segundo dados não oficiais, produz 40 mil vítimas.
Fizemos essa digressão para demonstrar que o antigo regime, nem em seus tempos mais progressistas, foi socialista ou anti-imperialista. Os conflitos com Estados Unidos e Europa eram mais localizados.
Com a morte de Hafez al-Assad, seu filho, Bashar al-Assad, assume e mantém a dinastia no poder. Também são mantidos a política de repressão ao povo sírio e os privilégios para uma pequena casta burocrática do Estado.
Por óbvio, o imperialismo não confiava em Bashar al-Assad que usava a importância geográfica da Síria para negociar com outros países: travando acordos com os russos para instalação de bases militares, mantendo proximidade com Irã, que nutre um sentimento anti-Estados Unidos muito forte e apoiando os combatentes do Hezbollah.
O papel de Bashar al-Assad contra as mobilizações da Primavera Árabe – tema tratado em outras partes desse texto – também demonstra o caráter burguês e reacionário desse regime.
HTS (Hayat Tahrir al Sham ou, em português, Organização para a Libertação do Levante) não merece nenhuma confiança
A origem desse grupo é o Jabhat al Nusra, formado em 2011 como um grupo armado islâmico sunita, ligado à Al-Qaeda. Onde conseguiu ocupar território, impôs suas visões reacionárias. Segundo Abu Mohammed al-Jolani, liderança militar, o grupo rompeu com a Al-Qaeda em 2016. Mas, há muitas dúvidas se essa ruptura de estendeu aos métodos. Até esse momento, o HTS tem prometido amplas liberdades religiosas.
A partir da fusão com outros grupos, surge o (HTS) Hayat Tahrir al Sham em 2017. Tem um caráter mais nacionalista restrito ao governo na Síria, e nisso difere de grupos jihadistas, que defendem um califado muçulmano transnacional (como defendia o Estado Islâmico).
O THS se tornou uma força militar importante, relativamente coesa e bem treinada. Tinha a sua própria academia militar (com antigos oficiais do regime), suas próprias oficinas de montagem de drones, impressoras 3D para fabricar peças sobressalentes, ou seja, conseguiram criar uma pequena força de “profissionais”.
Controlava a província de Idlib com o Governo de Salvação da Síria, mantendo alguns serviços públicos, impondo políticas reacionárias nas áreas controladas por eles. A formação política de Al-Jolani é fortemente influenciada por uma leitura elitista, autoritária e conservadora do Islamismo. Tem agido como uma milícia autoritária. A questão é como e se conseguirá governar com essa concepção político-ideológica.
É um grupo considerado terrorista pelos imperialismos, mas, como sabemos, essas definições sempre dependem do momento político. Estados Unidos e Inglaterra já trabalham com a ideia de retirarem essa definição.
O que acontecerá com Israel e a Palestina?
É certo que Israel agiu para derrubar Bashar al-Assad, mas ainda não está visível quais as consequências para a luta do povo palestino.
Nessa “nova Síria” é pouco provável que Israel consiga apoio do HTS pelo seu caráter colonialista, os massacres contra o povo palestino, a ocupação de parte do território na guerra de 1967 e as recentes e constantes agressões ao território sírio. Logo após a queda de Bashar al-Assad, Netanyahu ordenou a ampliação da presença e ocupação militar israelense além das Colinas de Golan.
Também podem pesar as posições de Al-Jolani, pois seu avô foi expulso da região da Síria ocupada por Israel em 1967. Em uma entrevista concedida em 2021, Al-Jolani definiu a Segunda Intifada palestina de 2000 como algo importante para o seu desenvolvimento político e o direcionamento para o islamismo radical.
Nesse momento a grande vantagem para os israelenses é a ruptura da linha de suprimento do Hezbollah e do Hamas, ou seja, concretamente enfraquecem esses grupos.
A causa Curda
O povo curdo é mais um dado nessa difícil equação. Com uma população estimada entre 30 e 35 milhões, habitam uma região que se espalha pelos territórios de quatro países: Turquia, Iraque, Síria e Irã, formando o que eles chamam de Curdistão. Mas, mesmo habitando essa região por séculos, não são reconhecidos por esses países e não têm um Estado.
Após a I Guerra Mundial e a desintegração do império Otomano, mesmo com o redesenho do Oriente Médio, a formação de novos países e a independência da Turquia, os Curdos permaneceram sem o direito à formação de seu Estado. Desde então há a luta pela constituição do Estado Curdo abrangendo esse território.
Na Turquia, onde são aproximadamente 20% da população, nas várias revoltas ao longo desses anos, a repressão foi muito violenta, com prisões, perseguições, inclusive com massacres entre os anos de 1990 e 2000, com o exército turco destruindo cerca de 4.000 aldeias e matando mais de 40.000 curdos. Também é proibido qualquer tipo de manifestação de identidade curda.
O regime sírio sempre teve uma política de negação à identidade curda. Além da repressão policial houve o processo de arabização, com várias medidas como a proibição do uso do idioma e das formas de cultura curda, o confisco e expulsão dos agricultores curdos de suas , que foram redistribuídas aos agricultores árabes. Sequer tinham direito à cidadania síria e os direitos básicos que a acompanham.
A forte atuação e presença da Turquia e de Erdogan na questão curda financiando e apoiando o Exército Nacional Sírio foi a forma de afastar os combatentes curdos das suas fronteiras, tentando evitar que a ampliação da autonomia curda na Síria pudesse servir de incentivo para os curdos na Turquia.
Na finalização desse texto, estava sendo fechado um acordo entre a Forças Democráticas Sírias (grupo curdo na Síria, apoiado e financiado pelos Estados Unidos) e o Exército Nacional Sírio, garantindo o recuo dos curdos. Esse acordo também mostra o cinismo e a hipocrisia dos Estados Unidos que, para enfrentar o regime de Assad, apoiaram os curdos e agora defendem abertamente os interesses da Turquia. Com o governo Trump, a tendência é cada vez mais distanciamento em relação aos curdos, abrindo espaço para as forças armadas da Turquia atacarem-no em seu território. Lembramos uma frase de Trump em 2019: “Nós gastamos um volume absurdo de dinheiro ajudando os curdos, em termos de munição, armas, dinheiro, salários”, eles atuaram sim ao lado dos Estados Unidos contra o Estado Islâmico, mas os curdos “estão lutando por sua terra“.
Os combatentes curdos foram fundamentais para a expulsão do Estado Islâmico da Síria, retomando vários territórios desses milicianos, demonstrando a força política e militar.
Os acordos com os Estados Unidos não têm apoio de muitos curdos que já aprenderam que os países imperialistas dizem apoiar a luta curda pela independência só quando têm algum interesse, mas abandonam assim que possível. É isso que sempre aconteceu, desde a dissolução do Império Otomano e a reconfiguração das fronteiros no Oriente Médio no início do século XX. Nesse período foram tantas traições que nem cabem nesse texto.
Impossível prever o desfecho da situação
Qualquer prognóstico nesse momento é precipitado. Como falamos, são muitos grupos e interesses disputando espaço. O primeiro desafio é encontrar pontos de acordo que satisfaçam os grupos locais, do imperialismo, dos outros países da região, de Israel, enfim, as dificuldades são imensas.
Outra possibilidade é não chegarem a um acordo e a Síria mergulhar em uma nova guerra civil pelo poder. Cenário interessante para o imperialismo e para Israel, pois seria “um inimigo a menos”.
De toda maneira, os que hoje sentam à mesa para decidir sobre o futuro dos sírios nada têm a oferecer ao povo, competem para ver quem vai dominar o Estado e não atenderão às aspirações do povo sírio. Israel, Turquia, Estados Unidos, Rússia e os grupos sírios estão negociando uma forma de transição em que todos eles estejam incluídos e o povo excluído.
A outra possibilidade, mas com pouca chance de ocorrer, é o novo governo adotar medidas como as adotadas pelo Taliban no Afeganistão. São muito frágeis, pelo menos nesse momento. Não serão amplas liberdades democráticas, pois Mohammed al-Bashir como chefe do governo em Idlib restringiu muito a liberdade de expressão, incluindo violência e prisões arbitrárias usadas para reprimir opositores e dissidentes.
Nesse cenário também não podemos descartar totalmente uma revolta popular. A derrubada de Assad é uma oportunidade para os explorados se organizarem e construírem um governo do povo trabalhador, acabando com os resquícios do antigo regime e com as forças estrangeiras e os grupos reacionário, Assim, poderá ser construída uma Síria livre, democrática e laica, fazendo valer o que estava escrito em um cartaz segurado por manifestantes: “Os russos têm o porto, os americanos têm o petróleo, os iranianos têm as passagens de fronteira, a gangue do regime tem os bancos, mas nós temos uns aos outros”.