A eleição presidencial é só em 2022, mas o jogo já está sendo jogado. Tanto Bolsonaro quanto a oposição burguesa estão se organizando para a disputa. Qual candidato a burguesia vai apoiar? Qual vai ser o principal candidato da oposição burguesa? E qual papel deve cumprir a esquerda socialista?
Bolsonaro é o candidato da burguesia?
A gestão de Bolsonaro conseguiu implementar as principais reivindicações da burguesia. A reforma previdenciária e o aprofundamento da reforma trabalhista, a independência do Banco Central, as medidas de favorecimento às empresas durante a pandemia e a continuidade do pagamento da dívida pública são algumas das benesses para a burguesia.
Mas, há um setor da burguesia que “perdeu a paciência” com ele porque no último período foram vários problemas como, as polêmicas com a China (a principal compradora do agronegócio brasileiro) e agora a eleição de Biden nos Estados Unidos, ameaçando os negócios da burguesia exportadora.
Mas não é só com a burguesia que Bolsonaro se desgasta. A gestão da pandemia é um elemento de desgaste, primeiro negando a gravidade e depois sabotando a aquisição da vacina. Isso levou a alguns setores da direita a se afastaram e inclusive defendem o impeachment.
A proximidade de setores das Forças Armadas com o governo também sofre desgaste, primeiro pela vinculação com as trapalhadas do governo e depois com a pressão por conta de compras superfaturadas efetuadas pelos militares e, mais recentemente pela declaração do ex-comandante do exército, sobre a pressão das Forças Armadas sobre o STF por ocasião da prisão de Lula.
O Judiciário também foi obrigado a manter certo distanciamento de Bolsonaro, principalmente por conta do envolvimento de Flávio Bolsonaro com rachadinhas, lavagem de dinheiro, etc.
A eleição para as mesas da Câmara e do Senado é uma vitória de Bolsonaro, pois ajuda evitar o andamento do impeachment, mas por si não é suficiente para assegurar sua reeleição.
Como se vê, Bolsonaro tem muitas contradições a serem superadas.
Os partidos burgueses mexem as primeiras pedras
O debate eleitoral de 2022 está em pleno vapor. Vários candidatos colocando em prática seus planos. Dória, Ciro Gomes, Luciano Huck, Lula (e Haddad), Mandetta e, obviamente Bolsonaro, que buscará a reeleição, já demarcaram o terreno. Moro é outro pretendente, mas o escândalo da “vaza jato” e a polêmica defendendo empreiteiras afastou apoiadores.
Tudo é muito inicial, mas o primeiro objetivo deles é ganhar o apoio da burguesia, mostrando que irão dar andamento a esse projeto econômico. Também devemos considerar que esses candidatos disputam apenas uma vaga, pois o mais provável é que Bolsonaro chegue ao segundo turno. Sem falar também que há resistências dentro dos partidos, como é o caso de Dória dentro do PSDB, que ainda não conseguiu unificar o partido em torno do seu nome.
O mais importante do apoio da burguesia não são os votos, pois os burgueses não têm voto suficiente nem para eleger um deputado, visto que são a classe minoritária na sociedade. O apoio desse setor significa mais espaço na mídia e mais financiamento na campanha.
A razão de se anteciparem nessa disputa está relacionado à possibilidade de aprofundamento da crise social e haver uma rebelião popular contra Bolsonaro. Pelo tamanho das taxas de desemprego, o aumento da fome, o empobrecimento mesmo de quem tem um trabalho, juntos, são um caldeirão prestes a explodir.
De qualquer forma, o mais importante é entender que já estão em disputa pela consciência das pessoas e se colocando como alternativa.
A questão da alternativa de esquerda
A esquerda socialista está numa encruzilhada. Se de um lado, corretamente, não pode ser eleitoreira e lançar candidatura, por outro lado precisa entrar nesse debate, mostrar que tem um projeto político para o país. É disputar o rumo do país, pois a depender da oposição burguesa (do PT ao PSDB) nada vai mudar em favor da classe trabalhadora.
Nós da Emancipação Socialista, defendemos a necessidade da esquerda socialista se unir em torno desse projeto e levar esse debate para a classe trabalhadora, apresentar as propostas sobre os principais problemas sociais do país. E são muitos os problemas: desemprego, precarização do trabalho, falta de serviço público, violência, corrupção, etc.
É isso que chamamos de Movimento Político de Trabalhadores, uma iniciativa da esquerda socialista que contribua para a classe trabalhadora se colocar como sujeito político no processo da luta de classes e saia da área de influência da burguesia. Esse debate não é para eleger mais candidatos, mas de reconquistar a confiança dos explorados e oprimidos, ainda que previamente não se deva descartar candidaturas ligadas a esse movimento.
Também sabemos das dificuldades por várias razões. A esquerda está marginalizada socialmente, fragmentada, distante e muito fragilizada perante a classe. Politicamente também há problemas, como a ilusão que alguns grupos ainda nutrem no PT e o desvio eleitoreiro, quando toda ação é feita pensando em ganhos eleitorais.
Mas, a realidade está posta. Ou a esquerda socialista enfrenta essa situação ou a direita continuará avançando e conquistando terreno.