“Faz escuro, mas eu canto”…
O poeta amazonense Thiago de Mello faleceu no dia 14 de janeiro, aos 95 anos. Natural de um estado duramente castigado pela COVID-19 e pela política criminosa e mentirosa dos governos federal, estadual e municipais, foi um poeta que, ao contrário, cantou a vida, a verdade e a liberdade. Seu poema mais famoso, “Os Estatutos do Homem (Ato Institucional Permanente) – A Carlos Heitor Cony”, foi uma resposta ao AI-5.
E em “Madrugada Camponesa”, ele escreveu o seu verso mais famoso: “Faz escuro, mas eu canto…”, uma alusão à noite que se abateu no país com a ditadura militar. Foi preso pelo regime militar e exilado primeiramente no Chile, onde conheceu Pablo Neruda, seu amigo e colaborador. Depois do Golpe de Pinochet em 1973, se exilou na Argentina e na Europa e passou a ser colaborador da revista Versus, uma das mais importantes publicações da imprensa alternativa, na década de 1970.
Retornando do exílio, Thiago voltou a morar no seu estado natal, onde escreveu vários livros em homenagem ao mesmo. Junto com Márcio de Souza (outro colaborador de Versus) foram grandes expoentes da literatura manauara, cantando a aldeia como poucos fizeram.
“A carne mais barata do mercado é a carne negra…”
Ao mesmo tempo em que na imbecilidade reinante que assola o país, uma concorrente negra disse, no BBB22, que os negros vieram escravos para o Brasil “porque eram fortes”, Elza Soares cantora e sambista negra veio a falecer, aos 91 anos, em 20 de janeiro. Dramaticamente, no mesmo dia em que seu companheiro por mais de uma década e com quem viveu uma relação conturbada, o craque Mané Garrincha, havia falecido há 39 anos.
Antes que se procure descaracterizar a obra musical de Elza – procurando mostrá-la mais como uma cantora da globalizada “World Music”, como tentou fazer o Jornal Nacional – é preciso afirmar que foi uma cantora de samba e seus maiores sucessos foram sambas como Se acaso você chegasse, Mulata Assanhada e Salve a Mocidade.
A cantora também puxou o samba campeão do Salgueiro na avenida, em 1969. Assim como foi a intérprete da sua escola Mocidade Independente de 1973 a 77 e a responsável pelo lançamento de novos nomes do samba como Paulinho da Viola e Jorge Aragão.
Oriunda da comunidade da Vila Vintém, onde perdeu dois filhos por inanição, Elza sabia do que estava falando quando gravou A Carne (“A carne mais barata do mercado é a carne negra”). Uma afirmação consciente do racismo estrutural no Brasil e para quais interesses capitalistas serve. Assim, nem mesmo a imbecilidade de um Reality Show vai conseguir abafar.
Sociedade Anônima do Futebol (SAF) é I$$O aí: a pá de cal na paixão do brasileiro
O Cruzeiro foi o primeiro grande clube brasileiro a aderir a SAF. Teve 90% de suas ações compradas por um grupo de investidores, com Ronaldo “Fenômeno” à frente. O Botafogo seguiu os passos do clube mineiro e também aderiu a SAF. E o Vasco da Gama caminha a passos largos também para aderir ao mesmo modelo.
As primeiras presas da chamada SAF são clubes grandes que se encontram em situação difícil: Cruzeiro e Vasco seguem na segunda divisão brasileira e o Botafogo andou disputando o acesso ano passado.
Cria-se no torcedor falsas ilusões de profissionalismo e de que os times vão montar elencos competitivos e aptos a disputar grandes títulos. Ledo engano. O que valerá mesmo é o interesse do investidor e não a opinião do torcedor, que passou a ser um detalhe. Um exemplo disso já ocorreu no Cruzeiro: o goleiro ídolo da torcida mineira, Fábio, foi descartado e impedido de completar mil partidas pelo time .
A imprensa vendida saudou a medida como demonstração de profissionalismo. Mas, com as SAF’s tudo pode ocorrer, até fusões de clubes arquirrivais, se for interessante aos investidores. É só acompanhar.
Negacionismo I
A atriz Elizângela esteve internada em estado grave, em 19 de janeiro, em um hospital público de Guapimirim-RJ, vítima das sequelas da COVID-19. Segundo os médicos, a atriz é uma paciente rebelde. Exemplo dissso é que nas suas redes sociais tem postado mensagens com teor negacionista e comparou a aplicação da vacina ao estupro se utilizando indevidamente da frase “no meu corpo, as minhas regras”. Como se a humanidade fosse composta de eremitas, um isolado do outro e não vivêssemos em sociedade! Bom, o resultado taí, provando, mais uma vez, que aqueles que semeiam ventos, colhem tempestades.
Negacionismo II
O tenista Novak Djokovic, sérvio, foi impedido de participar do Aberto da Austrália, que juntamente com os torneios de Wimbledon, Roland Garros e US Open dos EUA são os torneios anuais mais importantes do tênis, constituindo o chamado Grand Slam. Mais do que isso: Djokovic teve o visto revogado pelo governo australiano e foi deportado. Antes, para enganar as autoridades australianas o tenista, que se recusou a se vacinar por convicção, chegou a esconder uma infecção anterior por coronavírus. Mostrando como se comportam as celebridades do mundo artístico e esportivo, que parecem achar que o mundo gira ao seu redor, o tenista sérvio saiu com a imagem bastante arranhada do episódio.