Alguns elementos da história do Haiti
Os primeiros colonizadores do Haiti foram os espanhóis, responsáveis pelo extermínio dos povos originários Aruaques e Taínos. Cedida à França em 1697, foi a mais próspera colônia e produzia com o trabalho escravo o cacau, café e açúcar.
A partir da experiência da Revolução Francesa, sob a liderança de Toussaint Louverture, em 1791, teve início no Haiti a primeira e única revolta popular a abolir a escravidão e conquistar a independência nas Américas. Essa revolta teve prosseguimento e em fins de 1803 o país se tornou independente. Em 1804 se livrou definitivamente da escravidão.
Foi uma luta tão importante que instalou o pânico entre os escravocratas das demais colônias, com medo de uma revolta semelhante em seus territórios.
Pela sua ousadia o povo do Haiti enfrentou a reação da burguesia francesa que enviou duas expedições, com dezenas de milhares de militares. O isolamento comercial por conta de um longo bloqueio impediu a reorganização da economia, praticamente obrigando o governo independente a orientar a produção para a agricultura de subsistência e condenando o país à miséria.
Os limites da Revolução Haitiana, a falta de condições históricas para um sistema social em oposição ao capitalismo que começava a dominar o mundo e a fragilidade econômica levaram a sucessivos regimes políticos muito instáveis com golpes articulados externa e internamente.
Desde a Independência e a República foram quase 30 golpes de Estado, invasão dos Estados Unidos (1915 e 1934) e uma feroz ditadura de 1957 até 1986.
Em 1990, foi eleito o padre Jean Bertrand Aristides, deposto no ano seguinte por um Golpe de Estado. Reeleito, toma posse em 2001 e novamente é “obrigado a renunciar” em 2004.
Para conter a instabilidade política sob ordem direta dos Estados Unidos, o Brasil ocupa militarmente o país de 2004 a 2017, chefiando a MINUSTA (forças militares que controlam o país).
Apesar da fachada humanitária, as missões foram Forças de Ocupação, à revelia do povo haitiano. Muitas denúncias foram feitas como de abuso sexual, colaboração com a repressão política e até com chacinas como a ocorrida em 6 de julho de 2004.
A atuação do exército brasileiro serviu de laboratório para as Forças Armadas atuarem nos morros e favelas, principalmente do Rio de Janeiro.
2019: Greves Gerais no Haiti
Sucessivos governos ditatoriais e corruptos exploram o povo haitiano há décadas, deixando-o em condições de vida precária e miserável. A pobreza sempre esteve na base das inúmeras rebeliões do povo haitiano nos últimos anos. Hoje, o desemprego atinge 80% da população. Essa situação social foi agravada por terremotos, que já mataram mais de 230 mil pessoas desde 1995 e deixaram o país no caos.
O atual presidente, Juvenel Moise, ligado à alta burguesia haitiana, é um exemplo da influência dos Estados Unidos no país. Apoiado diretamente pelos Estados Unidos e pelo FMI, a sua política econômica vem submetendo o povo haitiano à uma brutal exploração. Até mesmo sua legitimidade de presidente é questionada pois, no universo de mais de 6 milhões de eleitores, teve menos de 600 mil votos.
Desde que Juvenel Moise assumiu a presidência, há três anos, o Haiti tem passado por diversas crises políticas, com insurreições populares respondidas com violência policial causando muitas mortes nos confrontos. Em 2019 não tem sido diferente. Em fevereiro foram 11 dias de Greve Geral. Em abril foram mais 10 dias. Nova Greve Geral em junho e julho. Essa última, iniciada em setembro, tem sido a mais longa e com manifestações de ruas por dias seguidos.
As manifestações continuam paralisando a economia do país: atividades comerciais e de transporte público estão suspensas pelas violentas manifestações espalhadas pela capital, principalmente, com as vias bloqueadas por barricadas.
Há quatro semanas que a população vai às ruas por, inicialmente, redução e depois suspensão da distribuição de combustível, o que impede os habitantes de se locomoverem para o trabalho, se alimentarem, e o bom funcionamento dos órgãos públicos. Também pesa os sucessivos casos de corrupção envolvendo Moise e sua equipe de governo.
Diversas vias principais da capital haitiana foram bloqueadas por barricadas em chamas, montadas pelos manifestantes. As manifestações reúnem milhares de pessoas, paralisando o país.
Desde o início da crise no ano passado, a repressão policial tem sido brutal com dezenas de pessoas mortas. A polícia também tem contado com o apoio de gangues e milícias pró-governo, principalmente no interior do país.
Povo luta pela renúncia do Moise
Haiti atualmente é o país mais pobre das Américas. Cerca de 56% da população está abaixo da linha de pobreza absoluta; a expectativa de vida é de 58,1 anos; 72% não têm acesso a saneamento básico; 75% sem acesso a água potável; 39% de analfabetismo; 49% de crianças sem escolarização; mais 30% da população vive em estado de crise alimentar, entre outros graves problemas sociais.
Essa situação social é que está na base das sucessivas revoltas e rebeliões populares contra o governo. E como os capitalistas instalados no Haiti não permitem que mude essa situação só resta ao povo continuar lutando. Importante destacar que essa luta tem sido de forma unitária entre as várias forças de oposição. E a principal reivindicação é a renúncia de Moise.
Os manifestantes e a oposição se recusaram buscar acordo com o governo, que seria intermediado por representantes internacionais. Nessas mobilizações também pedem a não interferência de organismos e governos estrangeiros no país que fuja ao objetivo da vontade dos manifestantes.
Diante da grave crise pela qual passa o Haiti, a única saída é o socialismo
Constantemente ouvimos que o socialismo não deu certo em lugar nenhum. Afirmação de quem nem conhece História. Primeiro porque a humanidade ainda não conheceu um país socialista de fato. União Soviética, Cuba, Coréia do Norte, mesmo tendo expropriado a burguesia, não avançaram para o socialismo. Segundo, porque ignora o fato de a totalidade dos países no mundo ser capitalista.
O Haiti é a demonstração do que é o capitalismo. Com potencialidades agrícolas, industriais e turísticas, mas é um dos países mais pobres do mundo por conta da superexploração. Vejamos a indústria têxtil, principal produto de exportação e ramo que os trabalhadores ganham menos de 5 dólares por dia.
Diferente do que a burguesia diz: o Haiti não é vítima de catástrofes naturais, a catástrofe é o capitalismo. Por isso, a luta precisa buscar resolver os problemas econômicos-sociais , mas só a Revolução Socialista, é a classe trabalhadora haitiana no controle do seu destino.