Por que odiamos a burguesia? E por que ela nos odeia?
A chegada do Coronavírus, um dos vírus mais mortais que a humanidade já se deparou, encontrou um mundo completamente desorganizado.
Com cidades verticalizadas onde se amontoam milhões de pessoas, pobreza extrema, altas taxas de desemprego e informalidade, caos na mobilidade, sistema de Saúde com capacidade para atender uma pequena parcela da população, ciência mercantilizada e produzindo só para o lucro de grupos capitalistas, dentre outros vários problemas.
Trazido ao país pela parcela mais rica que voltava de viagens ao exterior (o caríssimo Hospital Albert Einstein teve várias internações), logo o vírus encontrou um “terreno fértil” para se propagar, alcançando as periferias e as cidades mais pobres do país.
Tanta riqueza e não temos o necessário
A sociedade alcançou um desenvolvimento gigantesco, que permite produzir praticamente todo tipo de produto. Mas, esbarramos no fato de ser priorizado na produção aquilo que dá lucro. As necessidades humanas não são levadas em consideração.
O melhor exemplo do que significa o capitalismo é ver o seu país mais rico, Estados Unidos, mobilizar em questão de dias a sua máquina de guerra com porta-aviões, milhares de soldados, armas atômicas, bombardear países em qualquer continente, mas, não ter máscaras suficientes para médicos e enfermeiros se protegerem e não ter respiradores para preservar vidas. E muito menos um sistema de Saúde para proteger a vida de sua população.
A explicação disso é muito simples: não são lucrativos.
Com toda essa tecnologia milhares de mortes poderiam ter sido evitadas. Mas, sob o capitalismo, esse sistema social assassino, escolhem e se jogar bombas sobre as pessoas for mais lucrativo do que proteger vidas: vão ser produzidas as guerras para gastar essas bombas.
Além “dessa lógica”, ainda há as políticas implementadas pelos sucessivos governos, que aplicam fielmente os vários planos necessários para o capital: neoliberalismo, neodesenvolvimentismo, liberalismo, etc., cada um de uma maneira garantindo a lucratividade do capital. Planos que só agravam a situação contra a classe trabalhadora e da parcela mais pobres.
As medidas impostas pelos sucessivos governos neoliberais (inclusos, com as suas particularidades, governos petistas, chavistas, etc.) só pioraram esse quadro.
E desde os anos 90 aprofunda-se a entrega para iniciativa privada de serviços públicos importantes, tem-se a paulatina destruição do sistema público de Saúde com entrega da gestão de hospitais e postos de Saúde para OSs (Organizações Sociais), aprovação da EC 95 (impede aumentar os investimentos em serviços públicos), desvio de dinheiro público para o pagamento da Dívida pública (consome todos os anos quase metade do Orçamento).
Matam em nome do Capital
Para a ciência o isolamento social, nesse momento, é o melhor método para diminuir a velocidade da contaminação. Importante notar que não é para barrar o vírus, mas para controlar a contaminação, ou seja, administrar o problema e que pode salvar vidas. No entanto, como essa medida traz consequências para o lucro, a gritaria dos capitalistas logo começou. Afinal, eles sabem que sem trabalhador para ser explorado não há riqueza.
Muitos empresários, como Roberto Justus, o dono do Madero, o Veio da Havan, etc. defendem o fim do isolamento social e da quarentena e chegam a usar argumentos como o de que “o país não pode parar só porque vão morrer umas 10-12 mil pessoas”.
Bolsonaro segue nessa mesma direção, pressiona as pessoas para voltarem ao trabalho, desafia a orientação de médicos e até da OMS e coloca em risco a vida de milhões de pessoas, mesmo sabendo que maio e junho são apontados como os meses mais complicados.
E não é por desconhecimento que Bolsonaro e esses empresários pressionam para acabar com a quarentena, pois sabem que onde não foram adotadas medidas preventivas o quadro se agravou, houve descontrole do sistema de Saúde e ocorreram milhares de mortes. Estados Unidos e Itália são dois infelizes exemplos.
Para Bolsonaro e empresários o lucro está acima da vida. E para levar esse genocídio adiante colocam a economia em primeiro lugar. Não dizem abertamente que é uma economia que só favorece eles, o lucro deles, e em alguns casos fazem suas propagandas de doações para “controlar” a pandemia.
O capital é assim. A humanidade está pagando um preço alto por esse sistema dominar o mundo e, mais uma vez, está provada a sua total incapacidade de defender a vida e com dignidade.
Quais medidas possíveis?
Nós socialistas, que defendemos a Revolução como única forma de derrubar o capitalismo, apresentamos algumas propostas sob dois aspectos: Um estratégico, que é exatamente a luta revolucionária para a destruição das instituições do Estado burguês com os trabalhadores assumindo os meios de produção e direcionando todas as riquezas para o bem-estar da sociedade.
E o outro, como os capitalistas não querem abrir mão de seus privilégios, precisamos travar uma luta colossal imediatamente para que todos os recursos (públicos e privados) disponíveis sejam colocados a serviço da população contra o Coronavírus. Nesse sentido há muitas medidas econômicas que podem ser adotadas, como:
- Ampliação do auxílio emergencial, inclusive, aumentando o valor para 1,5 salário mínimo, no mínimo;
- Estabilidade no emprego e estatização das empresas que demitirem;
- Ampliação das parcelas do seguro desemprego;
- Isenção de todas as tarifas de serviços públicos (água, luz, etc.)
Além dessas medidas econômicas para garantir a subsistência da classe trabalhadora durante a pandemia, há outras medidas políticas fundamentais para enfrentar esse momento. Em textos anteriores já desenvolvemos algumas como a necessidade de estatizar hospitais e desapropriar hotéis para transformá-los em leitos hospitalares, etc.
E tem dinheiro?
O argumento apresentado é de que não há dinheiro para essas medidas. Nada mais mentiroso. Há dinheiro e muito. Segundo o site Auditoria Cidadã da Dívida há muito recurso:
- R$ 1,3 TRILHÃO na Conta Única do Tesouro;
- R$ 1,7 TRILHÃO em reservas internacionais investidos em títulos do tesouro dos Estados Unidos;
- R$ 1 TRILHÃO parados nas “Operações Compromissadas (dinheiro que o Banco Central remunera como se fosse empréstimo) “a sobra de caixa”, aquele dinheiro que os bancos não conseguiram emprestar;
Além desses valores, há ainda o pagamento da Dívida Pública que só no ano passado foi mais de R$ 1 TRILHÃO. Também é possível mais algumas centenas de bilhões de reais com medidas de taxação sobre as grandes fortunas, tributar o lucro das ações, aumentar a tributação sobre os grandes patrimônios, dentre outras. Há estudos indicando que é possível arrecadar R$ 272 bilhões por ano se essas medidas forem adotadas.
Como se vê, são medidas que mexem “com os de cima” e isso nenhum governo (menos ainda Bolsonaro) vai adotar. Então, só nos resta a luta.