A Fundação de Apoio à Escola Técnica – FAETEC – do Rio de Janeiro vem sendo atacada desde que a crise do estado estourou, em 2015. A começar, a própria Secretaria de Ciência e Tecnologia, da qual a fundação faz parte, foi incorporada a outras pastas sob o pretexto de fazer economia.
A UERJ e a UEZO também integram a antiga secretaria. O desmonte destas instituições é mais do que visível, comprometendo a função social de atender universitários da Zona Oeste, com ensino noturno, cotas e tudo que sabemos ser marca destas universidades.
A FAETEC, uma rede composta por todos os segmentos da educação, da creche ao superior, passando por educação especial e cursos profissionalizantes, é moeda de troca barata do governo. Suas escolas de ensino médio técnico integrado, maior segmento da rede, penam com precárias condições físicas, necessitando de obras estruturais urgentes. As ocupações estudantis de 2016 elaboraram um dossiê com as necessidades das escolas, mas apenas parte das reivindicações foi atendida até hoje.
A falta de recursos destinados à Faetec persistiu e, em 2017, boa parte do ano letivo ocorreu com rodízio de aulas por falta de refeições para alunos e servidores. Além disso, os servidores chegaram a ter dois meses de atraso nos salários. A greve, deflagrada por falta de condições de se chegar ao trabalho, até hoje é usada pelo governo como desculpa para a menor procura de estudantes pela rede.
Mas não é isso! A qualidade das refeições servidas está cada vez pior. Atum, ovo, ou salada de feijão fradinho acompanhando feijão são recorrentes no cardápio. Mas há unidades que não estão oferecendo feijão aos estudantes. Mesmo quando havia insumos para preparar os alimentos não havia funcionários para um preparo mais elaborado. O número de terceirizados diminuiu muito, a grande maioria deles tendo abandonado as empresas após muitos meses sem receber salários nos últimos anos. Não há concursos para merendeiros mais. A política neoliberal de enxugamento do Estado quer que as atividades de serviços gerais não façam mais parte do quadro de servidores.
Não há seguranças nas escolas, o número de vigias não é adequado. Não há limpeza suficiente também. Os contratos foram encerrados, mas o processo seletivo para novos contratos de professores foi anulado por motivo que ainda não foi esclarecido. Um novo concurso público chegou a ser anunciado, mas nada de concreto existe neste ponto. Assim, algumas escolas têm carência também de professores. Algumas escolas já começaram a ter alguns dias de funcionamento em um só turno por falta de almoço.
O sindicato dos profissionais da rede, Sindpefaetec, não dialoga com a categoria. Só com o governo. Por isso, os servidores ficam reféns dos reveses. Mas os estudantes têm uma organização própria, o Resiste Faetec. Conseguiram uma audiência para o dia 9 de abril na Alerj para tratar das contas da fundação. Por causa da chuva que parou a cidade, a audiência foi remarcada para o dia 16 e uma mobilização começou a ser construída em torno da data.
A Alerj então remarcou a audiência para o dia 30. Percebendo que isso seria uma manobra para desencorajar a luta e ganhar tempo com os feriados para jogar o famoso rodízio de aulas, os alunos propuseram uma paralisação das atividades no dia 16. Servidores da Escola Técnica Estadual Henrique Lage, a Faetec de Niterói e da Escola Técnica Estadual Adolpho Bloch, em São Cristóvão, participaram de assembléias com os estudantes e responsáveis em suas respectivas unidades e aprovaram a paralisação com ato na Alerj na manhã do dia 16. Alunos da Escola Estadual República, que funciona no mesmo campus da presidência da fundação, compareceram em bom número. Alguns professores de outras unidades como Iserj, Ferreira Viana e Visconde de Mauá também estiveram presentes, embora estas unidades não tenham paralisado.
Em uma rápida assembléia durante o ato, foi tirada uma comissão mista composta por dois professores, uma responsável e cinco estudantes para solicitar aos presidentes das comissões de Educação (Flavio Serafini) e Ciência e Tecnologia (Waldeck) que protocolem denúncia no Ministério Público para que este compareça à audiência do dia 30 de abril. Mas, enquanto a comissão estava na Alerj, o ato prosseguiu forte na escadaria e seguiu até o prédio da Secretaria de Ciência e Tecnologia. Usando um megafone e muita energia os estudantes anunciavam sua força de luta com músicas e as palavras de ordem NÃO TÁ NORMAL NA FAETEC!
A mobilização precisa agora crescer para que no dia da audiência o ato conte com a presença de todas as unidades. O desmonte da FAETEC atingiu a organização dos trabalhadores da instituição, mas há disposição para a luta vindo dos estudantes. A rede deve participar das atividades do SEPE no dia 24 de abril e construir a Greve da Educação no dia 15 de maio.