Querido Freire, caro professor, que no ato de lecionar
Construiu um legado que nos ajudasse a emancipar
Mentes, corações, almas…
expropriadas por projetos em capitalizar
O lucro, a economia acima da vida, a manutenção de fortunas e privilégios às custas do explorar.
Lá atrás, enquanto os barões açoitavam corpos negros para da cana de açúcar lucrar,
Lá atrás, quando de sol a sol a chibata não cansava de espancar, torturar, matar,
Os quilombos surgiam como resistência de luta, enfrentamento para revolucionar.
Quando às máquinas chegaram e os capitalistas as fábricas montar
Trabalhadores e trabalhadoras começaram a também se organizar.
Não era mais possível suportar
12, 14, 16, 18 horas a trabalhar
Homens, mulheres, crianças e idosos que tinham que suar
Para no fim do dia, um pouco de comida desfrutar.
A história segue como um carro a se movimentar
Trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade excluídos de estudar
Pois conhecimento liberta, organiza e ajuda a revolucionar.
Uma educação crítica, contextualizada para emancipar
Era distante, verbo intransitivo da camada popular
Refém de uma hegemonia que insiste em dominar
Regorgitando ilusões e sonhos burgueses
Como projeto de vida a se conquistar.
Mas há de se questionar: que diacho de ilusão é essa que nos vendem em que sequer temos terra para arar? Para plantar?
Que sonhos são esses que nos vendem em que sequer temos casa para morar? Em que sequer temos teto e cama para deitar?
Onde após um dia duro de trabalho, sequer temos comida suficiente para nós alimentar?
Em que nos privam da saúde para nos cuidar
Onde nos privam das letras para nossos nomes rabiscar
Onde nos privam dos livros para nossas mentes emancipar?
É preciso revolucionar…
Em sua jornada, nos lembrastes da importância de estudar Marx
Para compreender o mundo e orientar
A emancipação humana.
Urge revolucionar…
Ah, caro Freire, a conjuntura está difícil de aguentar.
Aqui estão indo para as ruas 400 mil mortes celebrar.
Sim, nas ruas que sempre foram o nosso lugar.
Estão gritando aos quatro cantos que filho de pedreiro não pode estudar,
Viver até os cem anos então, nem pensar.
Quando a desesperança bate,
E vem a vontade de chorar,
Uma voz potente lá do fundo ecoa:
“Prometemos as mãos de ninguém soltar”.
Precisamos a linguagem popular voltar a falar.
Sair da zona de conforto do academicismo e pedagogizar.
Pedagogizar como propusestes a nos ensinar.
Porque teoria no papel sem práxis,
Serve apenas para as traças se alimentar.
Há de se esperançar e lutar.
Há de lutar e esperançar.
Precisamos urgentemente aglutinar
Forças para esse sistema derrubar.
Não dá mais para dependermos das eleições
Para as nossas vidas mudar.
Não dá mais para acreditar na disputa institucional como via única da sociedade transformar
As transformações estruturais necessárias para garantir bem estar social para nosso povo florescerá
Da nossa luta nas ruas
Onde a classe trabalhadora, movimentos sociais e populares darão as mãos suas
Puras, sujas, nuas
Erguendo foices, martelos
Capacetes e rastelos
Entoando pão, terra, justiça social
Expropriando as riquezas de quem goza em nos pisar para que na mesa esteja seu caviar.
Estaremos em pé vítimas da fome,
Do genocídio negro e indigena, da homofobia, transfobia, do racismo,
Marcharemos juntos, ó vítimas do capitalismo
E derrubaremos todo esse judiciário e legislativo
Os gerentes do genocídio
Nossos gritos irão de ecoar
Todas as cercas iremos derrubar
Empresários de imóveis não mais os utilizarão para especular
Haverá moradias para morar
O Socialismo iremos lapidar
No constante processo de nos revolucionar.
Nossa educação, será a popular
O projeto perene
De emancipação de Paulo Freire
Será um dos nortes a nos guiar.”
Emerson Bellini – 08/05/21