Um 8 de março com mais problemas para a mulher da classe trabalhadora, com maior necessidade de resistência e de avançar nas lutas.
É isso, esse Dia Internacional de Luta da Mulher, além de carregar os graves problemas da superexploração e da intensificação da opressão impostos cruelmente pelo capitalismo ainda contou com a pandemia, suas consequências e com o cotidiano aumento no seu número de mortxs e contaminadxs.
Pandemia e o Aumento do Desemprego
Conforme a Comissão Econômica Para América Latina (cepal.org – fev. de 2021), a crise gerada pela pandemia já demonstra para as mulheres um impacto negativo sobre as condições de trabalho e emprego que representa um retrocesso de mais de uma década em termos de participação no mercado de trabalho.
Além disso, na região, as mulheres latino-americanas respondem por uma média de 15,2% do desemprego. E são parte crucial da linha de frente no atendimento à pandemia. Representam 73,2% de trabalhadorxs na Saúde.
No Brasil, a diferença da taxa de participação da mulher no mercado de trabalho em relação à taxa de participação do homem vinha diminuindo. No entanto, além da crise econômica e social, com a pandemia voltou a crescer. De acordo com os dados do IBGE, Pnad Covid-19, nov. de 2020, a taxa já chegava a 19,7 pontos.
Pandemia e o Aumento da Violência
Durante a pandemia mais mulheres têm sido agredidas e assassinadas. Foram registradas mais de 105 mil denúncias somente nas plataformas Disque 100 e Ligue 180, de acordo com o próprio relatório do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, mar. 2021, que costumeiramente traz números inferiores.
Uma mulher é morta a cada 09 horas durante a pandemia, o aumento do feminicídio foi de 1,9%. Dos homicídios dolosos de 1,5%. E os casos de violência doméstica subiram 3,8% nas chamadas da plataforma 190 que registraram mais de 147 mil, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2020.
O Dossiê (Antra – 29 jan.) sobre a violência contra a comunidade Trans registrou aumento de 43,5% de mortes de mulheres trans e travestis durante esse último ano.
Considerando ainda nesses dados o fato de não registrarem todo o período de pandemia, todos os estados do país e todos os tipos de violência contra a mulher.
Pandemia escancara a barbárie da luta pela sobrevivência
Esse período de pandemia e toda a sua crueldade, além de aprofundar as várias formas de desigualdades, escancarou a barbárie que é o cotidiano da classe trabalhadora na luta pela sobrevivência.
Desde o socorro às vítimas nos hospitais públicos com a falta de leitos, a insuficiência do transporte público, o papel da escola como “lugar de deixar” até ao desrespeito dos capitalistas com a vida da classe que produz toda a riqueza social, demonstram essa barbárie.
Mesmo diante do aumento diário do número de mortes e de contaminados por Covid-19, a burguesia junto com seus governos seguiram o desrespeitoso ritmo de aumento ou manutenção dos lucros enquanto insistiram em manter os serviços públicos sem os investimentos necessários para situação tão caótica.
A luta cotidiana da classe trabalhadora pela sobrevivência passou a carregar lutas por: um teste; vaga em um hospital ou em uma UTI; um transporte público sem lotação; uma escolas em condição de receber cada criança e jovem e por compreender o isolamento social.
E demonstrou a necessidade de transformação radical dessa cruel realidade: por um tipo de produção em que a vida esteja em primeiro lugar não o lucro; em que seja possibilitada urgentemente a vacinação de cada uma e cada um; que radicalizemos no isolamento total (lockdown) e em colocar para fora todo o governo Bolsonaro juntamente e obviamente com Damares.
Damares juntamente com Bolsonaro negam a sobrevivência
O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos seguiu a mesma política do governo Bolsonaro mesmo durante esse período da pandemia. Poderíamos trazer aqui muitos dados que expressam nitidamente o descaso desse governo com a vida da mulher trabalhadora, mas, observamos os números de “investimentos” e “gastos” desse ministério:
- Foi utilizado pouco mais da metade do Orçamento total de 2020: apenas 53% do valor;
- Para os conselhos direcionados à população negra ou indígena o valor utilizado foi de R$ 65 mil e o previsto eram R$ 335 mil.
- Não foi utilizado nenhum centavo dos R$ 800 mil previstos no Orçamento para a população LGBT+
- A Casa da Mulher Brasileira, projeto que pretendia acolher mulheres em situação de violência, com prestação de atendimento psicológico e até jurídico, recebeu previsão orçamentária de 61 milhões mas, o ministério utilizou apenas R$ 66 mil;
- Os serviços de atendimento de denúncia de violência Ligue 180 e Disque 100 tinham Orçamento previsto de R$ 61 milhões e só foram utilizados R$ 19 milhões.
A luta cotidiana registrada nos atos e manifestações
O fato de a pandemia iniciar o ano de 2021 de forma triste e preocupante forçou um número reduzido de atos e manifestações feministas pelo Brasil no 08 de março, no entanto, as poucas ações diretas ainda tomaram ruas e as reuniões “online” por todo o país seguiram no sentido de debater a grave realidade e a urgente necessidade do “Fora Bolsonaro” se concretizar.
Além de toda a situação de pandemia, a crueldade do dia-a-dia da mulher que precisa trabalhar para sobreviver denuncia também, tanto no governo federal quanto nos estaduais, a NÃO aplicação das políticas públicas que poderiam favorecer a sobrevivência e a vida dessa mulher.
Em grandes estados como São Paulo, mesmo com a imediata identificação do aumento de casos de violência doméstica logo nos primeiros meses da pandemia, nenhum levantamento sobre os motivos e as consequências foi realizado a ponto de aumentar os serviços de acolhimento e socorro que prevenissem ou evitassem o desfechos de feminicídio aumentados durante 2020 e de estupros mesmo de crianças logo no início de 2021. Reuniões estaduais e regionais demonstraram a indignação com tudo isso, pequenos atos, carreatas, lives por horas e ações diretas com isolamento social contribuíram para unidade de ação em várias partes do estado do dia 06 ao 08 de março. E a luta continua para vivas, retornarmos às ruas.
No Rio de Janeiro, houve carreata no dia 7 de março. Duas possibilidades de percurso foram discutidas, para Madureira ou para o Aterro do Flamengo. Foi escolhida a última, para a Zona Sul, região mais nobre da cidade e mais hostil à ação. Os números da Covid-19 pioraram nos dias próximos ao evento e mesmo assim um bom número de carros compareceu. No carro de som, faixas traziam a indignação pelos três anos sem saber quem matou a vereadora Marielle Franco, pelo Fora Bolsonaro e por Vacina Já. No dia 8, em alguns bairros, ocorreram atividades presenciais pela manhã, ainda que pequenas, mas, muito importantes para a luta.
Seguimos nos organizando, tomando todos os cuidados pela sobrevivência, lutando por vida e com dignidade. Não aceitamos e lutamos contra qualquer forma opressão, exploração, machismo, racismo, homofobia, qualquer tipo de violência contra a mulher e essa luta é anticapitalista.
Contudo, diante dessa realidade de pandemia, com a Covid-19 invadindo lares, escolas, fábricas e demais locais de trabalho entendemos que os trágicos números de mulheres, que precisam trabalhar para sobreviver, mortas e contaminadas também NÃO param de crescer e exigem uma maior resistência nossa e a radicalização da classe trabalhadora de conjunto nas lutas.
Temos que estancar as mortes e contaminações! Nossas vidas importam!
- Exigimos testes e vacinações já, para toda a população trabalhadora e desempregada. Tem dinheiro público e tecnologia para isso! Quebrar as patentes para produzir vacinas suficientes e urgente!
- Contra o aumento da fome. Auxílio emergencial suficiente para nos alimentar, pagar as contas e ter o direito ao isolamento social!
- Mais leitos públicos emergenciais nos hospitais e UTIs! Mais verbas públicas para todo o SUS! Quebra de patente emergenciais!
- Fora Bolsonaro, todos os governos estaduais ou locais que mantêm as mortes e construamos, nós, os comitês necessários para mantermos a vida!