Nas últimas semanas, têm sido especulados vários pretendentes a vice-presidente da República para composição com Lula nas eleições de 2022: Luíza Trajano, Rodrigo Pacheco e, até o momento, Geraldo Alckmin.
Na sequência, surgiram várias reações críticas e justificativas. A principal tem como argumento o momento político com a necessidade de derrotar a “ameaça fascista” com a união de todos que desejam manter os pilares da democracia liberal. Aqui analisaremos essa justificativa.
Não Vivemos Num Regime Fascista!
No Brasil, temos um governo de extrema-direita que representa um grande risco aos direitos de trabalhadores/as e às limitadas liberdades democráticas.
Bolsonaro é o “mito” de uma importante corrente de extrema-direita brasileira que adota elementos fascistas e seu governo é composto também com setores de direita não fascistas. Portanto, não definimos esse governo como “fascista” e muito menos o regime.
Caso assim fosse, as eleições já estariam sob forte ameaça e isso não se comprova na realidade. Tivemos eleições em 2020 e, certamente, teremos em 2022.
Ameaças autoritárias ou atos públicos não definem um governo e nem um regime institucional, muito menos. Isso não significa que derrotar Bolsonaro e seu governo com projeto autoritário não sejam as prioridades, são prioridades nas lutas imediatas de trabalhadores e explorados.
Como dissemos no Manifesto Conjunto Emancipação Socialista e Ofensiva Socialista “a ascensão de Bolsonaro, muitos passaram a caracterizar o governo como expressão de crescimento do fascismo no Brasil. Ainda que existam muitos elementos de aproximação (reconhecendo a existência de pequenos grupos fascistas), afirmar que o regime é fascista se trata de um equívoco e com consequências políticas importantes como o chamado à construção de ‘Frentes Amplas’ para enfrentar o tal perigo. (…) com essa mesma avaliação já justificam suas políticas de conciliação de classes, como no debate interno no PSOL, para apoiar Lula desde o 1º turno nas eleições de 2022.”
Grave Crise Social e Eleições
O cenário brasileiro caminha para o aprofundamento da crise social, a maior em muitos anos. A nova face eleitoreira do ‘Auxílio Brasil’ já apresenta-se paliativa e não irá conter o buraco econômico previsto para o próximo período. Neste sentido, em 2022, a grave crise social estará combinada com a disputa eleitoral. E, não está descartada, por outro lado, a possibilidade de lutas e explosões sociais apesar de canalizadas para as ações institucionais (por maior parte das lideranças do movimento social).
O desemprego; a fome; a miséria; os empregos precários e sem direitos; a falta de moradia e de serviços públicos são alguns dos graves problemas que vivemos e que não serão resolvidos por nenhum tipo de gestão do Estado sem que a classe trabalhadora de conjunto, organizada e de forma independente dê as soluções necessárias.
Frente Ampla não é o melhor para derrotar Bolsonaro
Depois de tanto tempo já deveríamos ter aprendido que em eleições nem sempre a soma de forças é um cálculo matemático simples. São inúmeros os exemplos. É um engano achar que o “golpista” inimigo de ontem pode ser o “vice ideal” de hoje.
Para alguns, o “perigo fascista” deve ser respondido com a formação de uma Frente Ampla que derrote Bolsonaro e seu governo, nas eleições de 2022. Portanto, os esforços passaram a ser os de agrupar importantes nomes da burguesia, demonstrar que será um governo de centro-direita (para continuidade do projeto econômico) e insistir nas buscas por um vice-presidente aceito pelo “mercado”.
Nesse momento de duros ataques contra a classe trabalhadora, a “brilhante” ideia da direção do PT e de Lula foi formar uma chapa com Alckmin (ex-governador de SP, do PSDB). Mesmo com o espanto de vários honestos militantes de base, nem Lula e nem PT recuaram até o momento.
Durante o governo de Alckmin foram implementadas diversas medidas contra os serviços públicos e para o aumento das privatizações, especialmente Educação e Saúde. Pretendia ser presidente e defendia “ir sangrando” o governo Dilma até 2018, mas apoiou abertamente o impeachment. Além disso, apresenta-se como parte da extrema-direita católica e membro da “Opus Dei”.
Duas vezes como vice-governador assumiu, após a morte de Mário Covas, o posto máximo paulista em 2001. E venceu as eleições para governo em 2002, 2010, 2014. Tempo mais do que suficiente para perceber que o “tucano” não gosta de pobres, como havia sugerido Lula.
Um exemplo marcante foi a invasão e destruição pela Polícia Militar da Ocupação Pinheirinho, com mais de 10 mil pessoas em São José dos Campos, em 2012. O massacre foi para resguardar o terreno de propriedade do especulador e condenado Naji Nahas, com anos de altos impostos atrasados.
O governo de Alckmin fez a típica gestão dos negócios da burguesia, privatizou serviços públicos e reprimiu movimentos sociais. Apoiar a candidatura Lula com esse vice (como querem setores ditos de esquerda) servirá para seguir com o projeto burguês de governo, confundir e continuar com as ilusões de que é possível governar em aliança com inimigos de longa data. Para muitos, seria uma espécie de fiador quando, na verdade, é ameaça constante. Necessitamos aprender com a história para que novamente não se repita como farsa ou tragédia aos trabalhadores.
A conjuntura não exige uma chapa ainda mais ampla
Os governos petistas de Lula e Dilma sustentaram como eixo a manutenção de lucros e privilégios dos ricos durante suas gestões. Com chapa ampla incorporaram setores da burguesia já nas eleições, inclusive de setores de direita, o que deixou evidente os propósitos de “Lula salvador da pátria”. E, nesse momento, insistem em estabilizar o regime político burguês e conceder “micromedidas sociais”, ou seja, mudar algumas políticas para manter os altos lucros e privilégios.
Muitas vezes, a realidade difícil, a força da direita reacionária e as dificuldades da esquerda são justificativas para a composição de coligações amplas. Nada mais falso. A formação de chapas amplas para concorrer ao governo é parte da tentativa de conciliação de classes, isto é, manter a estratégia de governar para a burguesia junto com os setores do capital, mas adotar medidas, no máximo, compensatórias para uma parcela da população.
Não se trata, portanto, de uma tática conjuntural. Mesmo em 2002, quando Lula trouxe o grande empresário José Alencar para vice e, em 2010, quando Dilma trouxe Temer para vice, não havia a “ameaça fascista”.
A construção de chapas amplas para a “esquerda eleitoreira” é uma concepção de governo e não uma tarefa necessária da atual conjuntura. Falta sinceridade no debate político ao afirmar que somente resta montar a chapa (Trajano, Pacheco, Alckmin ou outra figura semelhante) para derrotar a ameaça de Bolsonaro. Além de ser uma desculpa que esconde essa concepção política, deixa de lado todas as possíveis lutas e enfrentamentos na tomada das ruas.
Caminho para derrotar Bolsonaro?
A aposta no vale tudo eleitoral não é o caminho para derrotar o governo Bolsonaro e correntes de extrema-direita. Precisamos continuar fortemente nas mobilizações pelo FORA BOLSONARO e todo seu governo, tendo como referência as lutas chilenas recentes, por exemplo.
A crise social que deve se agudizar nos próximos meses permite que a esquerda com as organizações da classe trabalhadora e explorados imponham a nossa pauta de lutas com reivindicações pela vida, pelo fim da miséria crescente, da fome, do desemprego e da riqueza de pouquíssimos.
Somente com essa jornada de lutas e a partir de necessidades da classe trabalhadora de conjunto devemos discutir candidaturas que atendam nossas pautas e reivindicações. Assim, uma FRENTE DE ESQUERDA ANTICAPITALISTA E SOCIALISTA faz-se necessária para reunir lutadores/as de todo o país contra a extrema-direita e para constituir mecanismos que barrem o neofascismo nos locais de trabalho, moradia, estudo e nas ruas.
Nesse sentido, o Polo Socialista Revolucionário é um passo importante e que precisa ser fortalecido junto aos movimentos sociais de base e pela base (veja jornal Emancipação Socialista nº 13).