Nas últimas eleições na América Latina alguns governos eleitos se colocaram como de “Esquerda” e com isso tiverem o apoio e simpatia de muitos militantes e ativistas.
O principal elemento que permitiu esses governos serem eleitos é sem dúvida a profunda crise econômica e social que coloca milhões de pessoas no desemprego, com fome, mortes por falta de vacina, etc., situação causada pela implementação do neoliberalismo no Continente.
Chile
Esse país passou por manifestações gigantescas, milhões de jovens e trabalhadores saíram pelas ruas do país em protestos radicais que questionavam as estruturas de poder chilenas. Mas, as insatisfações populares foram canalizadas pelas direções e setores da burguesia para saídas institucionais, como a Assembleia Constituinte e depois as eleições, interrompendo assim um processo que tinha forças para construir formas de organização e poder popular.
A derrota eleitoral da extrema direita chilena foi muito importante. Gabriel Boric foi eleito prometendo Previdência, Saúde e Educação públicas e maior participação do Estado para assegurar o bem-estar social do povo. No entanto, já afirmou que pretende ser o presidente de “todos os chilenos” (o que inclui os ricos…), uma contradição com as promessas de campanha de que governaria para os pobres.
Peru
Pedro Castillo, embora tenha sido a principal liderança da greve da Educação em 2017, não tomou nenhuma medida a favor da classe trabalhadora, pelo contrário, manteve intacta a estrutura econômica do país. Os problemas sociais, como o desemprego, a violência e a corrupção continuam intactos. O latifúndio mantém seu poder no campo e a reforma agrária não andou um centímetro.
Castillo não está disposto a convocar uma nova Assembleia Constituinte e revogar a Constituição de 1993 que o direitista Fujimori usou para retirar direitos históricos do povo chileno. Enquanto isso a direita vai inviabilizando seu governo. Além disso questões fundamentais para as mulheres como a legalização do aborto e o reconhecimento dos direitos das minorias sexuais sofrem forte oposição de Pedro Castillo.
Bolívia
Luis Arce venceu em primeiro turno com mais de 55% dos votos. Ainda que, quando Ministro da Economia do governo Evo Morales, tenha adotado medidas de fortalecimento do mercado interno, industrialização dos recursos naturais e nacionalização de empresas que haviam sido privatizadas, agora eleito insiste na ideia de “um grande pacto social entre partidos, trabalhadores e empresariado boliviano”. Nem é preciso dizer que, como sempre acontece nesses pactos, os trabalhadores vão levar a pior.
Venezuela
Está sob governos chavistas desde 1999. Nos primeiros anos, graças ao alto preço do petróleo no mercado mundial, Chavez destinou uma pequena parte desses recursos para áreas sociais, mas após a crise econômica a classe trabalhadora foi quem sofreu com seus efeitos. Políticos, militares e empresários continuaram com seus privilégios.
Defensores do “socialismo do século XXI”, nunca adotaram medidas de estatização da economia, perseguiram militantes de esquerda e entregou o controle da PDVSA (petroleira venezuelana) aos militares. O enfrentamento com o imperialismo ocorre a partir de concepções de nacionalismo burguês, ou seja, de preservar os interesses da burguesia venezuelana e não das necessidades do povo.
Por essas razões não reconhecemos os governos chavistas como socialista.
Honduras,
Xiomara Castro de Zalaya é a primeira presidenta do país, com promessas de um “socialismo democrático”.
A pobreza atinge 71% da população, uma das maiores taxas de homicídio do mundo e quase 10 bilhões de dólares de Dívida Externa (que causa mais problemas sociais), mas a primeira declaração de Xiomara foi “Vou convocar um diálogo com todos os setores da sociedade hondurenha para que possamos usar posições comuns e formar as bases mínimas para um próximo governo”, dando pistas de que seu governo não vai enfrentar as causas estruturais da crise social hondurenha”. (bbc notícias) um sinal de que não enfrentará os interesses da oligarquia que domina Honduras há décadas e nem o imperialismo que atua livremente na América Central.
Nicarágua
Daniel Ortega, dirigente da importante Revolução Nicaraguense de 1979, exerce um governo com várias medidas de repressão contra a esquerda (inclusive dirigentes da Revolução) e contra o povo que protestou contra a Reforma da Previdência. Há várias denúncias de prisões, torturas, execuções de manifestantes e de pessoas “desaparecidas”. Também estreitou os laços comerciais com os Estados Unidos com um Tratado de Livre Comércio entre os dois países e vários benefícios fiscais para empresas se instalarem no país.
México
López Obrador foi outro eleito que deu esperanças para muitos ativistas, mas também não adotou medidas em favor do povo chileno, a não ser coisas muito pontuais, como diminuir seu salário em 60%, aumento do salário-mínimo em 16% e algumas concessões para os servidores públicos. Os criminosos e o tráfico de droga continuam impunes, mantém-se a repressão contra imigrantes dos países vizinhos que tentam chegar aos Estados Unidos. E as empresas estadunidenses exploram livremente trabalhadores mexicanos no norte do país. Bases do acordo com a direita do país para manter a governabilidade.
Um problema: as ilusões eleitorais
Esse breve levantamento tem o objetivo de mostrar que esses governos que se colocam de esquerda e até socialistas aplicam medidas duras contra a classe trabalhadora e, na prática, reproduzem a mesma política econômica, favorecendo os interesses dos empresários de cada país e do imperialismo.
Um problema que existe em praticamente todos os países da América latina é o crescimento eleitoral da extrema-direita e até ameaças de golpes, mas, no lugar de mobilizar o povo para enfrentar essas ameaças, esses governos preferem alianças com a “direita clássica” e setores da burguesia e nesse acordo envolve garantir a lucratividade da burguesia e assim os graves problemas sociais continuam.
São por essas razões que não temos confiança nesses governos de “esquerda”, pois em nenhum deles houve avanço significativo para a classe trabalhadora. Só a Revolução, feita pela classe trabalhadora, pode chegar ao socialismo, não há atalho.