Temos tratado, nos últimos textos sobre Educação, do avanço da Reforma do Ensino Médio (desde a Ocupação de Escolas em 2015/16) e a rapidez de sua imposição com o Novo Ensino Médio, especialmente em São Paulo, utilizado para aprofundar a privatização nas escolas das redes públicas (nos níveis nacional, estadual e municipal) e aumentar a “doutrinação” do ensino e da aprendizagem Brasil afora.
Governo de Dória também não é bom exemplo para ninguém
Agindo exatamente como age o governo de Bolsonaro, Dória impõe sem diálogo uma das maiores mudanças dos últimos anos na rede pública estadual e que afeta diretamente o Ensino Médio com duras repercussões também no Ensino Infantil, Fundamental e Universitário.
Essas mudanças trazem uma única Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para todos os níveis de ensino; as mesmas habilidades e competências determinadas para todas e todos os estudantes; a não obrigatoriedade da aprendizagem de matérias/disciplinas relevantes para a continuidade dos estudos universitários (obrigatórias somente Português e Matemática); o não fortalecimento do ensino coletivo de matérias/interdisciplinaridade (verbas e investimentos); impõem “Itinerários Formativos” que separam estudantes e já demonstram o aumento da desigualdade entre as escolas, etc.
Com isso, os estudantes estão sendo radicalmente afetados: 1) com a eliminação de matérias/disciplinas; 2) com a formação crítica sendo secundarizada e/ou substituída por uma formação “tecnicista”; 3) com a chamada formação profissionalizante, na verdade, simplificada (Novotec Integrado ou Expresso), que possui carga horária reduzida e sem diploma técnico, exigindo complementação de horas/aula; 4) com a possibilidade de ser transferido compulsoriamente de escola devido ao Itinerário; 5) com o fechamento de salas de aula em várias escolas; 6) com o fechamento do noturno em muitas escolas; etc.
Os Professores estão sendo radicalmente afetados: 1) com a eliminação de suas matérias/disciplinas ou redução de aulas; 2) perda da autonomia desde o preparo de aula (conteúdo, dinâmica, avaliação, diagnóstico, etc.), que é ditado por um “Centro de Mídias”; 3) com pouca ou nenhuma participação na “escolha dos Itinerários” da escola; 4) sem participação didática/pedagógica na formulação dessas mudanças; 5) com o desemprego iminente; 6) com a falta de diálogo sobre o próximo período das escolas públicas e da Educação no estado de São Paulo; etc.
Como essas mudanças já estão ocorrendo no cotidiano das escolas em São Paulo
Com a pandemia, o governo Dória agilizou, a seu modo, a imposição do Novo Ensino Médio com um “Currículo Paulista”, um Centro de Mídias, um dito “ensino híbrido”, etc. nas escolas públicas:
1) Para vários estudantes foram oferecidos um chip com 3 gigas mensais de internet. E para muitos Professores, o chip com 5 gigas mensais e a facilitação para compra de um notebook; 2) Com isso e com o retorno presencial às escolas (ainda no 1º semestre e sem as devidas imunizações) passaram a ser exigidas tanto as aulas presenciais quanto as on-line e com mais “tarefas”; 3) Como o material é insuficiente e as condições de trabalho também, os estudantes são obrigados a frequentar também no contraturno e os Professores a atender fora do horário de trabalho; 4) Aumentaram as cobranças burocráticas, que geralmente não contribuem para o didático/pedagógico, como relatórios e avaliações externas sem os devidos acompanhamentos de professores e estudantes; 5) Tem sido insistido para que Professores assumam mais uma função, vulgo “busca ativa”, em que precisa localizar a/o responsável pelo estudante em situação de evasão escolar, o que tem servido para assediar Professores e colocá-los em situações constrangedoras; 6) A rematrícula, especialmente para o Ensino Médio, foi antecipada já considerando os Itinerários Formativos mesmo sem a maioria dos estudantes entenderem o que é, como será e as consequências para o “aprofundamento” ou continuidade dos estudos, ENEM, vestibulares, etc.; 7) Com um prazo bastante curto, pouca divulgação e de forma bem burocrática para se inscrever, foi oferecida uma “Bolsa de Estudo” aos estudantes do Ensino Médio para o próximo ano. Certamente forçará sua utilização na completação dos estudos pré-técnicos em outros locais ou nos cursos (de “escolinhas” particulares) que substituirão matérias/disciplinas da Formação Geral; 8) Em algumas escolas estão sendo recebidas as televisões para que as aulas do Centro de Mídias, pouco didáticas ou “bem fora” da realidade escolar, se tornem o centro em salas de aulas lotadas no primeiro ano e esvaziadas no terceiro ano.
Frear o Novo Ensino Médio em São Paulo e Reverter a Reforma do Ensino Médio!
Enquanto tudo isso ocorre nas escolas públicas, as particulares seguem a seu próprio ritmo. E enquanto Dória corre para mostrar serviço, infelizmente, nem movimento estudantil e nem sindical enfrentam essas mudanças impostas pela Reforma do Ensino do Médio, no sentido de frear ou reverter sem que ocorra o devido diálogo entre professores, estudantes e comunidade escolar.
Como dissemos, essa rapidez em adaptar e impor um Novo Ensino Médio, especialmente em São Paulo, está a serviço de: transferir a verba da Educação pública para escolas particulares, institutos, fundações, etc. (mercado da Educação) e para isso reduz horas e a qualidade da Formação Geral nas escolas públicas; aumentar a “doutrinação” e o controle do ensino e da aprendizagem com currículo comum, conteúdos, métodos, avaliações, etc. pré-determinados para “uniformizar” capacidades, diversidades e reações de jovens estudantes da classe trabalhadora, desempregados e sem perspectivas ou “projeto de vida”.
Não podemos esperar a falta de turmas e a atribuição de aulas para a organização de Professores e estudantes contra o Novo Ensino Médio em defesa da Educação pública, gratuita, democrática, laica, de qualidade, com um “projeto educacional da classe trabalhadora” que garanta o direito ao conhecimento e à Formação Geral.
Fora Bolsonaro, Dória e todos os governos que impõem o projeto educacional do capital!